Optimus Primavera Sound
Parque da Cidade/Casa da Música, Porto.
07-10 Jun 2012
Os Linda Martini fazem todo o sentido no Primavera, uma vez que são, claramente, a banda “rockeira” portuguesa que mais diz ao público-alvo do Festival. E diga-se que não deixaram os créditos por mãos alheias, dando um excelente concerto, pleno de euforia. Apostando num formato em palco que coloca os quatro membros ao mesmo nível uns dos outros, os Linda Martini atacaram os seus riffs e ritmos quais pilotos de Fórmula 1 determinados a chegar em primeiro a cada curva, por mais apertada que seja. Comunicativos, com o baterista Hélio Morais a fazer mesmo um crowd-surfing até à mesa de som, são hoje um colectivo que convida ao arregalar de olhos e ao grito estomacal. Mesmo que, pronto, as letras continuem a ser o seu ponto mais fraco. Nuno Proença

Chairlift © Angela Costa

O palco ATP abriu e bem com as canções sossegadas e circunscritas dos Tall Firs. Do pouco que deu para ver, as canções de Dave Mies e Aaron Mullan, que lembraram não raras vezes os Sonic Youth (o primeiro disco da dupla teve o selo da Ecstatic Peace! de Thurston Moore), inauguraram o palco mais ousado (e mais bonito, já agora) do festival com chave de ouro. Pouco depois, no Palco Primavera, os Yo La Tengo, entre canções fofinhas e outras mais ruidosas, mostraram porque é que são um dos bastiões do indie rock após quase trinta anos de actividade. Passearam-se por vários discos com distinção e ainda se lembraram de “Little Eyes” que terá alegrado uns quantos corações indie. Uma hora soube a pouco, mas antes uma hora que nada. Ainda não deu para esquecer aqueles dez minutos de circularidade noise ou o final doce de “My Little Corner of the World”.

Yo LaTengo © Angela Costa

Na habitual correria dos festivais em que é preciso fazer escolhas, deu para ouvir três ou quatro canções macias de Tennis que não deixaram grande memória; deu para, durante uns vinte ou trinta minutos, ver e ouvir Rufus Wainwright apresentar o seu novo disco e, entre canções mais ou menos interessantes, mostrar uma interpretação inspirada de “Art Teacher”; e ainda deu para ver um naco do concerto de Chairlift, que deixaram bons apontamentos em canções como “Amanaemonesia” e noutras cantigas de sugestão assumidamente retro. André Gomes

Shellac © Angela Costa

Um cliché que se usa muito, e quem escreve isto não é inocente, é dizer de uma banda que demonstram “tudo o que a música pode ser”. Não é verdade. Nenhuma banda o faz, e é essa uma das razões porque a música é algo de valor incalculável. Se Wayne Coyne e os Flaming Lips são o lado de comunhão de mil e uma cores, Steve Albini e os Shellac são o exemplo claro de algo que Jerry Seinfeld dizia: os homens, e aqui as mulheres também, adoram ver outros homens a executarem trabalhos manuais. Os Shellac não estão para conversas, mas sabem exactamente o que fazer para que a sua música de riffs ásperos e ritmos tipo estalo na cara, não passe despercebida. E ao fim de pouco mais de uma hora, e após Albini e Bob Weston terem roubado a bateria de Todd Trainer peça a peça, estamos rendidos áquele suor que parece pingar ferro líquido em vez de líquidos humanos. Nuno Proença

The Flaming Lips © Angela Costa

The Flaming Lips © Angela Costa

Ao mesmo tempo que os Shellac estilhaçavam o rock em pedacinhos pequenos, Neon Indian acendia rastilho de festa com aquela electrónica vestida de chillwave – com mais pinta que essência. Mas o melhor nesse palco ainda estava para vir. Quatro disco depois, os Beach House não falham. Victoria Legrand e Alex Scally fazem canções tecnicamente perfeitas e ao vivo ganham uma nova dimensão: o de um encantamento que nasce da confirmação que tudo aquilo é real e está ali a abrir-se perante todos. Pode ser muito diferente ver aquelas canções numa pequena sala como noutros tempos, mas é igualmente satisfatório saborear a confirmação dos Beach House como fazedores de sonhos de um público cada vez mais crescente. E porque nesta vida é preciso fazer escolhas, já só deu para ouvir os Walkmen e a brilhante “In the New Year” e desejar por simpatia que o resto tenha sido tão bom como a referida canção.

M83 © Angela Costa

Por falar em escolhas, e embora os M83 tenham tido quinze minutos de bom arranque naquela sempre apetecível avenida dos oitentas, era impossível virar as costas ao palco ATP às 2:30. E o que havia lá. Simplesmente a melhor banda de rock ‘n’ roll – assim sem mais merdas, sem mais rodeios – que anda por aí. Os The Oh Sees fizeram no Primavera Sound aquilo que fazem sempre: dão uma lição de rock sem espinhas, regada e bem pela loucura de John Dwyer, o Conan O'Brien das guitarras. Canção após canção, os The Oh Sees fazem o possível e impossível para provar que essa coisa do rock ‘n’ roll está vivo e bem vivo. Pelo caminho, torna-se impraticável resistir a todos aqueles riffs incendiários, a toda aquela impetuosidade, a toda aquela combustão. Está claro: canções como “The Dream” são demasiado perigosas para andarem à solta. Mas ainda bem que andam. Em pouco mais de uma hora, os The Oh Sees fizeram esquecer toda a concorrência e assinaram um concerto memorável – a espaços demente de tão bom que foi. Adormecer com o zumbido rock dos The Oh Sees foi motivo de satisfação. André Gomes
· 13 Jun 2012 · 00:49 ·

Parceiros