Festival Para Gente Sentada 2006
Teatro António Lamoso, Santa Maria da Feira
24-25 Nov 2006
A chegada ao segundo dia do Festival para Gente Sentada reservava uma desagradável surpresa afixada nas portas do Teatro: Emiliana Torrini havia cancelado a sua actuação por motivos de saúde (diz-se que estava afónica), mas promete marcar uma data em breve para compensar. A mudança de planos deixava a Ed Harcourt mais espaço para mostrar as suas canções. O escritor de canções britânico apresentou-se sozinho mas com alguns “amigos” que se revelaram importantes: os pedais e os loops. Com a ausência de uma banda real, Ed Harcourt foi criando bases para as suas músicas através de instrumentos de percussão e guitarras que depois colocava em loop. Aí, e sem desprimor para as canções que apresentou só ao piano ou na guitarra (eléctrico, que confessou odiar), Ed Harcourt mostrou-se rei e senhor. Foi aí que conseguiu alguns dos melhores momentos do concerto.

As suas canções lembram um trio curioso: Jeff Buckley, Ryan Adams e Rufus Wainwright. Tanto na sua voz como na instrumentação, Ed Harcourt é um resultado curioso da fusão dos três. A comparação pode parecer algo injusta, mas é a essa a impressão que fica, especialmente nos concertos. Além do sucesso de alguns temas, Ed Harcourt mostrou ser bem-humorado e comunicativo, sem grandes demonstrações de timidez. “The Last Cigarette” e “Born in the 70's”, por exemplo foram bons momentos. No final arregaçou as mangas, aumentou o volume da guitarra e mostrou o seu lado mais rock, a fechar um concerto positivo.

A fechar a noite e o festival apresentaram-se os Sparklehorse, outras das estreias em Portugal orgulhosamente programadas pela organização do festival. Conduzidos por Mark Linkous, figura central da banda iniciada em 1995, os Sparklehorse acabaram por não se tanto centrar em Dreamt for Light Years in the Belly of a Mountain (quarto disco da carreira dos Sparklehorse, editado em 2006), como se poderia esperar. Mas numa coisa foram aquilo que se esperava dos Sparklehorse: o saltitar constante entre temas rock e temas dados a uma profundo intimismo, ou então ambas as coisas como acontece em “Don't Take My Sunshine Away”, o tema que abre Dreamt for Light Years in the Belly of a Mountain.

Como seria de esperar foram até 2001 e até para dele trazerem dois dos seus melhores temas: “Apple Bed” e “Gold Day”, já em encore, onde Mark Linkous luminosamente canta: “Good morning my child / stay with me a while / and evaporate in the sun / sometimes it can weigh a ton”, “Keep all your crows away / hold skinny wolves at bay / in silver piles of smiles / may all your days be gold my child”. A actuação dos Sparklehorse, por esta e por outras razões, espalharam um certo sentimento de sonho e utopia, de esperança. Apesar de algumas ausências de temas de do último Dreamt for Light Years in the Belly of a Mountain, os Sparklehorse assinaram um belo concerto, talvez o melhor de todo o festival.
· 24 Nov 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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