NOS Alive 2016
Passeio MarÃtimo de Algés
7-9 Jul 2016
DIA 2 |
Dia Dois
Há dois tipos de lava quente que marcam o segundo dia do NOS Alive. A primeira sai-nos das goelas, logo de manhã, depois de termos, quiçá, dado demasiado; a segunda sai do astro-rei e torna encarnada uma pele que tem orgulho de ser azul. Mas que importa isso quando Courtney Barnett não aquece mas sim electrifica os corações presentes no palco Heineken, por volta das sete da tarde? Apoiada no seu disco de estreia, a australiana trouxe a Algés uma série de desenhos bizarros, que iam sendo exibidos em palco, por trás da sua banda, e uma guitarra estupidamente grunge que fez as delícias de todos aqueles que ainda sonham com os velhinhos anos 90. Barnett or bust, leu-se num cartaz... E a endiabrada singer-songwriter, por entre a urgência das suas cordas, mostrou ser uma mulher muito perigosa ao longo do seu set - especialmente com "Pedestrian At Best", uma bojarda acima de todas as demais bojardas, que provocou a loucura generalizada e, claro, o crowdsurf.
Os Tame Impala reencontraram o público português pela quinta vez em seis anos, numa altura em que já não existe francamente pachorra para os aturar, queremos batatas fritas, queremos batatas fritas, porra!, mas mesmo com todo o fel que nasce do baço e desemboca nas mãos, o algodão-doce de "Let It Happen" faz a alma crescer três vezes e perdoar-lhes momentaneamente esse atrevimento de parecerem querer enjoar-nos à exaustão. Há braços que sobem e descem numa dança estranha. Melhor ainda, há t-shirts femininas que sobem e descem deixando a descoberto o alimento primário da humanidade. Em pleno pôr-do-sol, os Tame Impala trazem a luz, cores muitas e o tipo de groove psicadélico de que a criançada gosta... É deixá-los viver. (PAC)
O dia 8 era, sem dúvidas, o melhor dia do festival. E foi também o dia do melhor concerto. Father John Misty, o autor do que vi de mais intenso por ali. Claro que John Misty está longe de ser o que de melhor passou pelo Passeio Marítimo de Algés este ano, mas o além-música contou muito. A sensibilidade tão grande quanto a barba fez toda a diferença. Logo ao início, veio "I Love You, Honeybear" a dar tudo e mais um pouco. Alguns choros e abraços apertados foram causados, são os efeitos colaterais de algumas melodias. Nada que atrapalhasse a noite. Mas aí veio "When You're Smiling And Astride Me". Aí teve John Misty para toda a gente. Teve mensagem para ex. Teve beijo na pessoa do lado que não se conhecia. Em meio disto, um coro inacabável de "ôôôô", que chegou a parecer um concerto dos Arcade Fire. Father é um grande pai. (MM)
Era dos Radiohead um dos concertos mais aguardados do 2016 musical em Portugal; com A Moon Shaped Pool, os britânicos deixaram de rejeitar o seu passado, na verdade abraçando-o como um amigo há muito perdido, fazendo dessa forma as delícias de quem, saudoso ou estúpido - mais a segunda - clama apenas por "Creep". Que é uma bela canção. Mas não é a única canção bela dos Radiohead. Ouçam "Burn The Witch", a primeira faixa do novo disco, um ataque de pânico a baixa altitude que aqui se apresenta sem cordas mas tão tensa quanto em acrílico. Mais de cinquenta mil pessoas concentradas em Thom Yorke e companhia, até porque àquela hora mais ninguém tocava... E eis que surge "Daydreaming", soberba canção - e de uma solidão atroz; Yorke parece realmente, por momentos, cantar isolado de tudo o que o rodeia. Impressionante.
Nos Radiohead, especialmente nesta versão da banda que não se inibe de vasculhar o baú, ainda há muito que nos surpreende. Há pop electrónica, há krautrock rasgado, e há até quem os compare aos The xx (coitados...), prova cabal de que é dificílimo caracterizar uma banda tão camaleónica quanto esta. Feitas as apresentações de A Moon Shaped Pool, eis o primeiro grande momento de êxtase colectivo: "My Iron Lung", portento de guitarras salva-vidas, afogamento impedido pelas braçadas subsequentes de "Lotus Flower" (e sim, Thom Yorke dançou) e pela enternecedora "Exit Music (For A Film)". Com "Reckoner", o público, talvez mais propenso à rockalhada, volta a espevitar; mas é o momento rave de "Everything In Its Right Place", com o vocalista a bater palminhas e um sintetizador a fazer a festa, que se apresenta como um dos momentos mais interessantes da noite, antes de "Idioteque" testar a paciência desses mesmos rockeirinhos... que talvez tenham ficado bastante agradados com os riffs de "Bodysnatchers".
Do momento de comunhão em "Street Spirit (Fade Out)" os Radiohead saltam para o muito aguardado encore, não porque assinala o fim do espectáculo, mas porque nesta digressão tem guardado dentro de si as maiores surpresas; "Bloom" e "Paranoid Android" erguem bem alto a fasquia (como não entoar rain down, come on rain down on me?...), antes de "Nude" ressoar pelo recinto em todo o seu esplendor. E, de repente, quando alguns já abandonavam e choravam angustiados pela ausência de "Creep", eis que ela surge, grungy, alienada, com toda a gente sabendo os seus versos na ponta da língua, porque infelizmente os Radiohead são uma das melhores bandas do mundo com uma das fanbases mais imbecis. "Karma Police" para terminar e a sensação de dever cumprido. Uma sensação que há quatro anos não tinha existido. Já os podemos ver outra vez? (PAC)
Directamente do Reino Unido e de algumas décadas passadas, os Hot Chip brilharam em excesso no Palco Heineken. Confesso, que não os conhecia bem, ainda bem que um amigo disse-me que era imperdível. E foi. Tantos anos nas costas mas parecem ainda jovens. Com aquela empolgação de fazer o seu primeiro concerto. Foi bom tê-los visto mesmo à frente, e isto basta. Why make sense? (MM)
Há dois tipos de lava quente que marcam o segundo dia do NOS Alive. A primeira sai-nos das goelas, logo de manhã, depois de termos, quiçá, dado demasiado; a segunda sai do astro-rei e torna encarnada uma pele que tem orgulho de ser azul. Mas que importa isso quando Courtney Barnett não aquece mas sim electrifica os corações presentes no palco Heineken, por volta das sete da tarde? Apoiada no seu disco de estreia, a australiana trouxe a Algés uma série de desenhos bizarros, que iam sendo exibidos em palco, por trás da sua banda, e uma guitarra estupidamente grunge que fez as delícias de todos aqueles que ainda sonham com os velhinhos anos 90. Barnett or bust, leu-se num cartaz... E a endiabrada singer-songwriter, por entre a urgência das suas cordas, mostrou ser uma mulher muito perigosa ao longo do seu set - especialmente com "Pedestrian At Best", uma bojarda acima de todas as demais bojardas, que provocou a loucura generalizada e, claro, o crowdsurf.
Os Tame Impala reencontraram o público português pela quinta vez em seis anos, numa altura em que já não existe francamente pachorra para os aturar, queremos batatas fritas, queremos batatas fritas, porra!, mas mesmo com todo o fel que nasce do baço e desemboca nas mãos, o algodão-doce de "Let It Happen" faz a alma crescer três vezes e perdoar-lhes momentaneamente esse atrevimento de parecerem querer enjoar-nos à exaustão. Há braços que sobem e descem numa dança estranha. Melhor ainda, há t-shirts femininas que sobem e descem deixando a descoberto o alimento primário da humanidade. Em pleno pôr-do-sol, os Tame Impala trazem a luz, cores muitas e o tipo de groove psicadélico de que a criançada gosta... É deixá-los viver. (PAC)
O dia 8 era, sem dúvidas, o melhor dia do festival. E foi também o dia do melhor concerto. Father John Misty, o autor do que vi de mais intenso por ali. Claro que John Misty está longe de ser o que de melhor passou pelo Passeio Marítimo de Algés este ano, mas o além-música contou muito. A sensibilidade tão grande quanto a barba fez toda a diferença. Logo ao início, veio "I Love You, Honeybear" a dar tudo e mais um pouco. Alguns choros e abraços apertados foram causados, são os efeitos colaterais de algumas melodias. Nada que atrapalhasse a noite. Mas aí veio "When You're Smiling And Astride Me". Aí teve John Misty para toda a gente. Teve mensagem para ex. Teve beijo na pessoa do lado que não se conhecia. Em meio disto, um coro inacabável de "ôôôô", que chegou a parecer um concerto dos Arcade Fire. Father é um grande pai. (MM)
Era dos Radiohead um dos concertos mais aguardados do 2016 musical em Portugal; com A Moon Shaped Pool, os britânicos deixaram de rejeitar o seu passado, na verdade abraçando-o como um amigo há muito perdido, fazendo dessa forma as delícias de quem, saudoso ou estúpido - mais a segunda - clama apenas por "Creep". Que é uma bela canção. Mas não é a única canção bela dos Radiohead. Ouçam "Burn The Witch", a primeira faixa do novo disco, um ataque de pânico a baixa altitude que aqui se apresenta sem cordas mas tão tensa quanto em acrílico. Mais de cinquenta mil pessoas concentradas em Thom Yorke e companhia, até porque àquela hora mais ninguém tocava... E eis que surge "Daydreaming", soberba canção - e de uma solidão atroz; Yorke parece realmente, por momentos, cantar isolado de tudo o que o rodeia. Impressionante.
Nos Radiohead, especialmente nesta versão da banda que não se inibe de vasculhar o baú, ainda há muito que nos surpreende. Há pop electrónica, há krautrock rasgado, e há até quem os compare aos The xx (coitados...), prova cabal de que é dificílimo caracterizar uma banda tão camaleónica quanto esta. Feitas as apresentações de A Moon Shaped Pool, eis o primeiro grande momento de êxtase colectivo: "My Iron Lung", portento de guitarras salva-vidas, afogamento impedido pelas braçadas subsequentes de "Lotus Flower" (e sim, Thom Yorke dançou) e pela enternecedora "Exit Music (For A Film)". Com "Reckoner", o público, talvez mais propenso à rockalhada, volta a espevitar; mas é o momento rave de "Everything In Its Right Place", com o vocalista a bater palminhas e um sintetizador a fazer a festa, que se apresenta como um dos momentos mais interessantes da noite, antes de "Idioteque" testar a paciência desses mesmos rockeirinhos... que talvez tenham ficado bastante agradados com os riffs de "Bodysnatchers".
Do momento de comunhão em "Street Spirit (Fade Out)" os Radiohead saltam para o muito aguardado encore, não porque assinala o fim do espectáculo, mas porque nesta digressão tem guardado dentro de si as maiores surpresas; "Bloom" e "Paranoid Android" erguem bem alto a fasquia (como não entoar rain down, come on rain down on me?...), antes de "Nude" ressoar pelo recinto em todo o seu esplendor. E, de repente, quando alguns já abandonavam e choravam angustiados pela ausência de "Creep", eis que ela surge, grungy, alienada, com toda a gente sabendo os seus versos na ponta da língua, porque infelizmente os Radiohead são uma das melhores bandas do mundo com uma das fanbases mais imbecis. "Karma Police" para terminar e a sensação de dever cumprido. Uma sensação que há quatro anos não tinha existido. Já os podemos ver outra vez? (PAC)
Directamente do Reino Unido e de algumas décadas passadas, os Hot Chip brilharam em excesso no Palco Heineken. Confesso, que não os conhecia bem, ainda bem que um amigo disse-me que era imperdível. E foi. Tantos anos nas costas mas parecem ainda jovens. Com aquela empolgação de fazer o seu primeiro concerto. Foi bom tê-los visto mesmo à frente, e isto basta. Why make sense? (MM)
· 13 Jul 2016 · 23:56 ·
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