Na demanda que me leva em busca do disco perfeito de electro-acústica japonesa, pareço encontrar-me amaldiçoado pelo mesmo efeito cíclico que assombra Bill Murray em O Feitiço do Tempo, em que o actor que actualmente personifica a coolness interpreta um insuportável meteorologista que se vê obrigado a viver o pior dia da sua vida repetidamente e um sem número de vezes que não sabe ao certo onde terminarão. Não significa isso que a tal electro-acústica japonesa me arruíne os nervos pelas semelhanças mantidas entre os pares, mas sabe-se que a simpatia e boas intenções não bastam quando um disco aspira a marcar o seu espaço e, posteriormente, a avançar no tempo através de sucessivas escutas – sem que isso provoque o mesmo efeito irritante da toupeira que saía ou não da toca, determinando a previsão meteorológica em O Feitiço do Tempo.

À semelhança dos discos que pontuam a linhagem em que se insere, Diario é um daqueles bonsais frágeis que evidencia rotineiro aprumo e dedicação por parte do seu cultivador. Enquadra-se neste posto Daisuke Miyatani (também conhecido por Diskm) que, segunda consta dos escassos perfis que lhe são dedicados, compõe música conforme a inspiração que lhe oferece o dia-a-dia. Evidentemente, ou não fosse Daisuke um daqueles japoneses típicos de máquina fotográfica topo-de-gama ao peito e tendência natural para captar as manifestações à medida que estas desabrocham sem ser provocadas.

Enfim, existe por aqui um arquivista com tendência para filtrar as maravilhas da natureza em música correspondentemente estival, alguém que, numa mão cheia de faixas, se deixa possuir pela brisa que sopra e faz com que essa dedilhe a guitarra acústica em finger picking vagarosamente articulado (o que só intensifica a saudade de mais Khonnor). Daisuke sente-se bem a sanar quaisquer impurezas mais alarmistas (que decrescem entre field recordings em “Sampo�) e a trabalhar a quase impalpável "Hum" enquanto essa descobre residência entre o gasoso ambiente de Cloud Music que Daisuke cedeu à muito interessante e especializada net-label portuguesa Mimi Records (que disponibiliza gratuitamente o EP em http://www.clubotaku.org/mimi/uk/album64.php)

Partindo do princípio que são apanhados espontâneos de uma vida aqueles que passa em revista o disco lançado pela alemã Ahornfelder, não deixa de ser viável constatar que Daisuke Miyatani podia até não ter muito a declarar além do que só lhe interessa a ele mesmo. Provavelmente esmorece muito facilmente a sintonia entre o intruso que escuta e um objecto apontado a rejuvenescer ouvidos adultos através de música intelectualizada como que por uma criança. Os Boards of Canada, certo dia, conseguiram-no solidamente num marco chamado Geogaddi. Diario aspira a essa mesma projecção caleidoscópica da candura, mas soa demasiado a mais um entre outros dias iguais.