Reverence Valada
Valada
27-29 Ago 2015
Chegamos ao segundo dia do Reverence ainda a tempo de apanhar os The Dead Mantra, a apresentar as canções do seu mais recente disco, Nemure (2014). Sem grandes falhas, mas também sem grandes momentos dignos de nota, o grupo desfilou o seu shoegaze-zinho perante um Palco Rio a meio gás, com a plateia indecisa entre aproveitar o show dos franceses ou dormir a sesta e carregar as baterias para Stoned Jesus. Verdade seja dita, os que escolheram a última opção talvez tenham sido os mais sensatos. (JM)

^ E certo estava o meu colega (não vimos Novella; provavelmente não perdemos nada de especial). Os Stoned Jesus vieram directamente da ressacada Ucrânia para dar um dos grandes concertos do festival, stoner que não caía na bonomia, um baixista com uma wifebeater do Autobahn (nota mental: quero muito!), uma banda que parecia estar a divertir-se imenss por ter vindo tocar tão longe de casa e um espectáculo que nos retemperou a bateria rock para o restante dia. Houve até espaço para O momento do Reverence: uma versão sumptuosa de "One Armed Scissor", dos At The Drive-In, que chocou uns e levou outros ao delírio. Enormes! (PAC)

Passamos pelo Palco Praia para espreitar os Cheatahs e não podíamos ter saído de lá mais desolados – não pela prestação da banda em si, mas sim pela plateia totalmente vazia. Quanto ao concerto em si, foi bom, ainda que talvez tenha pecado por mostrar em demasia as canções do novo disco (Mythologies, agendado para Outubro), em detrimento das malhas incendiárias do homónimo de 2013. Ainda assim, a explosiva "Geographic" a explodir (passe o pleonasmo) ali pelo meio fez com que este tenha sido um dos melhores concertos que ninguém viu em 2015; e é pena, porque com mais malta talvez se tivesse feito uma grande festa. (JM)

Os Process Of Guilt regressaram ao Reverence com o merecido estatuto de banda-de-palco-principal - eles que, dentro do metal nacional, são uma das suas mais interessantes propostas. Ou então, e que se foda, podemos muito bem exagerar com carinho e dizer que dentro do metal europeu são uma das suas mais interessantes propostas. O concerto, que se iniciou pelas 19h, começou tremido, com alguns perceptíveis problemas de som, mas melhorou substancialmente ao longo do período total de jarda, fazendo a terra vomitar e o nosso sangue ferver de raiva. O peso bruto dos moços quase que deita abaixo o palco; podia era ter deitado abaixo o sol, que a jarda dos Process é para ser sentida no meio do negrume.

Mas se os Process representam o novo, os Bizarra Locomotiva são um símbolo do oldschool, com mais de vinte anos de existência e muita força ainda para dar e vender. Desculpem, dissemos "força"? Queríamos dizer "enxerto de porrada". Diz-se deles que nunca dão um concerto mau; este, no Reverence, entre tantas e tantas bandas que, não obstante a qualidade que possam ter, não interessam puto, foi só dos melhores que já vimos. Ritmos industriais assinalando o triunfo da máquina, coadjuvada pela voz cavernosa de Rui Sidónio - o único em Portugal capaz de rivalizar com Adolfo Luxúria Canibal -, um público fervoroso a recebê-los e a tenebrosidade de "Mortuário" naquela que soou a uma celebração de tudo o que os Bizarra já fizeram (algo verdadeiramente incomensurável, admitamos). No final, restou a nudez e a sensação de que, ao pé dos Bizarra, os Black Rainbows mais não eram uma bandinha chata de skate rock. (PAC)

Não vale a pena estar aqui com rodeios, os Alcest não foram feitos para ser a banda de festival em que se tornaram. E não, não dizemos isto com um tom trve de quem achincalha tudo o que veio a seguir a Souvenirs D’un Autre Monde (2005) e Écailles De Lune (2010), até porque Les Voyages De L’Âme (2012) e Shelter (2014), não estando nem de perto nem de longe ao nível dos discos anteriores, também merecem o nosso carinho. Não, dizemo-lo porque há qualquer coisa que se perde na sonoridade dos franceses num palco em campo aberto, como a voz de Neige, que soa choninhas quando se quer etérea e patética quando se quer choninhas, ou a parede de som da distorção, que aqui passou os limites do razoável para o campo do ininteligível. E sim, claro que vibrámos que nem crianças a recordar "Percées De Lumière" e "Souvenirs D’un Autre Monde", mas não conseguimos deixar de ficar com a sensação de que dentro de quatro paredes a coisa tinha corrido muito melhor. (JM)

Apesar de Jon Spencer muito se esforçar, não há pachorra para aquilo que nos é dado a comer vezes e vezes sem conta; isto é válido tanto para o psych omnipresente pelo Reverence como para as inúmeras vezes que o frontman da Blues Explosion repete o nome da banda, num gimmick irritante que só distrai das boas canções rock que Spencer tem no goto. Seja como for, o norte-americano, mesmo que o seu currículo mereça todo o nosso respeito, mais não pareceu que um garoto ao pé da bojarda sonora que foi o concerto dos Sleep; não há que enganar, eram eles e só eles quem este público (bem composto) queria ver neste festival. Acenderam-se picas, abanaram-se as cabeças, e agradeceu-se ao trio ter criado algo tão assombroso de bom quanto o é "Dopesmoker". Também Al Cisneros agradeceu, prostrando-se no chão após o fim do concerto, rezando a um Deus desconhecido ou então à sua legião de fãs. Melhor ou pior que os Electric Wizard no ano passado pouco importa; foi um sonho em tons de arrasto. (PAC)
· 13 Set 2015 · 21:17 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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