Reverence Valada
Valada
27-29 Ago 2015
DIA 3 |
Ahhh, o Barreiro, bastião nacional do rock enxuto, velha guarda e sem merdas, que tem sido berço, nos últimos anos, de coisas tão boas como Nick Nicotine e os The Act-Ups (já lá vamos), os PISTA e, claro está, Fast Eddie Nelson, que levou ao Palco Praia o seu blues rock à antiga, para gáudio de um bom número de resistentes que escolheu enfrentar o sol e a moleza típica da tarde. Num concerto que teve um pouco de tudo, inclusive moshes e piadas sobre mortes por overdose e electrocussão, o destaque foi, definitivamente, para a versão filha da puta (num bom sentido) que Nelson Oliveira e companhia fizeram de "Come Together", dos The Beatles. Tivessem sido todos os concertos como este e não teríamos fôlego nem para metade do festival.
Em busca de qualquer coisa que desenjoasse do omnipresente blues rock psicadélico, regressámos ao Palco Praia na esperança de vislumbrar a folk de Miranda Lee Richards, aqui acompanhada de membros dos The Brian Jonestown Massacre. Infelizmente, não se pode dizer que tenhamos visto grande coisa: as constantes falhas técnicas, a forçar pausas de quatro e cinco minutos entre cada canção, e o subsequente êxodo massivo do público (no final do concerto não restavam mais de cinquenta pessoas para contar a história) fizeram desta uma triste estreia da norte-americana em Portugal. (JM)
Já tínhamos visto os Samsara Blues Experiment num longínquo Sonicblast, do qual escrevemos: «concerto agradável q.b.». Bem, tal máxima também se aplica a este concerto no Reverence (ou então nós é que já estávamos fartos de tantas guitarras iguais umas às outras), um dos motivos pelos quais decidimos, a meio do espectáculo, ir à descoberta da aldeia para apanhar o Mágico Porto num café meio escondido e com cerveja barata. A julgar pela qualidade do jogo (que resultou, ainda assim, num 2-0 contra o Estoril) mais valia termos ficado a ver o resto do concerto. (PAC)
Já aqui falámos do Barreiro enquanto fonte de bom rock, e foi isso mesmo que se viu com o concerto dos The Act-Ups. Com Nick Nicotine a dirigir, o grupo foi vertendo o seu garage rock suado no Palco Praia, perante uma modesta mas fiel audiência de bravos que preferiram a distorção e as piadas em estilo deadpan à hora de jantar. Curto e grosso, como é suposto no que ao rock castiço diz respeito, foi um show de quarenta minutos que despertou uma larica de voltar a ouvir The Act-Ups Play the Old Psychedelic Sounds Of Today, in memoriam de verões passados.
É difícil sentir alguma compaixão por Joel Gion, desde 2011 numa carreira a solo ensombrada pelo "fantasma" dos The Brian Jonestown Massacre e de Anton Newcombe, quando vemos o norte-americano a fazer tão pouco para se demarcar da imagem da sua antiga banda e do seu alucinado líder. Sempre rodeado de membros, antigos e actuais, dos The Brian Jonestown Massacre, e com uma assinatura musical em nada diferente da que lhes conhecemos (em suma, rock psicadélico dos anos 60 misturado com desvarios shoegaze e uma sensibilidade que só pode ser filha dos anos 90), Gion tem muito pouco para trazer à mesa que não nos tenha sido já mostrado por Newcombe nos últimos 25 anos. E ao vivo isto traduz-se num espectáculo que, não sendo nada mau, só nos deixa com vontade de ver "a sério" os BJM.
Falar dos Amon Düül II é falar de uma parte significativa da história da música psicadélica e experimental; é falar do som que surgiu na Alemanha no final dos anos 60 e que ainda hoje continua tão fresco e actual como há quase cinquenta anos. E é impossível pensar no concerto dos alemães no palco principal do Reverence sem ter em mente o papel que estes tiveram no desenvolvimento da música moderna e sentir uma lagrimazinha a escorrer lágrima abaixo por termos a oportunidade de os ver ao vivo, em carne e osso, em pleno 2015. Não é de estranhar, portanto, que toda e qualquer pretensão de "isenção jornalística" vá com o galheiro e que não tenhamos nada senão coisas maravilhosas para dizer. Não, a voz de Renate Knaup já não tem o fulgor de outros tempos (e mesmo nesses outros tempos, sempre foi demasiado idiossincrática para agradar a todos) e não, os Amon Düül II já não têm a vitalidade nem a química presentes em Phallus Dei (1969), Yeti (1970) ou Tanz Der Lemminge (1971) mas, porra, só podem estar a mentir aqueles que disserem que não sentiram um arrepio espinha abaixo ao ouvir "Deutsch Nepal" ou "Surrounded By The Stars". E por muito que queiramos fugir aos lugares-comuns, ver um quase septuagenário como Chris Karrer a sair-se com um improviso de flamenco ou a partir tudo no violino é ver o adágio popular "velhos são os trapos" a ganhar vida.
Por mais confusa que tenha sido a confirmação dos The Horrors como cabeças-de-cartaz de um Reverence cheio de blues rock psicadélico, a verdade é que ainda nos custa a acreditar que tão pouca gente se tenha dado ao trabalho de ir até ao palco principal ver os britânicos (para terem um termo de comparação, a plateia tinha, no máximo dos máximos, um terço dos que ali estiveram para ver Sleep e um menos de metade dos que viram Amon Düül II). Nada que tenha incomodado Faris Badwan e companhia, que deram um concerto a todos os níveis competente, ainda que curiosamente mais centrado em Primary Colours (2009) e Skying (2011) do que em Luminous (2014). E ainda bem, acrescentamos nós, porque "Sea Within A Sea" e "Moving Further Away" fizeram o nosso sangue fervilhar muito mais do que "Scarlet Fields". (JM)
Já o relógio soava as 4h da madrugada quando Tiago Castro, ou Acid Acid, sobe ao Palco Praia para fechar com chave de ouro o Reverence Valada, escassas horas após a equipa Bodyspace se ter enfiado na zona do backstage para beber álcool à pala - já que o que é preciso é estar sempre bêbado, todo fodido. Não que a electrónica psicadélica que Tiago Castro apresentou tenha sido má - muito, muito pelo contrário, foi uma espécie de bálsamo depois de tanto riff; o nosso estado festivo é que se calhar não permite juízos de valor objectivos. Por isso vamos só dizer que foi do caralho. Assim se fechou o Reverence; para o ano, calculamos, haverá nova edição, havendo tempo para corrigir falhas (demasiados artistas similares, pouca variedade, escassez de autocarros entre o recinto e a estação em horas de calor, sobrelotação de metaleiros com pulseiras do Vagos) e outro tanto para confirmar, sei lá, os dois que cancelaram este ano. Ou então os A.R. Kane, vá. (PAC)
Em busca de qualquer coisa que desenjoasse do omnipresente blues rock psicadélico, regressámos ao Palco Praia na esperança de vislumbrar a folk de Miranda Lee Richards, aqui acompanhada de membros dos The Brian Jonestown Massacre. Infelizmente, não se pode dizer que tenhamos visto grande coisa: as constantes falhas técnicas, a forçar pausas de quatro e cinco minutos entre cada canção, e o subsequente êxodo massivo do público (no final do concerto não restavam mais de cinquenta pessoas para contar a história) fizeram desta uma triste estreia da norte-americana em Portugal. (JM)
Já tínhamos visto os Samsara Blues Experiment num longínquo Sonicblast, do qual escrevemos: «concerto agradável q.b.». Bem, tal máxima também se aplica a este concerto no Reverence (ou então nós é que já estávamos fartos de tantas guitarras iguais umas às outras), um dos motivos pelos quais decidimos, a meio do espectáculo, ir à descoberta da aldeia para apanhar o Mágico Porto num café meio escondido e com cerveja barata. A julgar pela qualidade do jogo (que resultou, ainda assim, num 2-0 contra o Estoril) mais valia termos ficado a ver o resto do concerto. (PAC)
Já aqui falámos do Barreiro enquanto fonte de bom rock, e foi isso mesmo que se viu com o concerto dos The Act-Ups. Com Nick Nicotine a dirigir, o grupo foi vertendo o seu garage rock suado no Palco Praia, perante uma modesta mas fiel audiência de bravos que preferiram a distorção e as piadas em estilo deadpan à hora de jantar. Curto e grosso, como é suposto no que ao rock castiço diz respeito, foi um show de quarenta minutos que despertou uma larica de voltar a ouvir The Act-Ups Play the Old Psychedelic Sounds Of Today, in memoriam de verões passados.
É difícil sentir alguma compaixão por Joel Gion, desde 2011 numa carreira a solo ensombrada pelo "fantasma" dos The Brian Jonestown Massacre e de Anton Newcombe, quando vemos o norte-americano a fazer tão pouco para se demarcar da imagem da sua antiga banda e do seu alucinado líder. Sempre rodeado de membros, antigos e actuais, dos The Brian Jonestown Massacre, e com uma assinatura musical em nada diferente da que lhes conhecemos (em suma, rock psicadélico dos anos 60 misturado com desvarios shoegaze e uma sensibilidade que só pode ser filha dos anos 90), Gion tem muito pouco para trazer à mesa que não nos tenha sido já mostrado por Newcombe nos últimos 25 anos. E ao vivo isto traduz-se num espectáculo que, não sendo nada mau, só nos deixa com vontade de ver "a sério" os BJM.
Falar dos Amon Düül II é falar de uma parte significativa da história da música psicadélica e experimental; é falar do som que surgiu na Alemanha no final dos anos 60 e que ainda hoje continua tão fresco e actual como há quase cinquenta anos. E é impossível pensar no concerto dos alemães no palco principal do Reverence sem ter em mente o papel que estes tiveram no desenvolvimento da música moderna e sentir uma lagrimazinha a escorrer lágrima abaixo por termos a oportunidade de os ver ao vivo, em carne e osso, em pleno 2015. Não é de estranhar, portanto, que toda e qualquer pretensão de "isenção jornalística" vá com o galheiro e que não tenhamos nada senão coisas maravilhosas para dizer. Não, a voz de Renate Knaup já não tem o fulgor de outros tempos (e mesmo nesses outros tempos, sempre foi demasiado idiossincrática para agradar a todos) e não, os Amon Düül II já não têm a vitalidade nem a química presentes em Phallus Dei (1969), Yeti (1970) ou Tanz Der Lemminge (1971) mas, porra, só podem estar a mentir aqueles que disserem que não sentiram um arrepio espinha abaixo ao ouvir "Deutsch Nepal" ou "Surrounded By The Stars". E por muito que queiramos fugir aos lugares-comuns, ver um quase septuagenário como Chris Karrer a sair-se com um improviso de flamenco ou a partir tudo no violino é ver o adágio popular "velhos são os trapos" a ganhar vida.
Por mais confusa que tenha sido a confirmação dos The Horrors como cabeças-de-cartaz de um Reverence cheio de blues rock psicadélico, a verdade é que ainda nos custa a acreditar que tão pouca gente se tenha dado ao trabalho de ir até ao palco principal ver os britânicos (para terem um termo de comparação, a plateia tinha, no máximo dos máximos, um terço dos que ali estiveram para ver Sleep e um menos de metade dos que viram Amon Düül II). Nada que tenha incomodado Faris Badwan e companhia, que deram um concerto a todos os níveis competente, ainda que curiosamente mais centrado em Primary Colours (2009) e Skying (2011) do que em Luminous (2014). E ainda bem, acrescentamos nós, porque "Sea Within A Sea" e "Moving Further Away" fizeram o nosso sangue fervilhar muito mais do que "Scarlet Fields". (JM)
Já o relógio soava as 4h da madrugada quando Tiago Castro, ou Acid Acid, sobe ao Palco Praia para fechar com chave de ouro o Reverence Valada, escassas horas após a equipa Bodyspace se ter enfiado na zona do backstage para beber álcool à pala - já que o que é preciso é estar sempre bêbado, todo fodido. Não que a electrónica psicadélica que Tiago Castro apresentou tenha sido má - muito, muito pelo contrário, foi uma espécie de bálsamo depois de tanto riff; o nosso estado festivo é que se calhar não permite juízos de valor objectivos. Por isso vamos só dizer que foi do caralho. Assim se fechou o Reverence; para o ano, calculamos, haverá nova edição, havendo tempo para corrigir falhas (demasiados artistas similares, pouca variedade, escassez de autocarros entre o recinto e a estação em horas de calor, sobrelotação de metaleiros com pulseiras do Vagos) e outro tanto para confirmar, sei lá, os dois que cancelaram este ano. Ou então os A.R. Kane, vá. (PAC)
· 13 Set 2015 · 21:17 ·
Paulo CecÃliopauloandrececilio@gmail.com
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