SWR Barroselas Metalfest
Barroselas
22-24 Abr 2016
Dia Dois

Por entre um sono tranquilo, jogos de futebol que não o típico em Barroselas e um par de gins tónicos porque o calor a isso convidava, a equipa Bodyspace chega de novo ao recinto onde é quase gozada pelos seus compatriotas: méne, vocês perderam Grunt!, sendo que os Grunt são representantes nacionais do grindcore e, em palco, espetaram seringas nas costas e dildos no cu. Foi uma falha grave da nossa parte, admitimos. Mas só conseguimos chegar a tempo de ver os Usnea tornar a sala dois numa capela mortuária capaz de acolher o seu funeral doom arrastado e tenebroso, headbanging feito em câmara lenta e pulsos jorrando sangue até à palidez. Apesar de interessantes, limitaram-se a preparar terreno para os Monolord, donos de um som Sabbathiano mas ainda mais pesado, nobres representantes do classicismo no heavy metal, que até conseguiram fazer com que uma certa tonalidade psicadélica soasse bem neste nobre ano de 2016. Foram a verdadeira definição de power trio durante os quarenta e poucos minutos que deles vimos.

Power pareciam também ter os Bodybag, recomendadíssimos antes de entrarmos de novo na sala; mas os Bodybag mais não eram que um grind *naquela*, que não aquece nem arrefece, que não provoca o calafrio nem o tédio, mas sim uma forte indiferença. Os problemas de som que tiveram pelo meio também não os ajudaram... Assim como não nos ajudaram os Marduk, que hoje em dia não passam de um nome - mesmo que nunca tenham sido dos projectos de black metal mais interessantes do mundo ao longo destes quase trinta anos. O mote foi dado: let's not forget why we're here tonight... To slay the Nazarene!, mas o que se seguiu foi um concerto demasiado previsível, blastbeats entroncados e um sinal claro de que a idade pesa até no mais psicopata dos demónios. Mau? Talvez não o tenha sido. Apenas desilusão. Dura.

Os Inverloch, um doom/death que não nos tirou a vontade de beber cerveja, revelaram-se na mesma medida porreiros (quando aceleravam) e chatos p'ra cacete (quando paravam). Mas depois houve Grave, a salvar a honra de tudo o que em Barroselas não era black metal. Os suecos, um clássico dentro do death, apresentaram-se poderosos e possantes, e com vontade de fazer aquilo que os Marduk não haviam feito: destruir tudo. Riffs que eram uma deliciosa jarda, pancadaria de comer e chorar por mais, potenciada pelo moshpit e pelo crowdsurf muito que foi aparecendo. Grandes, grandes senhores. E seria deles, talvez, o melhor concerto de todo o festival - não fosse o terceiro dia...

Quase tão bons como os Grave só os SPASM, que no palco principal se dedicaram à javardice total: monokinis enfiados no rego, grindcore da escola matança-do-porco e canções bonitas, fofinhas, sobre masturbação (e outras coisas piores). Da mesma forma que o vocalista (podemos sequer chamar-lhe isso?) se passeava com um pénis enfiado na testa, o baterista parecia que tinha acabado de sair do seu aborrecido emprego enquanto técnico de informática - e muito provavelmente foi isso que aconteceu. O melhor deste tipo de grind é que aqueles seres humanos, para além das parafilias e da brutalidade, são gente normalíssima que só faz isto para se divertir um bocado. E, por arrasto, também nos divertem a nós. A toada manteve-se com os Gorgásmico Pornoblastoma, mas musicalmente em melhor: aquela bateria, chapa batendo em chapa, foi qualquer coisa de arrepiante.
· 29 Abr 2016 · 00:19 ·
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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