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Aki Takase
Serralves, Porto
16/07/2005


A Fundação de Serralves apresentou neste sábado, integrado na 14.ª edição do minifestival Jazz No Parque, o projecto “Aki Takase plays Fats Waller”. Depois de Zé Eduardo Unit ter “jazzado ao Zeca” na semana anterior, o campo de ténis recebeu o quinteto liderado pela pianista japonesa.

© Marco Oliveira

Thomas “Fats” Waller (1904-1943) foi um pianista de invulgar popularidade nos anos 20 e 30, que se transformou em figura incontornável na história do jazz. Com o seu modo próprio de tocar e cantar, numa época em que reinavam os ritmos quentes do swing, foi um ”showman” incomparável e a história encarregou-se de mitificar a sua figura.

A proposta da pianista japonesa Aki Takase, conjugar a música antiga de Fats com a modernidade do seu free jazz, parecia à partida arriscada. Mas Takase reuniu à sua volta um quinteto de excelentes músicos que conseguiram dar corpo ao projecto. Ao lado de Aki Takase (piano), juntaram-se Eugene Chadbourne (voz, banjo e guitarra), Rudi Mahall (clarinete baixo), Nils Wogram (trombone) e Paul Lovens (bateria).

A invulgar formação conseguiu fazer uma improvável e bem conseguida ligação entre o classicismo da música de Fats Waller e a loucura do free jazz. Uma vez que todos os músicos demonstravam grande à-vontade tanto nos temas clássicos como nos devaneios experimentais, a mudança de registo era sempre efectuada de modo suave e nunca se notaram quebras ou colagens forçadas.

A líder Aki Takase demonstrou domínio completo na técnica do piano “stride” e simultaneamente rejubilava de gozo durante os momentos mais “free” (e um dos momentos mais inesperados aconteceu quando juntou bolas de ping-pong às cordas do piano). Eugene Chadbourne fez o papel de entertainer e, tal como faria Fats Waller, salpicou as interpretações com muito humor. A dupla de instrumentos de sopro, Rudi Mahall no clarinete baixo (o instrumento que Eric Dolphy elevou) e Nils Wogram no trombone, revelou-se competente e com imaginação, apesar do papel secundário a que foi remetida. E o experiente baterista Paul Lovens mostrou a sua classe e enorme versatilidade (e já agora um aviso: este senhor vai estar proximamente na Gulbenkian ao lado de Evan Parker e Alexander Von Schlippenbach).

Os temas foram quase todos naturalmente roubados ao songbook de Fats. O concerto abriu com “Looking Good, But Feeling Bad”, seguiram-se outras velhas canções e, lá pelo meio, surgiu um tema de W.C. Handy. A acabar apareceu a música mais famosa de Fats Waller: “Ain’t Misbehavin”. Em rapsódia, novamente o regresso a “Looking Good, But Feeling Bad”. Swing “meets” free jazz - era uma tarefa aparentemente difícil, mas o grupo de Aki Takase conseguiu levá-la a bom Porto.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
16/07/2005