DIA 1 |
Reportagem
de Pedro Rios
Fotografias de Carlos Oliveira
25/08
Crónica
do vale negro
Chegar ao festival da Ilha do Ermal não se revelou fácil. Ou melhor, o trajecto
é simples, mas um pedido de explicação a “local people” (à la Britcom) revelou-se
complicado. O atraso já era assinalável e aumentou consideravelmente. Resultado:
escriba e fotógrafo chegam ao “vale negro” (as t-shirts, as barbas, o espírito)
atrasados, a tempo apenas de apanhar algumas canções dos Soziedad Alkoholika.
O Ermal é um festival diferente. A homogeneidade cromática supra-referida é
apenas parte dessa diferença. Tudo ali respira distorção e isso não é especialmente
bom. Aquele local (o rio, as montanhas, o pinhal denso) merecia um festival
para mais gente e menos exclusivo. À falta de outros passatempos – há apenas
meia dúzia de tendas e havia um carro para transportar de volta a casa -, podemos
sempre dedicarmo-nos à detecção das diferentes faunas.
Num festival “generalista”, as faunas vão desde o freak (espécie super
abundante e que parece surgir, como cogumelos, por estas ocasiões), ao betinho
(nova espécie em festivais de Verão; faz-se acompanhar de produtos de beleza
e usa sandálias havaianas; fuma charros uma vez por ano) e, obviamente, o bom
velho punk sujo e o metaleiro de barriga farta.
No Ermal, reduzimos o âmbito de análise para um único género: o metaleiro e
as suas variadas espécies. Com a globalização do metal via MTV, assiste-se a
uma democratização do género. É fácil ter os acessórios, fazer os símbolos,
sacar os álbuns da net. Neste Ermal, pude encontrar novos espécimes, entre um
clone de Chester Bennington dos Linkin Park, para além dos novos meninos bonitos
do emocore (entre o povo descortinei a trupe More Than a Thousand).
Bem, mas vamos à música.
Primitive
Reason |
Os
Primitive Reason são um caso crónico de meio termo. Em disco não são
maus, mas ao vivo perdem-se entre metal grunhido, reggae mal feito e
tribalismos chatos. “Shadowman”, por exemplo, perde a força dançável
que tem em disco; “Hipócrita” é uma sombra do que era nos tempos de
Brian Jackson e “Kindian” torna-se rap-rock desinteressante. Mesmo assim,
os Primitive Reason conseguiram levantar algum pó no mosh pit. |
Malevolent
Creation |
Clássicos
do death metal, os Malevolent Creation deram o concerto que arrisca
ser o mais pesado do certame. A receita é a do costume: riffs técnicos, descargas de agressão, urros/guinchos, bateria complexa com
pedaleira dupla. Brett Hoffmann berra muito bem, há que dizê-lo, mas
ao fim de mais de uma hora o death metal brutal, sem espaços para outras
aventuras, cansa. |
Ratos
de Porão |
Ratos
de Porão é puro entretenimento. Fazem um som tão quadrado – punk/hardcore
e crust à velocidade da luz, com alguns riffs mais metaleiros
– que é extremamente previsível. E isso funciona a favor deles: abana-se
o rabo, mexe-se a tola, espreita-se o mosh pit (totalmente de
loucos), vê-se pessoas a aterrar redondas no chão depois de voar (oh!).
O povo sabe as letras de cor. Há clássicos como “Crucificados pelo sistema”,
“Beber até morrer”, “Aids, Pop e Repressão” e o tema “Caos” (nove segundos
de “caooooos”). Gordo está mais magro, mas continua a criticar o que
vai mal no Brasil (e no Mundo, já agora). Conclusão: "Ratos é foda",
como eles dizem. |
Moonspell |
Em
dia de aniversário (“30 invernos”, disse ele), Fernando Ribeiro
e os seus Moonspell deram um concerto memorável. A maior banda de metal
portuguesa visitou a sua longa carreira, com destaque para o último
disco The Antidote, porventura o álbum mais rock e menos gótico
(menos teclados, mais guitarras e riffs potentes). “In and above
men” e a sequência (como em disco) “From lowering skies” abriram o concerto.
O hino metaleiro português, “Alma Mater”, arrancou a primeira ovação.
Depois há uma série de clássicos: “Vampiria”, “Opium”, “Mephisto” e
a fechar, antes do encore, “Full moon madness”. |
pedrosantosrios@gmail.com
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