Optimus Alive 2013
Passeio Marítimo de Algés, Oeiras
12-14 Jul 2013
Se os Green Day trouxeram com eles a juventude, os Depeche Mode apelaram sobretudo a quem já conta com alguma sapiência; chegaram todos, velhos e menos velhos, já a noite era puxada e a maioria dos interesses de hoje havia abandonado os seus respectivos palcos. E eram muitos, enchendo o passeio marítimo, trazendo nas vozes a saudade de cantar que nem um moçoilo, entregando-se até a um ou outro prazer menos digno do seu B.I. (estou a falar de droga, evidentemente). O segundo dia do Optimus Alive fez-se de momentos mais arrebatadores, emocionalmente falando, quer tenha sido o ódio quer tenha sido o amor absoluto. Mas, começando pelo ódio...

Existem muitas bandas más. Existem muitas bandas péssimas. Existem muitas bandas que nos ofendem enquanto melómanos, seja porque a sua música é o equivalente ao choque entre uma gasolineira e uma maternidade, seja porque a sua postura em palco e fora dele nos enche de vontade de, em bom português, lhes partir a cara toda, como quando percorremos ruas embriagadas e alguém nos aborda e pensamos "foda-se, que gajo idiota, vou fodê-lo todo". Depois existem bandas que nos fazem perder toda a nossa fé naquilo que se apelidou de música. Os Boca Doce são essa banda; em apenas dez minutos arruinaram toda a esperança que alguém poderia ter num mundo melhor, apresentando versões punk rock de pseudo-clássicos nacionais como os Da Vinci, Xutos ou mesmo as Doce tocadas por um grupo de indumentária a condizer com o som, isto é, palhaçada. «Isto não é para quem não tenha sentido de humor», avisaram-nos antes do concerto. Está certo. Curiosamente, o Nilton diz exactamente a mesma merda.

Se os Boca Doce me fizeram perder a fé na música, How To Dress Well fez-me perder a fé no amor. Em disco, Tom Krell e o seu projecto de R&B a puxar para o alternativo não me havia causado grande incómodo, mas ao vivo há toda uma série de novas subtilezas que se puderam captar apesar dos problemas com o ruído dos outros palcos (ou então eu é que estava muito alterado), algo que o próprio não se coibiu de criticar por várias vezes. Naquela voz aguda escondem-se dramas, vidas trágico-cómicas, as palavras que nunca lhes diremos por pudor ou vergonha; How To Dress Well é um destroço emocional à espera de nos acontecer e foi muito por isso que foi dos melhores concertos deste Alive. Em quarenta minutos ficam os ritmos ora arrastados ora dançáveis ao jeito de Ibiza, o bastante público que o viu actuar e os versos de "I Wish", versão que fez de R. Kelly. Googlem.

Não seria talvez a melhor opção a seguir ao que se passou no Clubbing, mas os Rhye tinham obrigatoriamente de ser vistos - afinal de contas, é deles um dos discos do ano. Apresentando-se enquanto banda, tiveram de superar os problemas do costume enquanto algum público se aglomerava no Heineken, especialmente para ouvir "Open", facto a que até Mike Milosh, o dono da voz andrógina, fez alusão. Entre um bom set com ecos de bossa nova, R&B, as melhores malhas das compilações do Café Del Mar e sexo tântrico, os Rhye fizeram por merecer essa afluência, gerada pelo hype, é certo, mas uma prolongada "Last Dance" só nos faz querer dar-lhes o mundo. Fora isso é pena que não tenham permitido a captação de fotos. Até foram hipócritas ao ponto de as tirarem eles, ao público, para as suas contas de Instagram. Para a próxima também levo um sinal de proibido para as grades.

Os Depeche Mode ainda existem em 2013. Crítica? Nah, ainda bem que o fazem; é impossível não ficar indiferente, passem os anos que passem sem lhes ouvir os discos, a canções como "Walking In My Shoes", "Enjoy The Silence" ou, evidentemente, "Personal Jesus", com um início bluesy a preparar os presentes para a descarga que se lhe seguiria. Houve igualmente espaço para os temas do mais recente Delta Machine, mas o melhor momento para quem estava a ver da porta da sala de imprensa (isto é, eu e a minha fotógrafa) foi "Just Can't Get Enough", essa canção de tempos idos que continuam a tocar mesmo depois de todas as drogas e todos os vícios e todos os dramas e quejandos. Um belíssimo concerto para nos restaurar alguma fé. Depois disso os 2 Many DJs ocupar-se-iam do palco principal para tocar as remisturas que tão bem lhes conhecemos, período durante o qual um alterado Kevin Parker irrompeu pela sala de imprensa e quase que prometeu marcar presença no Milhões de Festa, e os Crystal Castles apresentariam um set em tudo idêntico ao do concerto no TMN ao Vivo de Fevereiro, razão pela qual não valia a pena resistir mais que seis canções.
· 18 Jul 2013 · 00:00 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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