Festival Heineken Paredes de Coura 2007
Paredes de Coura
13/14/15 Ago 2007
DIA 3 |
Dia 15
No último dia de festival o sol resolveu dar ares da sua graça depois de um final de terça-feira doloroso e uma manhã de quarta-feira fria e igualmente chuvosa. Quis o destino que os raios de sol se fizessem sentir no anfiteatro natural de Paredes de Coura. Por isso quando os Linda Martini asseguraram a segunda participação lusa em palco principal (o que não deixa de ser uma surpresa tendo em conta a jovem idade da banda) as condições climatéricas eram ideais. Fazia-se sentir quase, pasme-se, um certo calor em pleno mês de Agosto. Os fãs eram muitos, tendo em conta a recepção que a banda teve às 6 da tarde. Os Linda Martini agradeceram e mostraram-se felizes por estar em palco. Com disco editado em 2006 (Olhos de Mongol), a banda de Lisboa continua a mostrar canções–que-são-pós-rock-que-são-canções. Apesar de nem todas as canções serem interessantes, os Linda Martini são capazes de alguns momentos positivos, especialmente quando exploram mais profundamente as guitarras (por vezes a fazer lembrar os Sonic Youth).
Na estreia das Electrelane em Portugal, as expectativas eram muitas. Havia de comprovar o entusiasmo registado em 4 álbuns, apesar de alguma escassez de recursos da banda e de alguma repetição de estratégias. O primeiro disco (certeiramente intitulado Rock It to the Moon) é um excelente disco, influenciado pelo krautrock e rico em teclados e percussão. No Shouts, No Calls, o mais recente disco das britânicas trouxe alguma esperança a quem queria umas Electrelane apostadas na evolução. Verity Susman, Emma Gaze, Mia Clarke e Ros Murray. Uma banda de exclusivamente composta mulheres, portanto. Tiveram a capacidade de, ao vivo, disfarçar alguma da previsibilidade que se nota nas explosões sónicas (provocadas pela tensão instrumental, alimentadas pelas percussão e pelos teclados), mostrando essencialmente No Shouts, No Calls. A surpresa chegou com uma versão para “I’m on fire” de Bruce Springsteen mas há uma constante na música das Electrelane: a beleza das suas composições, apesar de algumas repetições de percurso. E o concerto de Paredes de Coura cumpriu-se a tradição.
Desconhecidos ainda para muitos, os ingleses Sunshine Underground subiram ao palco de Paredes de Coura para apresentarem Raise the Alarm (de 2006). Eles que têm semelhanças com os LCD Soundsystem (parece que James Murphy até gosta deles) têm muito poucos argumentos para estarem ao nível dos autores de “Daft Punk Is Playing at My House”. Apesar da energia em palco, foram poucos os motivos escutados para evitar que muitos festivaleiros fizessem daquela hora a hora para jantar. Os ingleses foram claramente um elo fraco no último dia do festival.
Eles que se tornaram famosos com o anúncio da Optimus, entraram em palco com uma versão em sitar de “Young Folks”. Até desculpamos o cliché aos Peter, Bjorn and John porque Writer's Block é um bom disco de canções pop. No concerto em Paredes de Coura Peter apareceu, Bjorn também, mas John, o baterista, baldou-se e foi substituído por Nino. Resultado: Peter, Bjorn and Nino. A banda mostrou-se mais rock do que em disco e por isso a actuação ganhou energia extra. Pena que “Amsterdam”, o melhor tema de Writer's Block, talvez pela sua complexidade, tenha aparecido em versão baladeira e ligeiramente desinteressante. Numa actuação interessante, o momento da noite foi sem sombra de dúvidas “Objects of My Affection”, marcha ora lenta ora veloz para a felicidade.
O palco estava decorado com balões e cores variadas. Era a vez das dos brasileiros Cansei de Ser Sexy entrarem em palco para uma enorme enchente de público, fruto do hype alimentado por “Let’s Make Love (And Listen Death From Above)”. O álbum homónimo editado pela Sub Pop rendeu à banda brasileira uma quantidade de atenção que provavelmente nem eles esperavam. Eles que confessam constantemente não serem grandes músicos (ou músicos de todo), tiveram em Paredes de Coura um inimigo inesperado: o som. As deficiências mais do que notórias do som faziam com que a bateria e o baixo fossem quase os únicos a serem ouvidos. E assim torna-se impossível avaliar profundamente a qualidade do trabalho de uma banda. Viu-se festa e ouviu-se a apetitosa “Alala” mas pouco mais. Viu-se ainda a vocalista Lovefoxxx a espalhar sensualidade no palco com uma fatiota brilhante e atrevida; foi ela que deu mais vezes a cara pelos Cansei de Ser Sexy – mas infelizmente isso não chegou.
E depois veio o momento mais esperado de todo o festival. Os Sonic Youth, rosto de uma geração, uma das bandas mais importantes da música independente, regressavam a Portugal. Mais de 25 anos de discos essenciais – Daydream Nation, Sister e EVOL são apenas alguns exemplos. A banda de Thurston Moore e de Kim Gordon entrou em palco com a robustez que se esperava – aquelas guitarras, aquelas guitarras. Pouco depois atiravam “Incinerate” para cima da mesa, uma canção que já se tornou num clássico. Rather Ripped é uma boa prova da vitalidade dos Sonic Youth (e possivelmente o melhor disco que a banda assinou nesta década), e a banda fez questão de o mostrar ao vivo. Um dos melhores momentos do último disco fez também mossa durante o concerto: a fabulosa “Pink Steam”, no seu lado mais instrumental, é dona de uma beleza impressionante - Thurston Moore continua magnifico como sempre. “Do you believe in rapture?” e “Jams Run Free”, do mesmo disco foram também grandes momentos.
Quando saíram de Rather Ripped (e estiveram lá muito tempo), os Sonic Youth deram especial destaque a Daydream Nation, mas também foram a Dirty resgatar a obrigatória “100%”, a Experimental Jet Set, Trash & no Star recuperar “Bull in the Heather”. Foram ainda mais longe até Confusion is Sex para os momentos mais ruidosos do concerto. Estes são os Sonic Youth do novo milénio. Conscientes do seu presente mas orgulhosos do seu passado. O excelente concerto que fechou Paredes de Coura foi não só o melhor concerto de todo o festival como também uma enorme demonstração de vitalidade. Oxalá os próximos anos tragam ainda muito dos Sonic Youth. Pela madrugada dentro, os dois encores carimbaram um concerto memorável de uma das melhores bandas rock da história. Paredes de Coura 2007 não podia ter acabado de melhor forma.
No último dia de festival o sol resolveu dar ares da sua graça depois de um final de terça-feira doloroso e uma manhã de quarta-feira fria e igualmente chuvosa. Quis o destino que os raios de sol se fizessem sentir no anfiteatro natural de Paredes de Coura. Por isso quando os Linda Martini asseguraram a segunda participação lusa em palco principal (o que não deixa de ser uma surpresa tendo em conta a jovem idade da banda) as condições climatéricas eram ideais. Fazia-se sentir quase, pasme-se, um certo calor em pleno mês de Agosto. Os fãs eram muitos, tendo em conta a recepção que a banda teve às 6 da tarde. Os Linda Martini agradeceram e mostraram-se felizes por estar em palco. Com disco editado em 2006 (Olhos de Mongol), a banda de Lisboa continua a mostrar canções–que-são-pós-rock-que-são-canções. Apesar de nem todas as canções serem interessantes, os Linda Martini são capazes de alguns momentos positivos, especialmente quando exploram mais profundamente as guitarras (por vezes a fazer lembrar os Sonic Youth).
Na estreia das Electrelane em Portugal, as expectativas eram muitas. Havia de comprovar o entusiasmo registado em 4 álbuns, apesar de alguma escassez de recursos da banda e de alguma repetição de estratégias. O primeiro disco (certeiramente intitulado Rock It to the Moon) é um excelente disco, influenciado pelo krautrock e rico em teclados e percussão. No Shouts, No Calls, o mais recente disco das britânicas trouxe alguma esperança a quem queria umas Electrelane apostadas na evolução. Verity Susman, Emma Gaze, Mia Clarke e Ros Murray. Uma banda de exclusivamente composta mulheres, portanto. Tiveram a capacidade de, ao vivo, disfarçar alguma da previsibilidade que se nota nas explosões sónicas (provocadas pela tensão instrumental, alimentadas pelas percussão e pelos teclados), mostrando essencialmente No Shouts, No Calls. A surpresa chegou com uma versão para “I’m on fire” de Bruce Springsteen mas há uma constante na música das Electrelane: a beleza das suas composições, apesar de algumas repetições de percurso. E o concerto de Paredes de Coura cumpriu-se a tradição.
Desconhecidos ainda para muitos, os ingleses Sunshine Underground subiram ao palco de Paredes de Coura para apresentarem Raise the Alarm (de 2006). Eles que têm semelhanças com os LCD Soundsystem (parece que James Murphy até gosta deles) têm muito poucos argumentos para estarem ao nível dos autores de “Daft Punk Is Playing at My House”. Apesar da energia em palco, foram poucos os motivos escutados para evitar que muitos festivaleiros fizessem daquela hora a hora para jantar. Os ingleses foram claramente um elo fraco no último dia do festival.
Eles que se tornaram famosos com o anúncio da Optimus, entraram em palco com uma versão em sitar de “Young Folks”. Até desculpamos o cliché aos Peter, Bjorn and John porque Writer's Block é um bom disco de canções pop. No concerto em Paredes de Coura Peter apareceu, Bjorn também, mas John, o baterista, baldou-se e foi substituído por Nino. Resultado: Peter, Bjorn and Nino. A banda mostrou-se mais rock do que em disco e por isso a actuação ganhou energia extra. Pena que “Amsterdam”, o melhor tema de Writer's Block, talvez pela sua complexidade, tenha aparecido em versão baladeira e ligeiramente desinteressante. Numa actuação interessante, o momento da noite foi sem sombra de dúvidas “Objects of My Affection”, marcha ora lenta ora veloz para a felicidade.
O palco estava decorado com balões e cores variadas. Era a vez das dos brasileiros Cansei de Ser Sexy entrarem em palco para uma enorme enchente de público, fruto do hype alimentado por “Let’s Make Love (And Listen Death From Above)”. O álbum homónimo editado pela Sub Pop rendeu à banda brasileira uma quantidade de atenção que provavelmente nem eles esperavam. Eles que confessam constantemente não serem grandes músicos (ou músicos de todo), tiveram em Paredes de Coura um inimigo inesperado: o som. As deficiências mais do que notórias do som faziam com que a bateria e o baixo fossem quase os únicos a serem ouvidos. E assim torna-se impossível avaliar profundamente a qualidade do trabalho de uma banda. Viu-se festa e ouviu-se a apetitosa “Alala” mas pouco mais. Viu-se ainda a vocalista Lovefoxxx a espalhar sensualidade no palco com uma fatiota brilhante e atrevida; foi ela que deu mais vezes a cara pelos Cansei de Ser Sexy – mas infelizmente isso não chegou.
E depois veio o momento mais esperado de todo o festival. Os Sonic Youth, rosto de uma geração, uma das bandas mais importantes da música independente, regressavam a Portugal. Mais de 25 anos de discos essenciais – Daydream Nation, Sister e EVOL são apenas alguns exemplos. A banda de Thurston Moore e de Kim Gordon entrou em palco com a robustez que se esperava – aquelas guitarras, aquelas guitarras. Pouco depois atiravam “Incinerate” para cima da mesa, uma canção que já se tornou num clássico. Rather Ripped é uma boa prova da vitalidade dos Sonic Youth (e possivelmente o melhor disco que a banda assinou nesta década), e a banda fez questão de o mostrar ao vivo. Um dos melhores momentos do último disco fez também mossa durante o concerto: a fabulosa “Pink Steam”, no seu lado mais instrumental, é dona de uma beleza impressionante - Thurston Moore continua magnifico como sempre. “Do you believe in rapture?” e “Jams Run Free”, do mesmo disco foram também grandes momentos.
Quando saíram de Rather Ripped (e estiveram lá muito tempo), os Sonic Youth deram especial destaque a Daydream Nation, mas também foram a Dirty resgatar a obrigatória “100%”, a Experimental Jet Set, Trash & no Star recuperar “Bull in the Heather”. Foram ainda mais longe até Confusion is Sex para os momentos mais ruidosos do concerto. Estes são os Sonic Youth do novo milénio. Conscientes do seu presente mas orgulhosos do seu passado. O excelente concerto que fechou Paredes de Coura foi não só o melhor concerto de todo o festival como também uma enorme demonstração de vitalidade. Oxalá os próximos anos tragam ainda muito dos Sonic Youth. Pela madrugada dentro, os dois encores carimbaram um concerto memorável de uma das melhores bandas rock da história. Paredes de Coura 2007 não podia ter acabado de melhor forma.
· 13 Ago 2007 · 08:00 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
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