Amplifest 2012
Porto
26-28 Out 2012
Jozef van Wissem

No domingo o Amplifest saiu do Hard Club e entrou na Sé do Porto numa belíssima sala - espécie de capela - que Jozef van Wissem havia de encher de som - ainda que sem ajuda de amplificação - com o seu alaúde. Em vez de alguma atonalidade que marca o seu trabalho, o músico holandês optou por composições melodicamente acessíveis e directas - de belo e imediato efeito. Em pouco mais de quarenta minutos, entre temas de discos a solo e discos em colaboração com Jim Jarmush, Josef van Wissem deu um belíssimo concerto e nem sequer se esqueceu de agradecer ao padre da Sé pela simpatia de proporcionar um momento daqueles a todos os que encheram por completo a sala. Espera-se que para 2013 o Amplifest volte a repetir a gracinha de "descentralizar". André Gomes

Black Bombaim

Todos os concertos dos Black Bombaim resultam no mesmo - intensas descargas de electricidade, viagens stoner por universos inimagináveis sem um auxílio psicotrópico, o peso que se abate sobre os nossos pescoços quando não conseguimos parar de assentir repetida e furiosamente. E, no entanto, existe sempre um elemento de imprevisibilidade que impede que os Black Bombaim se tornem apenas mais uma banda, um nome no cartaz que possamos ignorar facilmente porque já os vimos duas, cinco vezes; não, sorrimos como se fosse a primeira mal se chega ao break da faixa de abertura de Titans e ouvimos a voz de Adolfo Luxúria Canibal a ressoar nas nossas cabeças mesmo que ele não se encontre de todo presente. Mais um concerto em cheio da banda de Barcelos, que contou igualmente com a ajuda preciosa de Tiago Jónatas e Pedro Sousa. Será que não se cansam de ser tão grandes? Paulo Cecílio


Oxbow Duo

Existia o receio de que o formato duo retirasse muito daquilo que torna os Oxbow um dos nomes mais cultuados do noise rock. Entramos na sala e apercebemos-nos de que nos enganámos. Redondamente. Porque existe sempre Eugene Robinson, dono de um vozeirão imponente, garganta afinada em direcção ao blues e à soul - a verdadeira, a que é arrancada a ferros da pele -, juntamente com um guitarrista quase perfeito na sua abordagem ao instrumento (as guitarras, como as pessoas, devem contar histórias e não notas), que proporcionaram o melhor concerto do Amplifest, exemplificando tudo aquilo que o rock deve ser: violento, assassino, assustador, imprevisível. A par de um lento strip-tease que parou mais cedo do que as crónicas normalmente dizem, Eugene Robinson contou histórias escritas a sangue, clamou por Deus com meio corpo enfiado num esgoto metafísico e o restante em sexo alheio, fez música alimentada a gasolina (fire it up!) e deixou gente de boca aberta e braços na cabeça: de onde surgiu isto?. Prova cabal de que as opiniões infundadas estão sempre erradas, seria por eles, mais que pelos GY!BE, que o festival deveria ter esgotado. Resumindo: absolutamente genial. Paulo Cecílio

© Angela Costa

Godspeed You! Black Emperor

Os GY!BE reformaram-se, embora nunca tenham realmente desaparecido, mudaram de nome, se bem que ninguém os recorde verdadeiramente como God's Pee, e lançaram um novo disco, que entretanto todos ouvimos, ainda que não fosse por ele mas pelos trabalhos anteriores que muita gente se deslocou ao Hard Club para testemunhar a força sonora dos Canadianos em primeira mão. Durante duas horas e alguns minutos, os Godspeed assaltaram os ouvidos de cada um com camadas e camadas de excelente ruído, desde "Mladic", quiçá a melhor canção retirada de Allelujah! Don't Bend! Ascend!, onde os encontramos em modo dançável (!) via Balcãs, passando por "Sleep", que valeu uma enorme ovação do público, até "Behemoth" e "Monheim", sendo que nesta última a guitarra de David Bryant morre para sempre, o que impediu que "East Hastings", planeado encore, fosse rejeitada após três notas - mordendo aquilo que poderia ter sido um concerto perfeito. Apesar destes problemas, os GY!BE não foram nem mais nem menos daquilo que se esperava; foram simplesmente eles próprios, ou seja, muito bons. Mas, por favor, que não se lembrem de voltar a arriscar canções quando há pessoas a querer apanhar comboios. Paulo Cecílio


© Angela Costa
· 30 Out 2012 · 11:28 ·

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