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Lil B
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
09/05/2012


Para quem é frequentador regular da ZDB, a presença de um rapper em cima do palco do Aquário não deixa de ser uma imagem algo estranha para quem está habituado a ver gajos de joelhos a rodar botões ou a testar os limites sonoros dos seus instrumentos. Não deixa de ser uma visão algo redutora, e ainda recentemente houve um concerto das THEESatisfaction num espectro semelhante, mas para todos os efeitos a presença do Lil B naquele espaço revelava contornos tão intrigantes quanto adequados ao espírito da Galeria. Com uma concentração de míudos mais elevada do que é costume – o que é (quase) sempre bom sinal – esta estreia do rapper da Bay Area vinha de encontro ao seu próprio estatuto de artista nascido num contexto em que a Internet é palco dominante, alimentada pela profusão de informação via Tumblr, Tweeter e demais meios de comunicação informais numa demanda pelo AGORA.

Ainda antes de chegar ao palco, já o clima de antecipação estava lançado com um atraso gigantesco – ZDB old school? -, e com uma entrada triunfal do Based God pelo vidro lateral do Aquário sob o som de sirenes essa expectativa teve uma réplica tão inusitada como adequada a tudo aquilo que se viria a passar. Acompanhado por um gajo de câmara de filmar e holofote, e de tronco nu e óculos escuros, Lil B atira-se logo a “Bill Bellamy” e lança a palavra-mote da noite : SWAG. Repetida ad nauseam, swag despia-se de qualquer valor formal ao ser entoada por aqueles miúdos conquistados e “I Own Swag” deixou de ser um statement do rapper para passar a ser a imagem de todos eles – e é bonito pensar que naquele momento todos eles acreditaram nisso.

Em “Ellen Degeneres” Lil B ensaiou os passos da sua cooking dance e ao longo do concerto o rapper ia improvisando (?) novas danças enquanto ia lançado os inevitáveis shout outs a Portugal. A dado momento disse que se estava a divertir muito mais do que o público, mas com o avançar do concerto o próprio há-de ter sentido que não tinha razão. Mais lá para frente houve apropriação da “Stay Schemin´” do Rick Ross e já perto do final regressou aos tempos dos The Pack com o “clássico” “Vans”. A movida obedecia a tudo isso, e Lil B mostrava bons dotes de performer sem exagerar em trejeitos gangsta / hustler - apesar do omnipresente som das armas -, nem entrar pelo seu lado mais místico, predominando a sua faceta mais festiva.

Se por um lado o Aquário suava com todo o ambiente, por outro o som fazia por ir contra isso, com toda a riqueza harmónica daqueles instrumentais a ser engolida pelo baixo e a deixar a voz do Lil B num plano que punha todas as suas lacunas enquanto rapper a nu – essas são mais do que conhecidas, e já foram amplamente debatidas. Por vezes, o desequilibro era gritante, mas para isso era necessário estar com aquela atenção mínima que a euforia tende a toldar. Tão ou mais importante do que o concerto em si, foi o final desse mesmo, com o Based God a distribuir abraços e beijinhos e a pousar para a fotografia com os fãs – termo que, desta vez, me parece apropriado. Criando uma espécie de Based World que, sem qualquer ideologia ou chamamento new age foi espaço de comunhão. Tudo pelo swag.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
14/05/2012
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