A propósito do final que conheceu a série Sete Palmos de Terra, excepcional criação televisiva de Alan Ball, pode-se dizer que era quase inevitável dividir opiniões, independentemente das opções que tomasse o seu desfecho. Embora arriscasse as proporções de tese qualquer dissecação do momento em que a família Fisher se esvai em sucessão brutal de falecimentos (mais ou menos convincentes), importa sobretudo referir que as próprias fundações desiguais da série morrem por golpe desferido pela banda-sonora que Claire escolhe para rumar a Nova Iorque numa viatura muito mais vistosa que a carrinha fúnebre que normalmente conduzia. Claire, a prodigiosa filha comprometida à arte, já havia escutado o indie simpático dos Death Cab for Cutie em perfeita harmonia de amizades, acaba por ceder e escutar uma compilação de êxitos pop-fm que lhe oferecera para a viagem o namorado de então. A rebeldia rock e ética indie de Sete Palmos de Terra morre – de modo coincidente com o fatalismo da série – ao tornar a sua banda-sonora amigável a ouvidos dependentes de pop vulgar.

A própria personagem de Claire, pela sua militância e emancipação, repesca alguns traços ao padrão riot grrrl - o rock feminino oriundo de Washington DC que provavelmente não fará muito sentido agora que se encontra estabilizado e demovido do risco que assumia nos mais gloriosos discos da Kill Rock Stars ou nos milhares de sete polegadas que lhes são subterrâneos. O roncar que emite, na descida, o caixão do riot grrrl ecoa a cada uma das catorze faixas de You Remind Me of Summer Vacation, debute de umas Mess up the Mess que acusam em demasia a tardia exploração do filão que formaram as Bratmobile e Bikini Kill e que, depois, sofisticaram as Sleater Kinney.

Evidenciando o usufruir abusivo do que melhor se conhece à DC dominada por miúdas - a voz estridente e energético aproveitamento rock de temas tipicamente femininos -, You Remind Me of Summer Vacation reincide, sem sustento imaginativo, sobre os mesmos riffs súbitos, linhas de teclado uptempo e poesia de revolta planeada a tinta cor-de-rosa. Relembra imediatamente todo um riot grrrl datado que atingiu o seu pico há quinze anos e que não deixa de parecer um zombie a cada vez que o tentam reavivar nos dias de hoje.