Milhões de festa
Barcelos
20-22 Jul 2012
Já se sabe que a vida são dois dias e o Milhões são três, por isso quem possa passar apenas um dia por Barcelos tem de o aproveitar ao máximo. Assim é importante chegar cedo, para garantir um lugarzinho na relva para estender a toalha, escolher bem a vizinhança (i.e., os bikinis à volta) e não perder pitada dos concertos na piscina (sim, também há música). O segundo dia oficial de concertos arrancou com a actuação dos Gnod, que encheram o espaço da piscina com electrónica lamacenta. Funcionou como boa banda sonora para quem espalhava o protector solar, dava os primeiros mergulhos e ia buscar a primeira cerveja da tarde. Já com o público mais acordado chegaram os Revengeance: estamos próximos do território do metal, riffs acelerados onde uma voz gutural masculina entra em choque com um voz feminina punk/riot (bom sonoro para quem mandava bombas para a piscina mais à bruta). Entrou depois a dupla Moulinex & Xinobi, os primeiros vencedores do dia, que souberam pôr o povo a dançar, não só quem se abanava em frente ao palco/tenda, mas até quem estava dentro da piscina não resistia a mexer-se ao ritmo daquela electrónica de bom gosto (num misto de dança slow-motion e hidro-ginástica). Após o "warm up" da dupla da Discotexas, Da Chick confirmou-se como o melhor momento musical da tarde na piscina. Apesar de mostrar "apenas" a sua voz por cima de material pré-gravado, a "chick" Teresa Freitas de Sousa apresentou o seu cocktail funk & soul, herdeira directa do legado de James Brown, plena de energia e vitalidade. Não faltou o hit "Cocktail", delicioso, que não perde nada ao vivo ("and yes she's pretty lovely"). A tarde de música na piscina fechou com a actuação dos Bro-X, que arrastaram consigo o seu hip-hop barreirense satírico/corrosivo/fodido. Cheios de palavrões de ordem, os temas repartiam-se entre momentos de provocação sexual (80%) e alguns momentos mais sérios de consciência social. O pico do concerto foi a interpretação do hit "Karla Puta", cantada em uníssono por aqueles que se encontravam em frente ao palco.

Entre a saída da piscina, o jantar e a chegada ao recinto principal perdemos a actuação dos Blue Pills no palco Milhões, mas chegámos ainda a tempo de ver alguns minutos dos Lüger, que encheram o palco Vice com o seu rock sujo. Além de atrasada em relação ao horário previsto, a actuação de El Perro del Mar foi vítima de uma série de constrangimentos: o espaço não seria o ideal, a banda teve um arranque titubeante (que incluiu um engano num tema e a sua repetição) e principalmente um público indiferente, que parecia lá estar apenas porque não havia mais nada a acontecer no mundo (muitos deles prefeririam estar a ver uma repetição de um Gil Vicente vs Benfica dos anos 90 na RTP Memória). Apesar da banda servir-se de alguns instrumentos tocados ao vivo, a essência da música era pré-gravada, sobre a qual se juntava a voz de Sarah Assbring. O som resultava pouco orgânico, a recepção fria do público não ajudava e consequentemente o entusiasmo da banda era inexistente, perdendo-se a beleza de canções doces como "I was a boy". Sob outras condições, como aconteceu na noite anterior no Lux em Lisboa, teria corrido tudo melhor. Bem melhor correu a actuação dos Prinzhorn Dance School no Palco Vice. Trio básico de guitarra, baixo (gaja de calções curtos) e bateria, além da voz, os PDS fazem pequenas canções incisivas à base de rock directo, sem merdas. Só o groove do baixo bastaria para deixar toda a gente a dançar. No palco Milhões Connan Mockasin encontrou um público mais caloroso que a banda antecessora. O projecto vindo da Nova Zelândia levou a suas guitarras espaciais, estratosféricas, que ficaram a meio caminho entre uma sensibilidade pop e uma veia altamente trippy. Pelo meio chamaram um elemento do público para tocar teclado, durante uns segundos, curiosamente um dos grandes do meio jornalístico-crítico-etc. (o Filipe Mateus Pedro, da Fest & etc.). O concerto, muito aplaudido, terminou com uma apropriada jam, '70s style. Nuno Catarino

Os Gala Drop bem que precisavam de me animar, depois de ter feito muito provavelmente a pior entrevista da minha vida e de me ter humilhado publicamente repetidas vezes perante suecas chorosas. Mostraram no palco Vice porque é que são das melhores bandas portuguesas da actualidade: uma bateria motorik e melodias electrónicas psicadélicas, com o intuito de transportar a bem composta multidão para outros planos de percepção e preparada para o transe que se seguiria, que seria mais por via do peso e não da dança. Os portugueses deram um óptimo concerto antes de subirem ao principal os Weedeater, que eram porventura a segunda banda mais desejada pelos festivaleiros, segundo sondagens à boca das tendas em momentos matutinos de cegueira. O riff aqui arrasta-se, o cheiro a marroquina é mais do que muito e o diabo está omnipresente nas mãos que se erguem em sinal de aprovação; os norte-americanos fizeram por merecer o estatuto de cabeças de cartaz e os fãs do metal não terão por que se queixar. Porém, as maiores surpresas estavam reservadas - como o parecem estar sempre neste festival - para o palco secundário. Os Ghunagangh vieram do Porto para uma sessão de hip-hop fodido, se bem que o corpo já não aguentasse a seguir aos Bro-X; Publicist, o tal concerto-que-vai-ser-tocado-no-meio-do-público-e-toda-a-gente-vai-achar-do-caralho-só-por-causa-disso, apresentou-nos um baterista fã de deep house o suficiente para espalhar ritmo pelo público, fazendo-o no meio do mesmo, o que foi do caralho; xxxy deu-nos o melhor set da noite, alternando entre dubstep, house e Funky não faltando a enorme canção que vai pelo nome de "Push The Feeling On". Os Sabre teriam gostado de cá vir. Paulo Cecílio
· 24 Jul 2012 · 01:10 ·
Paulo Cecílio e Nuno Catarino

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