DISCOS
Thomas Belhom
Cheval Oblique
· 15 Mai 2007 · 08:00 ·
Thomas Belhom
Cheval Oblique
2007
Apparent Extent / Flur
Sítios oficiais:
- Thomas Belhom
- Apparent Extent
- Flur
Cheval Oblique
2007
Apparent Extent / Flur
Sítios oficiais:
- Thomas Belhom
- Apparent Extent
- Flur
Thomas Belhom
Cheval Oblique
2007
Apparent Extent / Flur
Sítios oficiais:
- Thomas Belhom
- Apparent Extent
- Flur
Cheval Oblique
2007
Apparent Extent / Flur
Sítios oficiais:
- Thomas Belhom
- Apparent Extent
- Flur
Exultação contra-virtuosa do cinema e respectivas ambiguidades tal como filmado a partir de uma bateria magnificamente metamórfica.
A questão era colocada, com fulminante sagacidade, pelos Liars numa altura em que passavam de pretendentes a Gang of Four a mais interessantes sorumbáticos exploradores de estranheza avulsa em They Were Wrong, so We Drowned: ”If you’re a wizard, why do you have to wear glasses?”, que traduzido lê-se "Se és feiticeiro, porque motivo tens de usar óculos?. A mesma pergunta pode agora ser reformulada com vista a ser dirigida ao baterista francês Thomas Belhom: Se dominas e percebes por completo a percussão, porque raio te interessa criar mundos e cenários cinematográficos com isso?. Talvez porque a ostentação de virtuosismo encobre o factor humano ao fazer crer em seres de capacidades superiores. O Thomas Belhom que orquestra Cheval Oblique não parece interessado em surpreender alguém com a sabedoria acumulada na companhia de gente honrosa como Stuart A. Staples, David Grubbs ou Calexico, entre gravações de estúdio e digressões enquanto baterista. Parece, antes, mais aplicado em usufruir ao máximo das condições que oferece a tecnologia actual que permite a que, a partir de casa, se grave um disco de paisagens obrigatoriamente exteriores como é o caso de Cheval Oblique.
Quando se fala de “oblíquo”, é também recorrente recordar que um dia o produtor Brian Eno e o seu tutor Peter Schmidt elaboraram um instrumento de desbloqueio criativo a que deram o nome de Oblique Strategies - um conjunto de cartões onde cada um trazia inscrita uma ideia (ou dilema) propício a contrariar a estagnação. Todas as cartas são verdes e todas as vias possíveis para um Thomas Belhom que, no seu quinto disco a solo, promove a elasticidade de um corpo sonoro narrativamente ambíguo como método primordial de elaborar um cinema que cada um molda como entender. Obedece a essa ambiguidade que procura Oblique Strategies a sua quase total exclusividade instrumental, apenas violada pela voz de altifalante captada a uma padaria no interlúdio circense “Boulangerie” e pelo entusiasmo de uma criança na naturalista “Mont St. Michel”. Ambas são chamadas pontuais à realidade que se dissipa na fantasiosa névoa que ocupa o restante disco.
Cheval Oblique pode mesmo manter algum tipo de parentesco com Urban Gamelan (o nome fala por si) dos 23 Skidoo, se anularmos à equação a provocação e acidez própria do período pós-punk em que surgiu o segundo. Se quisermos, basta apontá-lo como um portal aberto para um transe obtido pela entrega incondicional aos metais de uma bateria que pode ser sofisticadamente exótica, aos órgãos que parecem conhecer os dedos de um Money Mark xamanista (escute-se “Who’s Who?”) ou a um banjo (e tema com o nome nome) que se reflecte cristalinamente numa lagoa ondulada pela tal percussão transversal.
A metáfora do lago cinemático aplica-se perfeitamente a Cheval Oblique - revelador mergulho de cabeça num espaço paradisíaco avesso a imagens concretas. Esse a que se conquista profundidade à medida que o virtuosismo é preterido em favor de um envolvente jogo de percussão que se celebra a si mesmo ao lado de um tentador colorido sonâmbulo muito Beach House. É disco para embalar a imaginação a muita gente.
Miguel ArsénioQuando se fala de “oblíquo”, é também recorrente recordar que um dia o produtor Brian Eno e o seu tutor Peter Schmidt elaboraram um instrumento de desbloqueio criativo a que deram o nome de Oblique Strategies - um conjunto de cartões onde cada um trazia inscrita uma ideia (ou dilema) propício a contrariar a estagnação. Todas as cartas são verdes e todas as vias possíveis para um Thomas Belhom que, no seu quinto disco a solo, promove a elasticidade de um corpo sonoro narrativamente ambíguo como método primordial de elaborar um cinema que cada um molda como entender. Obedece a essa ambiguidade que procura Oblique Strategies a sua quase total exclusividade instrumental, apenas violada pela voz de altifalante captada a uma padaria no interlúdio circense “Boulangerie” e pelo entusiasmo de uma criança na naturalista “Mont St. Michel”. Ambas são chamadas pontuais à realidade que se dissipa na fantasiosa névoa que ocupa o restante disco.
Cheval Oblique pode mesmo manter algum tipo de parentesco com Urban Gamelan (o nome fala por si) dos 23 Skidoo, se anularmos à equação a provocação e acidez própria do período pós-punk em que surgiu o segundo. Se quisermos, basta apontá-lo como um portal aberto para um transe obtido pela entrega incondicional aos metais de uma bateria que pode ser sofisticadamente exótica, aos órgãos que parecem conhecer os dedos de um Money Mark xamanista (escute-se “Who’s Who?”) ou a um banjo (e tema com o nome nome) que se reflecte cristalinamente numa lagoa ondulada pela tal percussão transversal.
A metáfora do lago cinemático aplica-se perfeitamente a Cheval Oblique - revelador mergulho de cabeça num espaço paradisíaco avesso a imagens concretas. Esse a que se conquista profundidade à medida que o virtuosismo é preterido em favor de um envolvente jogo de percussão que se celebra a si mesmo ao lado de um tentador colorido sonâmbulo muito Beach House. É disco para embalar a imaginação a muita gente.
migarsenio@yahoo.com
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