Rock In Rio 2016
Parque da Belavista, Lisboa
19-20 e 27-29 Maio 2016
Dia Três

À saída do metro da Bela Vista, deparamo-nos com um simpático senhor de leste que nos pergunta qual o alinhamento porque mora aqui perto e tem bilhete e não conhece nada do que vai tocar. Valha a verdade, o senhor em questão não estará sozinho - porque ninguém vem ao Rock In Rio pela música, preferindo formar filhas intermináveis em busca de um pufe ou de uma aula grátis de zumba por oposição a apanhar, no Palco Vodafone, os Cave Story a darem um concerto fenomenal, eles que tiveram quiçá o melhor som de todo o festival. Ainda que estivessem alguns resistentes em frente ao palco, foi bastante pouco para uma banda que evoca as guitarras rasgadas dos Television, o espírito de Jonathan Richman e o malfadado futebol. Enfim, n'é?

Os Cave Story tiveram poucos, os Glockenwise idem, eles que vieram apresentar uma vez mais à capital os temas de Heat, o seu terceiro álbum. Tocam a sua melhor canção logo à segunda - "Scumbag" -, expressam o seu amor uns pelos outros e provam que são uma das melhores bandas garage rock da Europa inteira, mas isso já o sabíamos há anos. O que não sabíamos, antes de voltar a subir montes e vales, era que o som em Metz iria prejudicar, em grande escala, o seu regresso a Portugal. Mesmo que os canadianos tenham mostrado o hardcore bojudo que os tornou um nome de referência do rock dos últimos anos, o facto de mal se ouvir a guitarra causou alguma celeuma - nada que prejudicasse o moshpit, o único que vimos formar-se neste festival, pancadaria da grossa onde coabitavam ex-concorrentes de reality shows da TVI e o querido Alex D'Alva. "Wasted" e "Acetate", dois hinos a ter em conta.

Temia-se a chuva, e ela foi aparecendo a espaços. Mas não foi a chuva aquilo que prejudicou o concerto dos Korn, e sim uma alegada falha técnica que provocou sonoras gargalhadas da parte deste escriba e daqueles que o rodeavam, porque o momento, entretanto já dissecado por toda a imprensa, foi a pièce de résistance que faltava a um festival como este. Claro que é pena não ter escutado "Right Now" (I fucking hate you, a história de uma vida), mas valeu pelos olhares indignados, pelo coro de Rock In Rio, vai p'ró caralho e pelas reclamações que se lhe seguiram. Lindo.

Os Hollywood Vampires podem ser muito esforçados, mas para ver bandas de versões mais vale acabar a noite num tasco qualquer do Cais ou Cascais, ainda para mais quando metade do público só tinha interesse em Johnny Depp, que foi impecável a transpôr Hunter S. Thompson para o grande ecrã e até teve ali um ou outro rasgo rock n' roll, ele que se encontra a atravessar um péssimo bocado. Se do interpretar de "20th Century Boy", dos T. Rex, nada há a apontar, o resto foi um desfilar de vergonha alheia e indignação: como é que um tipo como Alice Cooper, não obstante o facto de ser um grande senhor do rock, tem coragem de cantar "My Generation" e dizer com orgulho I hope I die before I get old? Felizmente que a noite terminaria apenas com um DJ set chill da parte de Nightmares On Wax, que espalhou o groove pela tenda electrónica antes do chato do Hudson Mohawke subir ao palco para representar a nova música electrónica urbana, seja lá isso o que for. (PAC)
· 12 Jun 2016 · 10:23 ·

FOTOGALERIA
RELACIONADO / Rock In Rio, 2016