Adam Gnade partilha com o Bodyspace consideraçÔes acerca das 10 preferĂȘncias que mais estima
· 11 Dez 2006 · 08:00 ·

A morada exacta de Adam Gnade Ă© tĂŁo incerta como a direcção que tomam as suas preferĂȘncias numa lista de 10 coisas predilectas que partilhou com o Bodyspace. Ele que tem vindo a acompanhar os Castanets em digressĂŁo, vive numa deriva reminiscente dos poetas beat, mas vai arranjando tempo para escrever prosa vĂĄria (o seu primeiro livro serĂĄ lançado em breve) e curtas e esclarecedoras biografias de artistas vinculados Ă  Asthmatic Kitty e outros tantos. Num Ăąmbito mais musical, vai cedendo o seu estilo vocal falante a vĂĄrios colectivos folk norte-americanos que conhecem bem os solavancos que implicam atravessar regularmente o paĂ­s de costa a costa. Antes de partir para Inglaterra, onde viria a cumprir uma curta digressĂŁo, Adam Gnade arranjou tempo para elaborar uma lista das suas principais preferĂȘncias.

Dez coisas fabulosas
por Adam Gnade

© Rob Queenin

1 Sopa chinesa picante e agridoce
Onde vivo actualmente em Oregon, dominam os tons cinzentos e escuros, e a maior parte dos dias começam com sopros ventosos e terminam com chuva. SĂŁo dias de difĂ­cil assimilação se as resistĂȘncias emocionais estiverem demasiado susceptĂ­veis. Todo o tipo de gente desenvolve mĂ©todos de preempção para contrariar a Desordem PrĂłpria da Época, que pode ser uma real chatice. Quer isso passe por ficar em casa a fazer arte ou consumir uma tonelada de cocaĂ­na – toda a gente tem a sua cura para tudo, e a minha Ă© a Sopa chinesa picante e agridoce. Ajuda-te a acordar, desimpede os canais respiratĂłrios, e pĂ”e-te em forma, independentemente do recanto obscuro de onde provĂ©ns. Compro a minha no Restaurante Vegetariano Bayleaf, mesmo por baixo de onde moro em Division Street. É preparada de modo totalmente vegan e servida em grandes porçÔes em taças de barro.

2 Blues antigos
Quando comecei a desenvolver o gĂ©nero que costumo apelidar de talking songs, estudei uma grande quantidade de blues do Texas e Delta e defini a voz que procurava para mim mesmo a partir dos cantores de blues mais sonantes, intensos e fixos Ă  fala. É costume categorizarem a minha mĂșsica como spoken word, mas eu sempre odiei esse gĂ©nero. Prefiro pensar no meu material como uma deconstrução de mĂșsicas como “Talking Dust Bowl Blues” de Woody Guthrie ou “Talking Union” de Pete Seeger. Começam como cançÔes folk e evoluem atĂ© uma forma volumosa, elaborada e mais rock – e, por vezes, vice versa.

3 A minha guitarra

NĂŁo aprecio o som de uma guitarra acĂșstica tradicional – sĂŁo prateadas e emitem demasiados tinidos e ressonĂąncias. A minha guitarra acĂșstica – a Ășnica que toco ao vivo ou em disco – Ă© uma baratinha Ovation Applause com o cavalete muito em baixo e sem a sexta corda. Produz um som seco e simples – como se tivesse sido feito a partir de uma caixa de charutos.

4 Rob Tyler
Rob Tyler Ă© um artista visual de Portland que transforma as suas pinturas em filmes de animação que te fazem perder a cabeça. O seu mais recente filme, Color + Modulation, combina cĂ­rculos concĂȘntricos de cores que florescem com a mĂșsica em sombreados vibrantes que existem apenas em flores e frutos durante o pĂŽr do sol. Quando gravo por mim sĂł, passo o Color + Modulation sem o som e assim fica o dia inteiro, atĂ© ser a Ășnica fonte de luz quando o sol se pĂ”e e a minha sala começa a ficar escura.

5 Bandas:
Ohioan, Peter and the Wolf, Vetiver, Inca Ore, Viking Moses. O meu amigo Ryne toca na banda Ohioan, verdadeira banda folk sempre presente nas estradas Americanas. GravĂĄmos um split juntos e ele impressionou toda a gente na festa de lançamento ao tocar com membros dos Shaky Hands e Castanets. O meu amigo Red toca com o nome de Peter and the Wolf. O seu novo disco chama-se Lightness e “Safe Travels” Ă© a mĂșsica de estrada que eu gostava de ter escrito. Vetiver... JĂĄ ouviste o novo disco? (To Find Me Gone) Demasiado bom. Inca Ore Ă© Eva Saelens. A Eva tocou com os Gang Wizard (com quem gravei um split lançado pela DeathBombArc), Jackie-O Motherfucker, e os Yellow Swans, mas Inca Ore Ă© o seu projecto de noise a solo e Ă© desarmantemente bom e original. Ela Ă© tambĂ©m uma escritora fantĂĄstica, que escreve sobre viver em quintas de plantação de erva, andar Ă  boleia e como se vive fora do mainstream. Espera sĂł atĂ© os seus livros começarem a ser lançados. Viking Moses... Adoro a mĂșsica do Brendon. Terei a oportunidade de tocar com ele em Inglaterra em Novembro.

© Rob Queenin

6 Vinho tinto, frutos silvestres, manteiga de caju e bananas.
NĂŁo sei viver sem eles.

7 Gin Bombay Saffire

Adoro-o, mas torna-me violento. Toquei com os Castanets e Kingdom hĂĄ uns meses atrĂĄs e acabei por sair para lutar contra uma ĂĄrvore.

8 Jessie Duquette e Jesse Von Doom

Ambas estĂŁo encarregadas de lançar o meu primeiro livro Hymn California este Inverno na DutchMoney Publishing. NĂŁo podia ter trabalhado com uma dupla melhor que esta. Tenho sido suficientemente sortudo ao ponto de, neste Ășltimo ano em que comecei a escrever profissionalmente, contar com um monte de pessoas que se dispuseram a aceitar-me, a pagar o que me Ă© merecido, tratar dos meus negĂłcios e evitar que eu pareça estĂșpido.

9 Han-Shan
Han-Shan (tambĂ©m conhecido por Cold Mountain) era um monge budista na China do sĂ©culo VII. Viveu como um fugitivo debaixo de uma gigantesco afloramento rochoso e inscrevia, em pedra e ĂĄrvores, poemas sobre a sua vida, polĂ­tica Chinesa e Budismo. Quando desapareceu (dizem que ao cair num abismo que, por magia, o absorveu), os seus poemas foram guardados e, mais tarde, traduzidos para inglĂȘs. Devo dizer que raramente leio poesia e nem sequer a escrevo (as minha cançÔes surgem da prosa), mas a que deixou Cold Mountain Ă© muito diferente de tudo o resto. Gostava de o ter conhecido.

10 Rob Queenin

O meu amigo Rob Queenin Ă© um magnifico fotĂłgrafo. Estou prestes a partir para uma digressĂŁo em Inglaterra (ou estava, no inĂ­cio de Novembro) e ele ligou para – sem que nada o fizesse prever – perguntar se podia vir tambĂ©m. E, do dia para a noite, comprou o bilhete de aviĂŁo e andarĂĄ no nosso autocarro a fotografar toda a digressĂŁo. AlĂ©m de ser um dos melhores fotĂłgrafos de mĂșsica que conheço, Ă© tambĂ©m um tipo fantĂĄstico e com uma grande sede de whisky. Respeito isso muito mais do que tantas outras coisas.

Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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