Milh繭es de Festa
Barcelos
21-24 Jul 2016
DIA 2 |
22 Julho
No primeiro dia “a sério”, com todos os palcos, a piscina do Milhões de Festa abriu com uma proposta nacional, a pop-doce-exploratória de Surma. Tendo passado uma semana antes pelo palco do Super Bock Super Rock, Débora Umbelino levou à borda da piscina as suas canções aparentemente frágeis, bem estruturadas e de travo apelativo. Não faltou “Masaai”, o único tema disponível até ao momento, e deixou água na boca para aquilo que aí vem. Seguiu-se a electrónica dos Wume, melhor quando apenas instrumental, menos interessante com a adição da voz. Contudo, a festa só arrancou com a chegada de Nicola Cruz. O equatoriano mostrou a sua electrónica dolente com travo sul-americano e conseguiu agregar o povo a dançar à frente da piscina, concretizando o momento mais festivo da piscina do primeiro dia. Chegou depois Nan Kolé, que aumentou os BPM com o seu afro-techno, encerrando a piscina com electrónica mais pesada (pensem num pós-Buraka mais abstracto).
A música continuou no Palco Taina. Não chegámos a tempo de ver Uppercut, mas fomos espreitar os Melandrómena e o seu hip-hop galego, enérgico e divertido, onde até houve uma “Cumbia do vinho verde”. O Taina fecharia com uma inusitada “Rádio Popular” de Paulo Cunha Martins, dj set que combina pimba alternativo com alguns clássicos românticos estrangeiros (como Demis Roussos, sim).
Abrindo o palco principal, actuaram os portugueses Evols: Carlos Lobo (guitarra e voz), França Gomes, Vítor Santos, Rafael Ferreira (guitarras) e Jorge Queijo (bateria). O concerto abriu em forma de homenagem, com a interpretação de “Dream Baby Deram” dos Suicide – bonito tributo a Alan Vega, recentemente falecido. Após essa entrada reverencial, o quinteto apresentou os seus temas originais, onde se incluiu a excelente “Shelter” (aquela letra “girl, I want you to know…” tem algo de clássico). O som do grupo é definido pela massa compacta das guitarras e o grupo o seu rock exemplar. Já o palco Lovers seria inaugurado com o hip-hop dos americanos Goth Money Records – na noite seguinte tocariam em Lisboa, na ZDB. A crew esteve representada por apenas dois membros (Black Kray e MFK Marcy Mane) e ao longo da actuação foram lamentando os vários problemas que tiveram durante a viagem para Portugal (telemóvel perdido, computador avariado) e a prestação musical terá sido disso reflexo, com pouco fulgor. O público também não se mostrou particularmente entusiasmado. Ficou prometida a visita da família completa, para breve.
De volta ao palco principal, actuaram os ingleses Sons of Kemet. Ao leme, no saxofone tenor, estava Shabaka Hutchings; na tuba, não estava o virtuoso Oren Marshall, membro original da banda que entretanto saiu, mas o seu substituto, Theon Cross; e o apoio rítmico estava assente nas baterias de Seb Rochford e Tom Skinner. A configuração instrumental parte de uma natureza jazz, a música é original, com raízes africanas. O quarteto desenvolve uma música altamente enérgica, assente nas frases do saxofone, repetidas em crescendo enérgico, secundado pela tuba, que neste contexto acumula funções: cumpre o duplo papel de substituição de contrabaixo e de segundo solista; e a dupla de baterias intensifica o carácter altamente rítmico desta música. O público foi desde cedo conquistado e não escondeu a sua completa devoção. Temas como “Play Mass” fizeram o público vibrar, dançar, e mesmo em momentos mais relaxados, mesmo durante o solo da tuba, o público relevou uma atenção reverencial. É incrível ver uma banda de raíz jazzística, que não cede a facilitismos, que nem sequer toca covers rock, a fazer a festa e a conquistar o público de um festival destes (quantos dos presentes já teriam comprado um disco de jazz na vida?). É certo que a margem para a improvisação é limitada, mas exemplos como os Sons of Kemet ou Kamasi Washington mostram que é possível produzir jazz original e levá-lo a um público mais jovem e alargado.
Pelo palco Lovers passou o trio Marshstepper + HHY + Varg, que apresentou uma electrónica arrastada e experimental, combinando um som industrial e vocalização metal. De regresso ao palco Milhões, chegou de vez de actuar um dos nomes maiores desta edição do festival: os suecos Goat. Combinação de ritual xamãnico e explosão rock, experimentação tribal e eficiência pop/rock, o grupo de Korpilombolo apresentou-se com as habituais máscaras, num espectáculo que foi além da música, teve também uma forte componente visual. No palco Lovers seguiram-se The Bug presents Acid Ragga with Miss Red e Cheryl, mas já não ficámos para assistir a esses espectáculos mais tardios. Nuno Catarino
No primeiro dia “a sério”, com todos os palcos, a piscina do Milhões de Festa abriu com uma proposta nacional, a pop-doce-exploratória de Surma. Tendo passado uma semana antes pelo palco do Super Bock Super Rock, Débora Umbelino levou à borda da piscina as suas canções aparentemente frágeis, bem estruturadas e de travo apelativo. Não faltou “Masaai”, o único tema disponível até ao momento, e deixou água na boca para aquilo que aí vem. Seguiu-se a electrónica dos Wume, melhor quando apenas instrumental, menos interessante com a adição da voz. Contudo, a festa só arrancou com a chegada de Nicola Cruz. O equatoriano mostrou a sua electrónica dolente com travo sul-americano e conseguiu agregar o povo a dançar à frente da piscina, concretizando o momento mais festivo da piscina do primeiro dia. Chegou depois Nan Kolé, que aumentou os BPM com o seu afro-techno, encerrando a piscina com electrónica mais pesada (pensem num pós-Buraka mais abstracto).
A música continuou no Palco Taina. Não chegámos a tempo de ver Uppercut, mas fomos espreitar os Melandrómena e o seu hip-hop galego, enérgico e divertido, onde até houve uma “Cumbia do vinho verde”. O Taina fecharia com uma inusitada “Rádio Popular” de Paulo Cunha Martins, dj set que combina pimba alternativo com alguns clássicos românticos estrangeiros (como Demis Roussos, sim).
Abrindo o palco principal, actuaram os portugueses Evols: Carlos Lobo (guitarra e voz), França Gomes, Vítor Santos, Rafael Ferreira (guitarras) e Jorge Queijo (bateria). O concerto abriu em forma de homenagem, com a interpretação de “Dream Baby Deram” dos Suicide – bonito tributo a Alan Vega, recentemente falecido. Após essa entrada reverencial, o quinteto apresentou os seus temas originais, onde se incluiu a excelente “Shelter” (aquela letra “girl, I want you to know…” tem algo de clássico). O som do grupo é definido pela massa compacta das guitarras e o grupo o seu rock exemplar. Já o palco Lovers seria inaugurado com o hip-hop dos americanos Goth Money Records – na noite seguinte tocariam em Lisboa, na ZDB. A crew esteve representada por apenas dois membros (Black Kray e MFK Marcy Mane) e ao longo da actuação foram lamentando os vários problemas que tiveram durante a viagem para Portugal (telemóvel perdido, computador avariado) e a prestação musical terá sido disso reflexo, com pouco fulgor. O público também não se mostrou particularmente entusiasmado. Ficou prometida a visita da família completa, para breve.
De volta ao palco principal, actuaram os ingleses Sons of Kemet. Ao leme, no saxofone tenor, estava Shabaka Hutchings; na tuba, não estava o virtuoso Oren Marshall, membro original da banda que entretanto saiu, mas o seu substituto, Theon Cross; e o apoio rítmico estava assente nas baterias de Seb Rochford e Tom Skinner. A configuração instrumental parte de uma natureza jazz, a música é original, com raízes africanas. O quarteto desenvolve uma música altamente enérgica, assente nas frases do saxofone, repetidas em crescendo enérgico, secundado pela tuba, que neste contexto acumula funções: cumpre o duplo papel de substituição de contrabaixo e de segundo solista; e a dupla de baterias intensifica o carácter altamente rítmico desta música. O público foi desde cedo conquistado e não escondeu a sua completa devoção. Temas como “Play Mass” fizeram o público vibrar, dançar, e mesmo em momentos mais relaxados, mesmo durante o solo da tuba, o público relevou uma atenção reverencial. É incrível ver uma banda de raíz jazzística, que não cede a facilitismos, que nem sequer toca covers rock, a fazer a festa e a conquistar o público de um festival destes (quantos dos presentes já teriam comprado um disco de jazz na vida?). É certo que a margem para a improvisação é limitada, mas exemplos como os Sons of Kemet ou Kamasi Washington mostram que é possível produzir jazz original e levá-lo a um público mais jovem e alargado.
Pelo palco Lovers passou o trio Marshstepper + HHY + Varg, que apresentou uma electrónica arrastada e experimental, combinando um som industrial e vocalização metal. De regresso ao palco Milhões, chegou de vez de actuar um dos nomes maiores desta edição do festival: os suecos Goat. Combinação de ritual xamãnico e explosão rock, experimentação tribal e eficiência pop/rock, o grupo de Korpilombolo apresentou-se com as habituais máscaras, num espectáculo que foi além da música, teve também uma forte componente visual. No palco Lovers seguiram-se The Bug presents Acid Ragga with Miss Red e Cheryl, mas já não ficámos para assistir a esses espectáculos mais tardios. Nuno Catarino
· 03 Ago 2016 · 00:58 ·
DIA 2 |
