NOS Alive 2016
Passeio Marítimo de Algés
7-9 Jul 2016
Dia Três

A pedido de muitas famílias, ou na verdade apenas de um indivíduo, abandonamos a fortaleza para ir até ao palco Clubbing picar os Whales, meninos simpáticos da zona de Leiria que talvez precisem de ser salvos. Que a piada tosca com baleias não vos impeça de os descobrir ou redescobrir, contudo. O quarteto pratica um rock ocasionalmente electrónico gostoso, na onda de uns Galgo, onde as guitarras cintilantes se aliam aos ritmos de dança; este é o tipo de concerto que, às 17h do último dia de um festival, nos dá genica para continuar, mesmo que tenha ficado marcado pela estranheza que foi ver gente sentada junto às grades e uma fila considerável a dançar cá atrás... Um pouco mais tarde, e do outro lado, os Calexico dariam um concerto irrepreensível, indie rock latino que muito fez dançar a multidão ali colocada, spaghetti western musicado que terá feito o enorme Bud Spencer sorrir lá em cima. O público aplaude muito e ainda mais abana as ancas; há alguém que diz que compra erva num cartaz; há a magnífica "Cumbia De Donde" a dar vontade de fazer filhos. Podendo... (PAC)

O último dia de festival começou a trazer a melancolia saudosista de sempre. José González foi quem a trouxe primeiro. O Palco Heineken estava lotado como nunca, não era possível nem amarrar os atacadores, nem os cabelos. Com aqueles acordes calmos de uma guitarra cansada e frouxa, era também impossível não entrar na vibe proposta por José. Era a calmidão a apoderar-se de algum agito, como em "Crosses". E quando o sol começava a se pôr, a banda dava uma ajuda a mais na manutenção dos corações pulsantes. José González é belíssimo, e deve ser ainda mais num concerto intimista. Palmas para o sueco, que esbanja tanta latinidade que faz-nos duvidar a sua origem. (MM)

Primeiro escuta-se "Ready To Start", tema que dá o mote para que 55 mil pessoas juntem as mãos e orem colectivamente em honra dos Arcade Fire, sublinhando uma vez mais o amor que Portugal tem por eles e vice-versa; fomos um de três países a acolhê-los em 2016 e, não fosse Éder fazer disparar corações no dia seguinte, já teríamos aqui um motivo para gritar bem alto "campeões, nós somos campeões". Do casal Butler e Régine não se ouviu muitas palavras, mas ouviu-se sobretudo um concerto coeso e repleto de bons momentos, um concerto que deu continuidade à magia de há dez anos, quando Funeral deu uma sova emocional a muito boa gente.

De "Suburbs", uma canção "sobre saudade", passamos a "Reflektor", em modo house: teclados melódicos, ritmo gingão e o verso na boca, uma dança que "Afterlife" prosseguiu. "Normal Person", um dos temas menos celebrados de Reflektor, surge vestido à Talking Heads, levando milhares de gente a pular antes da magnífica "Intervention", que começa com Nirvana e acaba com "God Save The Queen", dos Sex Pistols, statement não se sabe de quê... Brexit, talvez. Mas que interessa o Brexit quando há o estrondo de "My Body Is A Cage", casais abraçados em juras e a brancura das vestes de Butler a dar o tom religioso de que a canção precisava? A vida são dois dias e o êxtase uns segundos. "No Cars Go" é emocionante, mas não chegou nem perto; "Ocean Of Noise" vê-los trazer a palco os Calexico para dar uma pequena ajuda.

A sequência "Neighbourhood" e "Rebellion (Lies)", salutar encontro com esse primeiro disco que os tornou num culto antes de se tornarem estrelas, puxou pela memória dos fãs mais antigos; "Here Comes The Night Time", depois do vocalista ter descido ao público e depois de uns quantos gigantones entrarem em palco para dançar um sambinha, amenizou as hostes até à chegada da chuva mágica de confetti. Mas não era a chuva que valia a pena. Era, isso sim, "Wake Up", onde alguém ganha uma pandeireta e outros milhares ganham mais uns quantos anos de vida. Mesmo que tenha sido um dos concertos menos bons dos Arcade Fire em Portugal, não foi menos que perfeito. E há tão pouca gente capaz de fazer isso.

Para o grand finale, o NOS Alive reservou a estreia da canadiana Grimes, que surge rodopiando em palco juntamente com as suas bailarinas, num concerto em que ainda estamos a decidir se foi absurdamente genial ou apenas um valente balde de merda - e o facto de parecer funcionar em playback não ajudou. Trazendo às costas uma capa de super-heroína do Tumblr, Grimes começou com a j-pop filtrada de "REALiTi" perante um público enormíssimo e entusiasta, que lhe há-de ter perdoado todas as falhas. Como a de "Be A Body" ter sido reescrita quando já era incrível antes... O melhor de Grimes é ver como é que uma pequena pinypon é capaz, a certa altura, de espalhar noise fodido pelo éter e gritar como muitos meninos do black metal gostariam de conseguir; o pior é quando o eurodance em ácidos começa a enjoar severamente. Talvez tenha sido arte performativa e nós não sabemos. (PAC)

Foi para o final, lá pelas uma e tal da manhã, que surgiu a dupla Ratatat. E foi mesmo para despedir em grande deste cartaz impecável. Pois, os nova-iorquinos trataram de fincar o público ao chão e era impossível de lá sair. No calar da noite, o som fez-se mais intenso e absurdamente alto. Era hora da ressaca de Arcade Fire e também hora de "Cream Or Chrome". As batidas se este deram aos novos temas de magnifique, e também à alguns clássicos mais antigos. Os Ratatat selaram com louvor. (MM)
· 13 Jul 2016 · 23:56 ·

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