Amplifest 2016
Hard Club, Porto
20-21 Ago 2016
DIA 2 |
Dia Dois
Retemperadas as forças e após um curto passeio pela Cidade Inbicta, ei-nos de volta ao Hard Club para mais uma dose cavalar de anfetaminas metálicas, ou quando assim não fosse, de cidra fresquinha, que na esplanada cá fora era mais barata que lá dentro (e consta que o whisky cola era quase irrisório). O sol hoje parecia ferver mais e isso implicou uma entrada rápida na primeira sala para sentir, na pele, os efeitos magnéticos do ar condicionado. E também do rock pesado, estranhamente radiofónico, dos Black Heart Rebellion, um rock pintado de negro como que para fazer jus ao seu nome e que, a dada altura, se transforma num som xamânico e/ou desértico que hipnotiza a alma - com essa coisa valorosa chamada guitarra a arranhar-nos os ouvidos uma e outra vez, como manda a tradição. Ouvidos esses que quase não sobreviviam à catarse proporcionada pelos Névoa, verdadeiros prodígios do black fucking metal que ali foram mostrar o novo álbum e gelar os ossos dos muitos que encheram a Sala 2. Isto, claro, quando não utilizavam esses mesmos ossos como percussão. Atrás de nós, há quem tape os ouvidos com ambas mãos na ânsia de escapar ao ruído... Sem sucesso, acreditamos. Porque é impossível ignorar o eco daquela voz vinda das cavernas mais profundas, assim como o ódio que brota de cada riff...
E se os Névoa nos foderam os ouvidos, que dizer dos Caspian, que ao início ainda parecem uma saudável lufada de ar fresco, prontinha a revitalizar-nos o tímpano, mas que depois desatam a puxar ferro? Agradecidos por voltar ao Porto - disseram eles; vamos crer que sim -, encheram a Sala 1 com riffalhada prenhe de esperança e um pós-rock entre o eléctrico e o fofinho que fez as delícias de quem ali esteve. Mas faltou algo. Faltou dissonância, rancor. Faltou medo. Faltou o buzz que os Downfall of Gaia mostraram a seguir, black ríspido e ensurdecedor, onde os melhores momentos se prendiam com a aparição dos agradáveis blastbeats. Os melhores momentos musicais, bem entendido. O melhor momento a nível de experiência foi ver uma criança de colo a entrar na sala, armada de headphones industriais, pronta para começar a dedicar a sua vida ao black metal... E já que se fala em mudar de vida, CHVE, que é como quem diz o gajo de Amenra, que é merda, podia muito bem passar a dedicar a sua às couves. Drone litúrgico quase tão ridículo quanto a fila que se foi formando para Neurosis.
Uma fila que, convenhamos, era esperada. Porque são os Neurosis, banda com uma legião de fãs detrás de si, homens que abriram as portas de muitos ao metal mais extremo. Porque era a estreia dos Neurosis por cá - e isso não implica necessariamente que a maioria dos que ali estavam fossem portugueses. Porque ajudaram a criar essa caixa chamada pós-metal... E quando uma banda praticamente inventa um género novo, quem somos nós para lhes retirar protagonismo? Começando quando ainda faltava a muita gente conseguir entrar na sala, os Neurosis arrancam de forma suave (se é que este adjectivo pode ser usado para os descrever), mas vão acelerando progressivamente ao longo do concerto e, por conseguinte, proporcionando o nózinho na veia que indica que o sangue está a atingir aquele point of no return, exigindo erguer-se, exigindo headbanging, exigindo que a puta da casa venha abaixo. Como em "Locust Star". Tanta tensão, tanta emoção, tanto suor e tanta espera só poderiam dar em lágrimazita, não era? Uma lágrima de que os Neurosis se alimentam, construindo uma camada de som poderosa e circular com extrema mestria. Uma força imparável e a "experiência" maior, por defeito e previsão, do Amplifest.
"Experiência" e não "espectáculo" porque esse esteve a cargo de Prurient, senhor que consta ser bastante simpático em privado mas que em palco é uma besta colossal, atirando-se de um lado para o outro de forma a captar o melhor feedback possível, gritando coisas incompreensíveis por cima de uma camada de noise puro e duro e destilando violência a cada segundo que passava. Senhores, chapas de metal a chocar umas contra as outras é bem capaz de ser a sonoridade mais metal que por ali (ou)vimos. Assim como o chiar que se ia ouvindo foi a melhor lavagem de alma possível. O noise libertar-nos-à, caramba. O noise libertar-nos-à. E após meia hora de castigo sonoro vem a magia eterna do drum n' bass, e depois de um falso final vem uma rave ruidosa... Que venha mais vezes. Ou, quem sabe, para o ano podiam trazer Merzbow.
Retemperadas as forças e após um curto passeio pela Cidade Inbicta, ei-nos de volta ao Hard Club para mais uma dose cavalar de anfetaminas metálicas, ou quando assim não fosse, de cidra fresquinha, que na esplanada cá fora era mais barata que lá dentro (e consta que o whisky cola era quase irrisório). O sol hoje parecia ferver mais e isso implicou uma entrada rápida na primeira sala para sentir, na pele, os efeitos magnéticos do ar condicionado. E também do rock pesado, estranhamente radiofónico, dos Black Heart Rebellion, um rock pintado de negro como que para fazer jus ao seu nome e que, a dada altura, se transforma num som xamânico e/ou desértico que hipnotiza a alma - com essa coisa valorosa chamada guitarra a arranhar-nos os ouvidos uma e outra vez, como manda a tradição. Ouvidos esses que quase não sobreviviam à catarse proporcionada pelos Névoa, verdadeiros prodígios do black fucking metal que ali foram mostrar o novo álbum e gelar os ossos dos muitos que encheram a Sala 2. Isto, claro, quando não utilizavam esses mesmos ossos como percussão. Atrás de nós, há quem tape os ouvidos com ambas mãos na ânsia de escapar ao ruído... Sem sucesso, acreditamos. Porque é impossível ignorar o eco daquela voz vinda das cavernas mais profundas, assim como o ódio que brota de cada riff...
E se os Névoa nos foderam os ouvidos, que dizer dos Caspian, que ao início ainda parecem uma saudável lufada de ar fresco, prontinha a revitalizar-nos o tímpano, mas que depois desatam a puxar ferro? Agradecidos por voltar ao Porto - disseram eles; vamos crer que sim -, encheram a Sala 1 com riffalhada prenhe de esperança e um pós-rock entre o eléctrico e o fofinho que fez as delícias de quem ali esteve. Mas faltou algo. Faltou dissonância, rancor. Faltou medo. Faltou o buzz que os Downfall of Gaia mostraram a seguir, black ríspido e ensurdecedor, onde os melhores momentos se prendiam com a aparição dos agradáveis blastbeats. Os melhores momentos musicais, bem entendido. O melhor momento a nível de experiência foi ver uma criança de colo a entrar na sala, armada de headphones industriais, pronta para começar a dedicar a sua vida ao black metal... E já que se fala em mudar de vida, CHVE, que é como quem diz o gajo de Amenra, que é merda, podia muito bem passar a dedicar a sua às couves. Drone litúrgico quase tão ridículo quanto a fila que se foi formando para Neurosis.
Uma fila que, convenhamos, era esperada. Porque são os Neurosis, banda com uma legião de fãs detrás de si, homens que abriram as portas de muitos ao metal mais extremo. Porque era a estreia dos Neurosis por cá - e isso não implica necessariamente que a maioria dos que ali estavam fossem portugueses. Porque ajudaram a criar essa caixa chamada pós-metal... E quando uma banda praticamente inventa um género novo, quem somos nós para lhes retirar protagonismo? Começando quando ainda faltava a muita gente conseguir entrar na sala, os Neurosis arrancam de forma suave (se é que este adjectivo pode ser usado para os descrever), mas vão acelerando progressivamente ao longo do concerto e, por conseguinte, proporcionando o nózinho na veia que indica que o sangue está a atingir aquele point of no return, exigindo erguer-se, exigindo headbanging, exigindo que a puta da casa venha abaixo. Como em "Locust Star". Tanta tensão, tanta emoção, tanto suor e tanta espera só poderiam dar em lágrimazita, não era? Uma lágrima de que os Neurosis se alimentam, construindo uma camada de som poderosa e circular com extrema mestria. Uma força imparável e a "experiência" maior, por defeito e previsão, do Amplifest.
"Experiência" e não "espectáculo" porque esse esteve a cargo de Prurient, senhor que consta ser bastante simpático em privado mas que em palco é uma besta colossal, atirando-se de um lado para o outro de forma a captar o melhor feedback possível, gritando coisas incompreensíveis por cima de uma camada de noise puro e duro e destilando violência a cada segundo que passava. Senhores, chapas de metal a chocar umas contra as outras é bem capaz de ser a sonoridade mais metal que por ali (ou)vimos. Assim como o chiar que se ia ouvindo foi a melhor lavagem de alma possível. O noise libertar-nos-à, caramba. O noise libertar-nos-à. E após meia hora de castigo sonoro vem a magia eterna do drum n' bass, e depois de um falso final vem uma rave ruidosa... Que venha mais vezes. Ou, quem sabe, para o ano podiam trazer Merzbow.
· 07 Set 2016 · 00:37 ·
Paulo CecÃliopauloandrececilio@gmail.com
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