DISCOS
The Scientists
Sedition
· 21 Mai 2007 · 08:00 ·
The Scientists
Sedition
2007
ATP


Sítios oficiais:
- ATP
The Scientists
Sedition
2007
ATP


Sítios oficiais:
- ATP
Com a inconsciência de quem só décadas mais tarde vê a sua influência ser totalmente reconhecida, os Scientists acrescentaram acidentalmente um cunho significante ao rock imundamente ensopado de fuzz que emergiu a partir de Seattle (esse que é vulgarmente designado como grunge por imposição dos catálogos de roupa). Faz, por isso, todo o sentido que os Mudhoney tenham retribuído o favor ao apadrinharem o regresso dos Scientists ao activo com o convite para actuarem numa edição do impressionante festival ATP que tinha o seu cartaz seleccionado pelos primeiros. A actuação incluída em Sedition, porém, respeita a uma primeira parte cumprida pelos Scientists num concerto dos Mudhoney e não ao momento ATP que os relançou. A verdade é que pouco importa o contexto, quando Sedition assinala todos os obrigatórios pontos elementares para que os Scientists sejam considerados visionários da indomável e electrizante estética que valeu no início da década anterior à Sub Pop na cruzada em que se viu envolvida contra o artificialismo hard rock .

Refira-se como estratégico ponto de contacto dessa relação uma compilação de nome Absolute, pedagogicamente lançada pela própria Sub Pop, que reunia a melhor colheita Scientists, além de acrescentar achas à fogueira do ano de 1991 em que o punk voltou a estalar. Sedition reincide sobre clássicos incluídos em Absolute sem os tratar como fósseis reavaliados ou vacas sagradas levadas de novo a pastar – antes destemidamente seguro de que mecanismos que não falharam há vinte e cinco anos só muito caprichosamente fracassariam actualmente. A fé abunda, por exemplo, numa “Swampland” que evidencia lodo no título e que efectivamente o espalha por meio de uma guitarra sem restrições de distorção que intensifica o até aí elegante jogo rítmico mais próximo dos Cramps. As rotações não decrescem numa “Burnout” que torna pesadas as pegadas a um baixo monstruoso que dispõe de oportunidade de empurrar de um penhasco toda a estrutura rock que vacila em “Solid Gold Hell”. Até alguma descoordenação pontual contribui para que mais genuínos se pareçam uns Scientists que, em Sedition, não só provam que a ascensão do termo grunge coincidiu com a eliminação gradual da dose de risco no rock de fuzz maciço, como também formam um manifesto em apologia da devolução desse risco ao meio hoje dominado por fenómenos britânicos sem pontinha de sal ou qualquer domínio da ciência rock.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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