DIA 2 |
02/08
Soirée electrónica: o que se passa com o
house?
Gilles Peterson and Earl Zinger
As misturas de Gilles polvilhavam as paredes do castelo sem danificá-lo e nada faltou no extenso repertório de Gilles e do seu parceiro Earl. Ainda assim, algo soou profundamente discordante... As quase duas horas e meia de actuação foram insuficientes perante um público ávido de dança: “Muy bien, Muy bien”, soltava Earl, que arranhava o Espanhol, umas vezes em directo, outras samplado. De novo, “Muy bien, Muy bien” e o espactáculo terminava.
Bravo, Gilles, és o maior! Estive quase para gritar mas, felizmente, consegui conter-me, teria soado muito hype. Contudo, em nada teria surpreendido o meu gesto de fidelidade ao patrão da Talkin’ Loud, os patronos por excelência da música neste século.
Hacienda
O som dos Hacienda chegou na forma de uma pequena decepção para nós que morríamos de curiosidade e esperávamos dançar pela noite dentro. Uhmmm! Soaram distantes como se uma barreira invisível se interpusesse entre a actuação e o público. Os que conheciam os seus temas confiavam neles, na frescura das suas composições e na destreza para misturar estilos. Mesmo assim, ainda se notavam algumas caras de espanto, do tipo “o que é que se passa?”. Uma falha de som de repente converte uma actuação maravilhosa num diapositivo. O seu nu-jazz soou enlatado. E uma última vicissitude do que podia ser e não foi: não soubemos aplaudir com coerência.
Nils Petter Molvaer
O
trompetista norueguês que reivindica o punk abriu suavemente as suas asas
no Avant. Molvaer, que gosta de fundir sons com o seu trompete e que considera
Stevie Wonder o único artista capaz de fazer composições
alegres, respondeu com uma precisão milimétrica a todas as previsões
que anunciavam uma peculiar maneira de tocar electro-jazz. Um grupo voltado
para a experimentação que confecciona estilos não catalogáveis,
acariciados por Matthew Herbert.
Em silêncio sepulcral, quase imóvel perante o seu trompete e em
contínuo incitamento à luta de ritmos lentos e mortiços,
apresentou as suas inscrições de techno industrial sustentadas
por um baixo e que serviram para colocarmos a pergunta: “Molvaer narra
a história de uma tortura?”. Um laptop em cena e fumo, muito fumo.
Não será ele o próprio Herbie Hancock, em forma, e com
o tom mais acima?
Unkle Sounds
A
história fugaz da música electrónica ficará eternamente
grata a Mr. Lavelle, pelas suas multi-funções em Mo’Wax
e pelo seu génio arrebatado que o leva a plantar-se defronte de uma impecável
mesa de misturas, sempre acompanhado por alguém de confiança.
Unkle e companhia executam pós-dança, electro, house, industrial,
não importa bem o quê. O que parece claro é que os Unkle
Sounds dominam com fluência a linguagem da festa e manipulam ritmos com
muita destreza.
Os Unkle ocuparam uma posição privilegiada dentro das actuações
especiais que passaram por esta edição do Avant. Os rapazes, possuídos
e possuidores e em plena osmose, manipulavam os botões da mesa de mistura
com muita precisão e os ritmos obedeciam a um envolvente electro house,
puro e destilado. O público estava hipnotizado com a batida.
Mouse on Mars
A sincronia destes velhos amigos, ao comando da sua nave e assumindo o controlo de uma imensa torrente de ritmos deixaram-nos boquiabertos, apesar de estar quase a amanhecer.
Fomos feitos reféns de uma das prestações mais explosivas do Avant, nas mãos de autênticos terroristas espaciais, ao leme da nave de sons em que havia transformado o castelo. Fumadores compulsivos, foram da electro pop aos limites do techno com viagens pelo hip-hop.
Renunciaram a uma qualquer ditadura de ritmos, fazendo apologia do avant-garde e da anti-ideologia. Por fim, a sensação de um novo caminho inaugurado e com o estranho paralelismo de sair de um concerto ou de uma aula magistral sobre a arte da irreverência. foto Oihana Casas
antonia@bodyspace.net
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