O fabuloso dedilhar de Noberto tem sido bem documentado por uma sólida discografia. Mudar de Bina, Pata Lenta e Fala Mansa são essenciais ao registo o encontro entre Norberto e uma guitarra, monumentos de tradição, elegância e reinvenção. Mas a música de Norberto é mais lata, vai mais além, e o músico já revelou vontade de explorar terrenos mais amplos, sendo a sua aventura com o trio Tigrala (com Guilherme Canhão e Ian Carlo Mendoza) a sua mais visível expressão. Apesar das naturais diferenças, esta parceria com o baterista João Lobo (Tetterapedequ, Enrico Rava, Carlos Bica, etc.), revelada ao vivo no Teatro Maria Matos, acaba por surgir no sequência natural do trabalho com os Tigrala, continuando pistas que já haviam sido levantadas nesse projecto.

João Lobo & Norberto Lobo © José Frade

O espectáculo arrancou com o encontro entre a guitarra eléctrica diabólica de Norberto e percussão enérgica de João, no espírito de rock virgem/ingénuo early-70´s. Norberto mudou-se depois para a guitarra acústica, num registo mais próximo daquilo que lhe é conhecido, com a percussão de João Lobo a acrescentar uma subtil textura rítmica - cordas lentamente polvilhadas, percussão sussurada (o arco a roçar nos pratos). Este concerto foi marcado pela diversidade de ambientes distintos entre si, ora alternando entre a alta pulsação (eletricidade) e a ternura de temas mais etéreos (fingerpickin´), por vezes quase-mantras.

Norberto Lobo © José Frade

Mas a noite do Maria Matos não se ficou por aqui: Norberto surpreendou ao passar pelos teclados e a inclusão de duas convidadas - Cristina Alfaiate (voz) e Mariana Ricardo (voz e baixo eléctrico) – serviu para dar novas camadas aos temas da dupla, por vezes próximos de referências “world”. O final chegou com um encore curtinho, perfeito: regresso à electricidade rock, num clímax de energia. A estreia discográfica do duo Norberto/João está prometida pra breve (Março), com um álbum denominado Mogul de Jade. Este concerto deixou o público a salivar pela sua edição.