NOS Alive
Passeio Maritimo de Alges
12-14 Out 2018
DIA 3 |
Ainda meio atordoados pelo cansaço acumulado, pela tareia de duas horas que levámos dos Queens of the Stone Age e pelos sorrisos que arrancámos de todos os concertos a que assistimos no dia anterior, recarregamos as baterias dos telemóveis (e das sempre prestáveis powerbanks que nos ajudam nestas aventuras) e vemo-nos, de cerveja na mão, metidos na Linha de Cascais, na senda de chegar a Algés e queimar lá o que sobra dos cartuchos; afinal de contas, se todo o carnaval tem seu fim, o melhor que temos a fazer é mesmo celebrar a despedida da forma mais digna antes de nos dedicarmos ao merecido descanso.
Descanso esse que, aparentemente, não faz parte dos planos dos Alice in Chains, que deram um show a transbordar de nostalgia (das 13 canções tocadas, apenas quatro vieram da era pós-Laney Staley) e que, perdoem-nos a maldade, mais pareceu um espectáculo de celebração dos saudosos anos 90 do que um concerto em nome próprio. Ainda assim, apesar dos ares de banda tributo que se foram cheirando aqui e ali, não há como negar o impacto que temas como “Man in the Box”, “Would?” ou “Rooster” (a fechar o alinhamento de forma sublime e com cantoria a rodos) conseguem ter, ainda hoje, naqueles que viveram (ou gostavam de ter vivido) os tempos áureos do grunge.
Saídos da máquina do tempo, seguimos em direcção ao palco secundário, onde os Real Estate fizeram questão de dar um dos concertos mais agradáveis de todo o certame. Em perfeita sintonia com os tons de sépia tão típicos do final de tarde onde foram arrumados, os norte-americanos, encabeçados pelo amistoso Martin Courtney (cujos vocais, tantas vezes “abafados” pela produção dos discos do grupo, ali surgiram com uma desarmante e muito bem-vinda clareza) apresentaram um maravilhoso menu de degustação da sua discografia, pontuado, aqui e ali, por alguns improvisos e até novas canções. Não tendo sido nada de transcendente, valeu pela boa onda e, obviamente, pelo vislumbre ao vivo desse single magistral que é “Darling”.
Bem mais vazio de momentos magistrais foi, custa-nos a admitir, o espectáculo de nostalgia (mais um) dos Franz Ferdinand, que subiram ao palco principal do Alive perante uma plateia que, ainda assim, cantou, saltou e vibrou com eles. Mas por mais que a incredulidade perante toda a azáfama nos tenha batido na cara durante quase todo o concerto, há-que admitir: “Take Me Out” e “This Fire” (esta última tendo durado, aproximadamente, vinte mil horas), canções com que os escoceses terminaram o set, conservam ainda todo o élan vibrante e infeccioso que nos conquistou os corações em 2004.
Quanto ao show de Jack White, nome que se lhes seguiu no palco NOS, dificilmente poderemos arranjar melhor adjectivo para o descrever do que “agridoce”, até porque se por um lado foi bastante bom ouvir de viva voz (e de vivas mãos na sempiterna guitarra) uma boa série de temas arrancados do magnífico catálogo dos White Stripes (à mais que óbvia “Seven Nation Army” juntaram-se umas quantas pérolas escondidas como “You Don’t Know What Love is (You Just Do as You’re Told)” ou “We’re Going to Be Friends”), por outro, não deixa de ser triste ver tamanha inclinação no passado por parte de um artista que, parecendo que não, tem muito mais discografia a solo do que aquilo que o alinhamento fez transparecer (das 17 canções da noite, apenas seis vieram dos seus três registos em nome próprio). E isso, bem feitas as contas, acabou por manchar um pouco a imagem que tínhamos de White (um dos nossos heróis de juventude, admitimo-lo), que em solo nacional só nos passou uma manifesta falta de fé nas suas próprias escolhas de carreira. Resumindo: se é para ser assim, mais vale pegar no telefone e ligar à Meg.
Depois de um pequeno saltinho no palco secundário para conferir a frescura e a beleza das canções da brasileira Mallu Magalhães (e o pouco que vimos deu para confirmar isso tudo e muito mais), seguiram-se as 23h15, hora marcada para o tão aguardado início da performance dos Pearl Jam. E, de facto, deu mesmo para tirar todas as teimas: os 800 Gondomar deram um concerto do caralho no palco Coreto, num espectáculo a tresandar a garage rock apunkalhado em todos os aspectos. Ora vejamos: quase ninguém na audiência? Check; verve juvenil e suor catártico a rodos? Check; instrumentos tocados no meio da plateia e até mesmo membros da banda a “desaparecer” debaixo do palco? Check; canções simples até ao tutano e tocadas como se a vida do grupo oriundo do Rio Tinto dependesse disso? Check, check, duplo check.
Hora e meia depois seguiu-se, no entanto, o momento que ficará para sempre gravados nas nossas memórias como sendo a maior injustiça a que alguma vez assistimos num festival de música e, simultaneamente, uma das melhores tareias que recebemos de bom grado nas nossas vidas: o concerto de At the Drive-In no palco Sagres. Encurtado para apenas trinta minutos devido aos atrasos dos Pearl Jam (porque o grupo de Eddie Vedder tinha mesmo de arranjar maneira de nos estragar a vida, mesmo quando escolhemos propositadamente não os ver), o espectáculo conseguiu ser, apesar das limitações de tempo (ou talvez mesmo por causa delas), não só o melhor concerto de todo o NOS Alive, como também um dos melhores concertos das nossas vidas, o vencedor do título “melhor mosh de sempre” e, bem vistas as coisas, uma das melhores meias horas que alguma vez tivemos.
Tudo começou com “Arcarsenal”, uma das mais belas canções de entrada de sempre e sirene de alarme para o festival dentro do festival que ali se operou. Para quem não esteve no pit, terá sido um concerto cheio dessa raiva e frustração que sempre serviu de sumo para o post-hardcore da trupe encabeçada por Cedric Bixler-Zavala, particularmente exacerbada pelas frustrações causadas pelo corte no alinhamento. Para quem, como nós, esteve no olho do furacão, foi um mundo à parte: braços, corpos, pernas por todo o lado, numa interpretação viva de Guernica que só teve rival nos sons mutilados e desfigurados que Omar Rodriguez-Lopez arrancou da sua guitarra.
Do resto do alinhamento, focado sobretudo em Relationship of Command, pouco há a dizer sem cair em redundância: o frenesim, a revolta e a comunhão foram uma constante tanto em “One Armed Scissor” (último tema da noite) como em qualquer uma da meia dúzia de canções desfiladas pelos texanos no palco secundário. E só quando tudo acabou e a poeira assentou, no final daquele festim de meia hora (que bem podia ter sido de duas horas que iria, ainda assim, parecer sempre uma dúzia de segundos), é que nos apercebemos das mudanças fundamentais que os At the Drive-In operaram nas nossas cabeças: não só encerraram de facto o festival, como possivelmente estragaram toda e qualquer música ao vivo daqui em diante.
E foi por isso que, por mais que tenhamos tentado aproveitar um bocadinho dos MGMT no palco principal (uma chachada) e de Perfume Genius (tentativa honrada, mas ninguém estava ali para ele), as nossas mentes nunca pararam de voltar aos flashes das memórias que retivemos do concerto de Bixler-Zavala, Rodriguez-Lopez e companhia. Tivesse sido só isto e já teria sido justificada por completo toda a nossa odisseia de três dias no Passeio Marítimo de Algés; felizmente, o saldo total acabou por ser ainda mais positivo. E assim sendo, só nos resta encerrar com uma salva de palmas ao NOS Alive: foi bom, malta. Foi mesmo muito bom.
Descanso esse que, aparentemente, não faz parte dos planos dos Alice in Chains, que deram um show a transbordar de nostalgia (das 13 canções tocadas, apenas quatro vieram da era pós-Laney Staley) e que, perdoem-nos a maldade, mais pareceu um espectáculo de celebração dos saudosos anos 90 do que um concerto em nome próprio. Ainda assim, apesar dos ares de banda tributo que se foram cheirando aqui e ali, não há como negar o impacto que temas como “Man in the Box”, “Would?” ou “Rooster” (a fechar o alinhamento de forma sublime e com cantoria a rodos) conseguem ter, ainda hoje, naqueles que viveram (ou gostavam de ter vivido) os tempos áureos do grunge.
Saídos da máquina do tempo, seguimos em direcção ao palco secundário, onde os Real Estate fizeram questão de dar um dos concertos mais agradáveis de todo o certame. Em perfeita sintonia com os tons de sépia tão típicos do final de tarde onde foram arrumados, os norte-americanos, encabeçados pelo amistoso Martin Courtney (cujos vocais, tantas vezes “abafados” pela produção dos discos do grupo, ali surgiram com uma desarmante e muito bem-vinda clareza) apresentaram um maravilhoso menu de degustação da sua discografia, pontuado, aqui e ali, por alguns improvisos e até novas canções. Não tendo sido nada de transcendente, valeu pela boa onda e, obviamente, pelo vislumbre ao vivo desse single magistral que é “Darling”.
Bem mais vazio de momentos magistrais foi, custa-nos a admitir, o espectáculo de nostalgia (mais um) dos Franz Ferdinand, que subiram ao palco principal do Alive perante uma plateia que, ainda assim, cantou, saltou e vibrou com eles. Mas por mais que a incredulidade perante toda a azáfama nos tenha batido na cara durante quase todo o concerto, há-que admitir: “Take Me Out” e “This Fire” (esta última tendo durado, aproximadamente, vinte mil horas), canções com que os escoceses terminaram o set, conservam ainda todo o élan vibrante e infeccioso que nos conquistou os corações em 2004.
Quanto ao show de Jack White, nome que se lhes seguiu no palco NOS, dificilmente poderemos arranjar melhor adjectivo para o descrever do que “agridoce”, até porque se por um lado foi bastante bom ouvir de viva voz (e de vivas mãos na sempiterna guitarra) uma boa série de temas arrancados do magnífico catálogo dos White Stripes (à mais que óbvia “Seven Nation Army” juntaram-se umas quantas pérolas escondidas como “You Don’t Know What Love is (You Just Do as You’re Told)” ou “We’re Going to Be Friends”), por outro, não deixa de ser triste ver tamanha inclinação no passado por parte de um artista que, parecendo que não, tem muito mais discografia a solo do que aquilo que o alinhamento fez transparecer (das 17 canções da noite, apenas seis vieram dos seus três registos em nome próprio). E isso, bem feitas as contas, acabou por manchar um pouco a imagem que tínhamos de White (um dos nossos heróis de juventude, admitimo-lo), que em solo nacional só nos passou uma manifesta falta de fé nas suas próprias escolhas de carreira. Resumindo: se é para ser assim, mais vale pegar no telefone e ligar à Meg.
Depois de um pequeno saltinho no palco secundário para conferir a frescura e a beleza das canções da brasileira Mallu Magalhães (e o pouco que vimos deu para confirmar isso tudo e muito mais), seguiram-se as 23h15, hora marcada para o tão aguardado início da performance dos Pearl Jam. E, de facto, deu mesmo para tirar todas as teimas: os 800 Gondomar deram um concerto do caralho no palco Coreto, num espectáculo a tresandar a garage rock apunkalhado em todos os aspectos. Ora vejamos: quase ninguém na audiência? Check; verve juvenil e suor catártico a rodos? Check; instrumentos tocados no meio da plateia e até mesmo membros da banda a “desaparecer” debaixo do palco? Check; canções simples até ao tutano e tocadas como se a vida do grupo oriundo do Rio Tinto dependesse disso? Check, check, duplo check.
Hora e meia depois seguiu-se, no entanto, o momento que ficará para sempre gravados nas nossas memórias como sendo a maior injustiça a que alguma vez assistimos num festival de música e, simultaneamente, uma das melhores tareias que recebemos de bom grado nas nossas vidas: o concerto de At the Drive-In no palco Sagres. Encurtado para apenas trinta minutos devido aos atrasos dos Pearl Jam (porque o grupo de Eddie Vedder tinha mesmo de arranjar maneira de nos estragar a vida, mesmo quando escolhemos propositadamente não os ver), o espectáculo conseguiu ser, apesar das limitações de tempo (ou talvez mesmo por causa delas), não só o melhor concerto de todo o NOS Alive, como também um dos melhores concertos das nossas vidas, o vencedor do título “melhor mosh de sempre” e, bem vistas as coisas, uma das melhores meias horas que alguma vez tivemos.
Tudo começou com “Arcarsenal”, uma das mais belas canções de entrada de sempre e sirene de alarme para o festival dentro do festival que ali se operou. Para quem não esteve no pit, terá sido um concerto cheio dessa raiva e frustração que sempre serviu de sumo para o post-hardcore da trupe encabeçada por Cedric Bixler-Zavala, particularmente exacerbada pelas frustrações causadas pelo corte no alinhamento. Para quem, como nós, esteve no olho do furacão, foi um mundo à parte: braços, corpos, pernas por todo o lado, numa interpretação viva de Guernica que só teve rival nos sons mutilados e desfigurados que Omar Rodriguez-Lopez arrancou da sua guitarra.
Do resto do alinhamento, focado sobretudo em Relationship of Command, pouco há a dizer sem cair em redundância: o frenesim, a revolta e a comunhão foram uma constante tanto em “One Armed Scissor” (último tema da noite) como em qualquer uma da meia dúzia de canções desfiladas pelos texanos no palco secundário. E só quando tudo acabou e a poeira assentou, no final daquele festim de meia hora (que bem podia ter sido de duas horas que iria, ainda assim, parecer sempre uma dúzia de segundos), é que nos apercebemos das mudanças fundamentais que os At the Drive-In operaram nas nossas cabeças: não só encerraram de facto o festival, como possivelmente estragaram toda e qualquer música ao vivo daqui em diante.
E foi por isso que, por mais que tenhamos tentado aproveitar um bocadinho dos MGMT no palco principal (uma chachada) e de Perfume Genius (tentativa honrada, mas ninguém estava ali para ele), as nossas mentes nunca pararam de voltar aos flashes das memórias que retivemos do concerto de Bixler-Zavala, Rodriguez-Lopez e companhia. Tivesse sido só isto e já teria sido justificada por completo toda a nossa odisseia de três dias no Passeio Marítimo de Algés; felizmente, o saldo total acabou por ser ainda mais positivo. E assim sendo, só nos resta encerrar com uma salva de palmas ao NOS Alive: foi bom, malta. Foi mesmo muito bom.
· 16 Jul 2018 · 01:00 ·
João Moraisjoao.mvds.morais@outlook.com
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