José Medeiros
MusicBox, Lisboa
27 Jan 2012
O relógio marcava 23h55. Lá fora, na movimentada rua cor-de-rosa (Rua Nova do Carvalho) no Cais do Sodré, encontravam-se dezenas de pessoas na rua. Lá dentro do MusicBox, a poucos minutos do início do concerto, a sala mantinha ainda um aspecto semi-vazio. Mas o público foi chegando e quando Zeca Medeiros subiu ao palco a sala estava já bem composta. O açoriano trazia o ainda fresco o recente álbum-duplo Fados, Fantasmas e Folias, mas o espectáculo acabou por atravessar vários momentos da sua discografia a solo.

O concerto arrancou com uma passagem por “Mariaâ€, tema recolhido do anterior álbum Torna-Viagem. Foram-se desde logo as dúvidas que pudessem existir: ao vivo aquela voz é ainda mais rouca, mais tenebrosa, bem acompanhada por um tapete instrumental simples e eficaz. Medeiros passou depois ao disco editado no passado, indo directamente àquela que será a canção mais fácil: “Eu gosto tanto de ti que até me prejudicoâ€; seguiu-se depois “Camarim (Canção da Timidez)â€, a canção que abre o disco novo numa chuva de referências cinéfilas (às obras de Fellini, Bergman, etc.)

Com a “Valsinha do mau da fita†Zeca Medeiros teve oportunidade de desenvolver um interpretação que foi bem além da simples performance vocal, entrando numa dimensão teatral, trocando o papel de cantor para se assumir como personagem - vilão de filme série-B. Seguiu-se depois uma viagem intercontinental: “O Movimento da Sombra Chinesa†(nos ambientes asiáticos) e “Saudade†(qual seria o título correcto?) foi até Ãfrica, com homenagem a Cesária Évora.

Com tudo afinado e sem falhas, a selecção de temas foi alternando entre os três discos do cantor: “Mestiçagem†(com dois músicos convidados, que entraram a meio do tema, e obrigaram ao seu recomeço),“Cançoneta do Forte Fraquinho†(balada irresistível), “Tabanca do Amor†(nova passagem por Ãfrica) e os obrigatórios dramas açorianos - “Moby Dick†e “Canção da Terraâ€. Para o final ficou reservado “O cantadorâ€, homenagem bonita a Zeca Afonso. Tal como o outro, este Zeca faz da música popular portuguesa uma entidade viva, entusiasmante, intemporal. O açoriano só abandonou o palco após a interpretação, no encore, da obrigatória “Isaltinaâ€.
· 30 Jan 2012 · 17:08 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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