DISCOS
Pole
Steingarten
· 18 Abr 2007 · 08:00 ·
Pole
Steingarten
2007
~Scape / Flur


Sítios oficiais:
- Pole
- ~Scape
- Flur
Pole
Steingarten
2007
~Scape / Flur


Sítios oficiais:
- Pole
- ~Scape
- Flur
Desembaraçada reaquisição de pico de forma por parte de mago ultimamente apagado é também luxurioso monumento de ideias e renovação estética.
É merecedor de várias leituras o simbolismo que assume o castelo de Neuschwanstein que Pole escolheu para figurar na capa da sua mais nova criação, Steingarten. A mais evidente passa pelo paralelo que pode manter o aspecto majestoso e colorido do chalé com a vontade de Stefan Betke em recuperar um trono que há pouco menos de uma década atrás era seu: o da electrónica superiormente galvanizada pela imaginação como instrumento, dos minimalismos sequestrados a factores anómalos que pouco em comum mantêm com o glitch mais repudiante. Um trono que Pole ocupava envergando um ceptro que mais brilhava porque o seu portador tinha sido agente da infiltração do dub digital nas grandes cidades europeias. Desta feita, pinta-se um castelo em jeito de provar que a ambição é saudável quando bem gerida e que também Pole terá direito a uma segunda hipótese após uma série de digressões onde era flagrante o seu burguesismo ao lado de uma banda demasiado fixada ao dub e, noutro âmbito, finalmente ultrapassada a tentativa fracassada de se afirmar como produtor de hip-hop futurista e avesso a clichés, tal como patente no quarto homónimo de 2003. Steingarten procura ajustar contas com os dias passados e marca o início de um período neo-romântico (como o castelo) na carreira de Pole.

Sem se deixar consumir pela cegueira dos monarcas absolutos, Stefan Betke encontra-se no direito de decorar o castelo com a variedade de sons que bem entende, restabelecendo coordenadas inéditas para o que dele se deve esperar a partir daqui e sem, mesmo assim, deixar de surpreender pela neutralidade mantida face ao dub que ajudou a que o termo Pole passasse à condição de adjectivo. Repare-se como as doses de delay aqui são bem mais moderadas e imperceptíveis que em outras ocasiões, sendo a narcótica e convergente “Sylvenstein” a excepção que confirma a regra. Atente-se também à abençoada excentricidade que coroa as referências repatriadas a partir do momento em que conhecem a paternalidade do Pole oposto: porções à partida afastadas por incompatibilidade adquirem o sincronismo dos dias marcianos vividos por Delia Gonzalez e Gavin Russom, o reduzido aparato ruidoso de “Jungs” ganha progressivamente a corpulência de techno colossal, o kraut infinito estabelece-se numa hermética roda-viva que gira como o círculo movido pelas patas de um rato-cobaia. A arquitectura gradual do loop voltou a ser a arte que devolve Pole às galerias mais aconselháveis.

As condições são tão favoráveis que se estendem até ao livre trânsito e autoridade de Stefan Betke no mecanismo de lançamento e promoção deste Steingarten, que vem selado pela ~Scape que o próprio gere exemplarmente e sei qualquer receio de dar a conhecer o trabalho dos que ao seu lado competem (Jan Jelinek andará perto) pela dignificação da mais inteligente electrónica oriunda da pátria natal alemã. Até porque Steingarten parte essencialmente da vontade de reconsolidação mantida por alguém que viu o seu estatuto vanguardista (escute-se a primeira trilogia homónima) ruir como um castelo de areia às mãos de algum desleixo e desconcentração. Pela ausência total de bluff e vigor com que restitui sangue azul às veias do seu criador, Steingarten é uma afirmação dinástica que parte na pole position da corrida a percorrer pela electrónica deste ano.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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