Milhões de Festa
Barcelos
23-26 Jul 2015
DIA 4 |
Dia Três
A piscina de domingo abriu com os Pista, expoentes do bikecore (e únicos praticantes do género). Tocaram demasiado cedo, pelo que não chegámos a tempo de ver o trio barreirense a tocar o clássico instantâneo "Puxa". Seguiu-se a actuação de Al Lover, que apresentou na piscina a sua electrónica dançante, amálgama de referências dispersas. Até houve espaço para o clássico "Trans-Europe Express" dos Kraftwerk. Mas foi preciso entrar Branko para o povo começar a dançar sem medos em frente ao palco. O músico dos Buraka Som Sistema levou África, claro, mas não só. Ouviram-se sons universais, sempre com objectivo dançante: houve Brasil, Estados Unidos da América, América do Sul, até um pouco de Índia. Deixou dezenas de pessoas a dançar à sua frente e foi sem dúvida o grande vencedor da piscina de domingo. Embora sem mesmo o fôlego da actuação anterior, a dupla Chris Menist + Maft Sai continuou a festa, directamente da América do Sul, enquanto a piscina era ameaçada por uma irritante chuva fininha - que felizmente não passou de ameaça. NC
Aos Test, grindcore feito a dois e com sotaque brasileiro, caberia a missão de encerrar por definitivo o palco Taina. E fizeram-no da melhor forma; um concerto violentíssimo onde o que salta a vista é a qualidade animalesca do baterista, que parece fazer disto tudo algo tão fácil que até uma criança de três anos o conseguiria - e depois apercebemo-nos que não, estamos só perante um baterista do caralho. Não que o guitarrista não o seja, ele que também foi arriscando nos guturais, e que no final da noite dormia aninhado num dos pufes da barraquinha da Jameson, já no recinto. No final, convidam os amigos D.E.R. para uma sessão a cinco, "experimental", onde na coluna da esquerda se ouvia um tema, na da direita outro, e no meio uma salganhada do caraças. Até os Flaming Lips se riram. PAC
O palco Milhões arrancou no domingo com uma das prestações nacionais mais aguardadas, o concerto de Medeiros/Lucas. Combinando o espírito açoriano, trazido pela voz (incrivelmente poderosa, diabólica) de Carlos Medeiros com o espírito e a força rock da banda comandada por Pedro Lucas resulta uma mescla original, intensa e genuína. Houve espaço para uma cantora convidada, Mitó Mendes, e para fechar a banda atacou "O Navio", com toda a sua força emotiva. Já no palco Vodafone.FM os ingleses Gum Takes Tooth foram uma daquelas boas surpresas; apesar do nome estranho, revelaram ser um duo muito curioso. Apenas voz, sintetizador e bateria bastaram para encher todo o palco, a electrónica criativa a crescer sobre a bateria trepidante, com a voz processada a ajudar. Apesar da falha de electricidade (logo na segunda música), ultrapassaram esse percalço e conquistaram facilmente o público. NC
O nome é comprido e é um verdadeiro trava-línguas: The Paradise Bangkok Molam International Band. Vêm da Tailândia e apostam em fazer dançar; como não, já que gamaram todas as suas linhas de baixo aos Chic? Não obstante o plágio, o que é certo é que o concerto do grupo se revela bastante interessante, quanto mais não seja pelo exotismo da coisa e pelo evidente fascínio que revelavam nos seus rostos por estarem a dar um concerto quase do outro lado do mundo. Melhores só os Dreamweapon, space rock feito como manda a tradição, abusando nos efeitos e erguendo-se nos céus de Barcelos como um foguetão descolando rumo a um planeta desconhecido. Com disco de estreia editado recentemente, mostraram que são já um dos valores mais seguros do rock nacional.
Por esta altura já poucas forças existiam para aguentar a última noite de Milhões de Festa, sendo que nem o MD oferecido nos ajudaria a recompormo-nos, e por isso os concertos dos Bad Guys e dos Plus Ultra foram sobejamente ignorados; algo que não podia de todo acontecer com The Bug, até porque o próprio não o permitiria, começando com cinco minutos de noise ambiente que depois vão dar a samples de Death Grips e a beats demoníacos tornados ainda mais satânicos pela presença dos MCs Flow Dan e Manga. Misturando dancehall, dubstep, algum drum n' bass e tudo quanto era agressivo, o britânico deu um concerto memorável, ainda que para pouca gente, e fez-nos repensar seriamente se o que queremos para as nossas vidas é continuar a ouvir música feita com guitarras. Comparados com The Bug, os Prodigy de há duas semanas são uns miúdos tenrinhos que ainda não saíram da fase pontapé-no-cu-da-avó até à de terroristas urbanos escondidos pelo hoodie. E ainda têm a coragem de lançar discos novos...
Findaria o Milhões de Festa, da nossa parte, com os Meridian Brothers, mais um projecto baseado na cumbia que tocaram uma versão de "Purple Haze", levando-nos imediatamente a perguntar ao colega do lado «foda-se, isto é a "Purple Haze?"», como um reflexo. Seguiram-se-lhes os Cairo Liberation Front, que contaram com a presença do Vítor dos Equations em palco, e de La Flama Blanca, que contou com o tronco do Amílcar da Internet. Mas, aqui, já tínhamos abalado em direcção ao sul, trauteando uma das canções que melhor representam a depressão pós-Milhões de Festa que se abate sempre sobre nós quando o terceiro dia termina: "There Is A Light That Never Goes Out"... e a luz regressará em 2016. PAC
A piscina de domingo abriu com os Pista, expoentes do bikecore (e únicos praticantes do género). Tocaram demasiado cedo, pelo que não chegámos a tempo de ver o trio barreirense a tocar o clássico instantâneo "Puxa". Seguiu-se a actuação de Al Lover, que apresentou na piscina a sua electrónica dançante, amálgama de referências dispersas. Até houve espaço para o clássico "Trans-Europe Express" dos Kraftwerk. Mas foi preciso entrar Branko para o povo começar a dançar sem medos em frente ao palco. O músico dos Buraka Som Sistema levou África, claro, mas não só. Ouviram-se sons universais, sempre com objectivo dançante: houve Brasil, Estados Unidos da América, América do Sul, até um pouco de Índia. Deixou dezenas de pessoas a dançar à sua frente e foi sem dúvida o grande vencedor da piscina de domingo. Embora sem mesmo o fôlego da actuação anterior, a dupla Chris Menist + Maft Sai continuou a festa, directamente da América do Sul, enquanto a piscina era ameaçada por uma irritante chuva fininha - que felizmente não passou de ameaça. NC
Aos Test, grindcore feito a dois e com sotaque brasileiro, caberia a missão de encerrar por definitivo o palco Taina. E fizeram-no da melhor forma; um concerto violentíssimo onde o que salta a vista é a qualidade animalesca do baterista, que parece fazer disto tudo algo tão fácil que até uma criança de três anos o conseguiria - e depois apercebemo-nos que não, estamos só perante um baterista do caralho. Não que o guitarrista não o seja, ele que também foi arriscando nos guturais, e que no final da noite dormia aninhado num dos pufes da barraquinha da Jameson, já no recinto. No final, convidam os amigos D.E.R. para uma sessão a cinco, "experimental", onde na coluna da esquerda se ouvia um tema, na da direita outro, e no meio uma salganhada do caraças. Até os Flaming Lips se riram. PAC
O palco Milhões arrancou no domingo com uma das prestações nacionais mais aguardadas, o concerto de Medeiros/Lucas. Combinando o espírito açoriano, trazido pela voz (incrivelmente poderosa, diabólica) de Carlos Medeiros com o espírito e a força rock da banda comandada por Pedro Lucas resulta uma mescla original, intensa e genuína. Houve espaço para uma cantora convidada, Mitó Mendes, e para fechar a banda atacou "O Navio", com toda a sua força emotiva. Já no palco Vodafone.FM os ingleses Gum Takes Tooth foram uma daquelas boas surpresas; apesar do nome estranho, revelaram ser um duo muito curioso. Apenas voz, sintetizador e bateria bastaram para encher todo o palco, a electrónica criativa a crescer sobre a bateria trepidante, com a voz processada a ajudar. Apesar da falha de electricidade (logo na segunda música), ultrapassaram esse percalço e conquistaram facilmente o público. NC
O nome é comprido e é um verdadeiro trava-línguas: The Paradise Bangkok Molam International Band. Vêm da Tailândia e apostam em fazer dançar; como não, já que gamaram todas as suas linhas de baixo aos Chic? Não obstante o plágio, o que é certo é que o concerto do grupo se revela bastante interessante, quanto mais não seja pelo exotismo da coisa e pelo evidente fascínio que revelavam nos seus rostos por estarem a dar um concerto quase do outro lado do mundo. Melhores só os Dreamweapon, space rock feito como manda a tradição, abusando nos efeitos e erguendo-se nos céus de Barcelos como um foguetão descolando rumo a um planeta desconhecido. Com disco de estreia editado recentemente, mostraram que são já um dos valores mais seguros do rock nacional.
Por esta altura já poucas forças existiam para aguentar a última noite de Milhões de Festa, sendo que nem o MD oferecido nos ajudaria a recompormo-nos, e por isso os concertos dos Bad Guys e dos Plus Ultra foram sobejamente ignorados; algo que não podia de todo acontecer com The Bug, até porque o próprio não o permitiria, começando com cinco minutos de noise ambiente que depois vão dar a samples de Death Grips e a beats demoníacos tornados ainda mais satânicos pela presença dos MCs Flow Dan e Manga. Misturando dancehall, dubstep, algum drum n' bass e tudo quanto era agressivo, o britânico deu um concerto memorável, ainda que para pouca gente, e fez-nos repensar seriamente se o que queremos para as nossas vidas é continuar a ouvir música feita com guitarras. Comparados com The Bug, os Prodigy de há duas semanas são uns miúdos tenrinhos que ainda não saíram da fase pontapé-no-cu-da-avó até à de terroristas urbanos escondidos pelo hoodie. E ainda têm a coragem de lançar discos novos...
Findaria o Milhões de Festa, da nossa parte, com os Meridian Brothers, mais um projecto baseado na cumbia que tocaram uma versão de "Purple Haze", levando-nos imediatamente a perguntar ao colega do lado «foda-se, isto é a "Purple Haze?"», como um reflexo. Seguiram-se-lhes os Cairo Liberation Front, que contaram com a presença do Vítor dos Equations em palco, e de La Flama Blanca, que contou com o tronco do Amílcar da Internet. Mas, aqui, já tínhamos abalado em direcção ao sul, trauteando uma das canções que melhor representam a depressão pós-Milhões de Festa que se abate sempre sobre nós quando o terceiro dia termina: "There Is A Light That Never Goes Out"... e a luz regressará em 2016. PAC
· 01 Ago 2015 · 15:38 ·
Paulo CecÃliopauloandrececilio@gmail.com
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