A Fundação de Serralves apresentou neste sábado, integrado na 14.ª edição do minifestival Jazz No Parque, o projecto “Aki Takase plays Fats Waller”. Depois de Zé Eduardo Unit ter “jazzado ao Zeca” na semana anterior, o campo de ténis recebeu o quinteto liderado pela pianista japonesa.
© Marco Oliveira |
Thomas “Fats” Waller (1904-1943) foi um pianista de invulgar popularidade
nos anos 20 e 30, que se transformou em figura incontornável na história do jazz. Com o seu modo próprio de tocar e cantar, numa época em que reinavam
os ritmos quentes do swing, foi um ”showman” incomparável e
a história encarregou-se de mitificar a sua figura.
A proposta da pianista japonesa Aki Takase, conjugar a música antiga de Fats
com a modernidade do seu free jazz, parecia à partida arriscada. Mas
Takase reuniu à sua volta um quinteto de excelentes músicos que conseguiram
dar corpo ao projecto. Ao lado de Aki Takase (piano), juntaram-se Eugene Chadbourne
(voz, banjo e guitarra), Rudi Mahall (clarinete baixo), Nils Wogram (trombone)
e Paul Lovens (bateria).
A
invulgar formação conseguiu fazer uma improvável e bem conseguida ligação
entre o classicismo da música de Fats Waller e a loucura do free jazz.
Uma vez que todos os músicos demonstravam grande à-vontade tanto nos temas
clássicos como nos devaneios experimentais, a mudança de registo era sempre
efectuada de modo suave e nunca se notaram quebras ou colagens forçadas.
A líder Aki Takase demonstrou domínio completo na técnica do piano “stride” e simultaneamente rejubilava de gozo durante os momentos mais “free” (e um
dos momentos mais inesperados aconteceu quando juntou bolas de ping-pong às
cordas do piano). Eugene Chadbourne fez o papel de entertainer e, tal
como faria Fats Waller, salpicou as interpretações com muito humor. A dupla
de instrumentos de sopro, Rudi Mahall no clarinete baixo (o instrumento que
Eric Dolphy elevou) e Nils Wogram no trombone, revelou-se competente e com
imaginação, apesar do papel secundário a que foi remetida. E o experiente
baterista Paul Lovens mostrou a sua classe e enorme versatilidade (e já agora
um aviso: este senhor vai estar proximamente na Gulbenkian ao lado de Evan
Parker e Alexander Von Schlippenbach).
Os temas foram quase todos naturalmente roubados ao songbook de Fats.
O concerto abriu com “Looking Good, But Feeling Bad”, seguiram-se outras velhas
canções e, lá pelo meio, surgiu um tema de W.C. Handy. A acabar apareceu a
música mais famosa de Fats Waller: “Ain’t Misbehavin”. Em rapsódia, novamente
o regresso a “Looking Good, But Feeling Bad”. Swing “meets” free jazz - era uma tarefa aparentemente difícil, mas o grupo de Aki Takase conseguiu
levá-la a bom Porto.
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