Lil B
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
09 Mai 2012
Para quem é frequentador regular da ZDB, a presença de um rapper em cima do palco do Aquário não deixa de ser uma imagem algo estranha para quem está habituado a ver gajos de joelhos a rodar botões ou a testar os limites sonoros dos seus instrumentos. Não deixa de ser uma visão algo redutora, e ainda recentemente houve um concerto das THEESatisfaction num espectro semelhante, mas para todos os efeitos a presença do Lil B naquele espaço revelava contornos tão intrigantes quanto adequados ao espírito da Galeria. Com uma concentração de míudos mais elevada do que é costume – o que é (quase) sempre bom sinal – esta estreia do rapper da Bay Area vinha de encontro ao seu próprio estatuto de artista nascido num contexto em que a Internet é palco dominante, alimentada pela profusão de informação via Tumblr, Tweeter e demais meios de comunicação informais numa demanda pelo AGORA.

© Jorge Vieira

Ainda antes de chegar ao palco, já o clima de antecipação estava lançado com um atraso gigantesco – ZDB old school? -, e com uma entrada triunfal do Based God pelo vidro lateral do Aquário sob o som de sirenes essa expectativa teve uma réplica tão inusitada como adequada a tudo aquilo que se viria a passar. Acompanhado por um gajo de câmara de filmar e holofote, e de tronco nu e óculos escuros, Lil B atira-se logo a “Bill Bellamy” e lança a palavra-mote da noite : SWAG. Repetida ad nauseam, swag despia-se de qualquer valor formal ao ser entoada por aqueles miúdos conquistados e “I Own Swag” deixou de ser um statement do rapper para passar a ser a imagem de todos eles – e é bonito pensar que naquele momento todos eles acreditaram nisso.

© Jorge Vieira

Em “Ellen Degeneres” Lil B ensaiou os passos da sua cooking dance e ao longo do concerto o rapper ia improvisando (?) novas danças enquanto ia lançado os inevitáveis shout outs a Portugal. A dado momento disse que se estava a divertir muito mais do que o público, mas com o avançar do concerto o próprio há-de ter sentido que não tinha razão. Mais lá para frente houve apropriação da “Stay Schemin´” do Rick Ross e já perto do final regressou aos tempos dos The Pack com o “clássico” “Vans”. A movida obedecia a tudo isso, e Lil B mostrava bons dotes de performer sem exagerar em trejeitos gangsta / hustler - apesar do omnipresente som das armas -, nem entrar pelo seu lado mais místico, predominando a sua faceta mais festiva.

© Jorge Vieira

Se por um lado o Aquário suava com todo o ambiente, por outro o som fazia por ir contra isso, com toda a riqueza harmónica daqueles instrumentais a ser engolida pelo baixo e a deixar a voz do Lil B num plano que punha todas as suas lacunas enquanto rapper a nu – essas são mais do que conhecidas, e já foram amplamente debatidas. Por vezes, o desequilibro era gritante, mas para isso era necessário estar com aquela atenção mínima que a euforia tende a toldar. Tão ou mais importante do que o concerto em si, foi o final desse mesmo, com o Based God a distribuir abraços e beijinhos e a pousar para a fotografia com os fãs – termo que, desta vez, me parece apropriado. Criando uma espécie de Based World que, sem qualquer ideologia ou chamamento new age foi espaço de comunhão. Tudo pelo swag.

© Jorge Vieira
· 14 Mai 2012 · 22:56 ·
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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