DIA 2 |
9/11
A terceira noite do Festival Best.Off oferecia desde logo uma noite forte em termos de experimentação sónica. De um lado Kubik, o alter-ego de Victor Afonso, o músico que lançou este ano o seu segundo disco, Metamorphosia. Do outro lado Hecker (Florian Hecker, não confundir com Tim Hecker), artista associado com a Mego, editora com sede em Viena. À semelhança do que havia acontecido com o concerto de Radian, ambas as actuações decorreram no corredor nascente para alegria da acústica que ali recebe os melhores dos tratamentos. Quando Kubik se apresentou em palco os presentes eram ainda poucos mas esse cenário foi-se modificando ao longo do concerto. Concerto que, nas palavras do próprio Victor Afonso se iria dividir entre Metamorphosia e o seu álbum de estreia, Oblique Musique, registo editado em 2001. A transposição desses temas para os concertos faz-se da utilização de uma base programada e da voz e guitarra de Victor Afonso, faz-se de electrónica, jazz em desvario, música de desenhos animados, da escola do corta e cola (os samples) e de muita experimentação.
É árdua a tarefa de Kubik. Não há guitarrista a mandar-se para o chão e, de joelhos, sacar meia dúzia de solos espalhafatosos, não há um Bez para comandar a trupe (por falar em Bez, a passagem de ano no Porto promete um concerto dos Happy Mondays que, já se sabe, pode tornar-se mítico). É uma actuação onde se trabalha e deve trabalha a mente primeiro e o corpo depois. Um verdadeiro desafio. Um pouco no espírito do festival, os sons apareceram muitas vezes acompanhados de projecções. No final, Victor Afonso, apesar de alguns problemas técnicos na primeira tentativa, acompanhou com a voz um vídeo de uma espécie de desenho animado que tocava todos os instrumentos num estúdio de cores garridas. Tendo (sobretudo) em conta o propósito deste festival, Kubik foi uma escolha bem acertada, uma justa representação nacional.
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Kubik © Paula Grácio Afonso |
Pouco tempo depois seguiu-se então a vez da actuação do alemão Hecker, que contou com a companhia de Tina Frank (artista igualmente alemã, designer que fundou a companhia Inwirements) que ficou responsável pelas projecções que se mostrariam sintonizadas com as erupções sonoras que se haviam de escutar. São ambos amigos do Mac não Donalds, utilizado no caso de Hecker para uma electrónica abstractíssima, o equivalente sonoro a, digamos, uma tela de Jackson Pollock. Electrónica ultra abrasiva, capaz de, por exemplo, provocar alarmante tinnitus durante horas ou dias. Rasgões sonoros de alguma violência, pinceladas regra geral bruscas ou por vezes brandas – mas sempre directas em forma de murro no ar. Florian Hecker nunca mostrou o mínimo sinal de convivência humana. As projecções eram francamente desinteressantes (igualmente abstractíssimas, a fazer lembrar a dança dos das figuras frenéticas do Windows Media Player). Foi uma actuação na sua generalidade algo desinteressante e em piloto automático que fez lembrar a visualização de Irréversible numa qualquer sala de cinema: as pancadas na cabeça com um extintor arrumou com algumas pessoas, e a violação arrumou com metade do total inicial. Os que ficaram sobreviveram.
andregomes@bodyspace.net
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