Festival da Ilha do Ermal 2004
Vieira do Minho
25/27 Ago 2004
DIA 2 |
27/08
Para guardar na memória do último dia do Festival Ilha do Ermal ficará o concerto dos The Dillinger Escape Plan (DEP). Dos góticos-roqueiros-satânicos Tiamat fica apenas um longo bocejo; dos regressados Senser uma bocejo indiferente (o rap-rock está gasto e os pioneiros sofrem sem culpa); em Guano Apes já se dormiria, não fosse o ataque dos DEP.
The
Dillinger Escape Plan |
Foram
apenas 45 minutos, mas terá sido do tempo mais bem empregue em cima de
um palco que há memória. Os DEP arrasam, desmontam preconceitos, fazem
pensar, possibilitam o headbanging e o mosh. A ponte que
traçam entre o cerebral e o físico é sólida e não desmorona facilmente:
há riffs de aço (sinuosos, mas pesados), um baixo em permanente
fustigação, breaks de bateria “impossíveis” e a voz de Greg Puciato,
verdadeiro fenómeno. Há sapiência e não pretensiosismo. O espectáculo
dos DEP é também eminentemente físico: Puciato entra em palco e atira
o tripé do microfone que faz uma rasa do fotógrafo do Bodyspace (saiu
ileso); os membros do grupo, em especial um guitarrista, não param de
subir para as colunas e bombo da bateria, tocar de costas, fazer rasas
(outra vez) com o braço da guitarra a outro músico. |
The
Dillinger Escape Plan |
Com
apenas dois álbuns (e dois EPs), percebe-se em palco o porquê de os DEP
se terem tornado uma referência para tantos outros grupos. Continuam no
topo (e empurram-no para mais longe em “Miss Machine”) porque há uma sinceridade
no que fazem e porque o domínio dos instrumentos é enorme. Tocam metal
porque fazem barulho, mas as fontes e influências vêm de todo o lado.
E há uma vontade de ir mais além. A prova está nos temas que se ouviram
do novo disco: “Panasonic youth” tem ares de Mike Patton (as lições do
EP Irony is a dead scene foram proveitosas); “Sunshine the werewolf”
foi dos momentos mais brutais em palco; “Baby’s first coffin” incendiou
o mosh pit. De Calculating Infinity, ouviram-se temas como
“Jim Fear”, o clássico “43% burnt” e, a fechar o concerto (sem encores),
“Sugar coated sour”. Houve também tempo para passar pelo EP com Mike Patton,
em dois temas: o quase cómico “Hollywood squares” e o delirante “When
good dogs do bad things”. Puciato não é Patton, mas não anda muito longe
da interpretação genial do ex-Faith No More registado nesse belo EP. |
O Ermal terminava. Havia Guano Apes e mais gente se reuniu perto do palco para saltar geometricamente em felicidade colectiva, depois dos DEP terem emaranhado quaisquer linhas de previsão do que é ou devia ser o rock/metal. Estranho contraste.
· 25 Ago 2004 · 08:00 ·
Pedro Riospedrosantosrios@gmail.com
DIA 2 |
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