DISCOS
Lampshade
Because Trees Can Fly / Let’s Away
· 19 Fev 2007 · 08:00 ·
Lampshade
Because Trees Can Fly / Let’s Away
2003 / 2006
Glitterhouse / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Lampshade
- Glitterhouse
- AnAnAnA
Lampshade
Because Trees Can Fly / Let’s Away
2003 / 2006
Glitterhouse / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Lampshade
- Glitterhouse
- AnAnAnA
Tenham medo. Tenham muito medo… Uma qualquer autoridade secreta combinou os genes de Susana Félix e Björk num mesmo clone humano.
Em modo de homem da conspiração e com o despacho de quem resume a sua apreciação a Talkie Walkie dos Air com um marcial Pá, é naquela:

Ninguém saberá ao certo que contornos internacionais conduziram ao cruzamento bizarro, mas jornais concelhios e rádios de menor audiência dão como certa a existência, entre nós, de um clone humano que combina os genes da Susana Félix e Björk. Alimentado com três doses diárias de farinha Maizena e Muesli, o mítico ser vem sendo sujeito a radiações nucleares que duplicam a velocidade do seu crescimento e a uma rigorosa dieta musical islandesa que o inspirou certamente, tal como aos companheiros, com que veio a formar a amostra de banda que são os Lampshade – fragilizados e dispensáveis a cada música que se escuta a estes primeiros dois discos que, a nível de interesse, conhecem temíveis rivais nos espirros que possam largar quaisquer transeuntes num passeio pelo Rossio. Existirão espirros sexagenários bem mais estimulantes – nem que seja pelas suas peculiaridades sónicas – que qualquer coisa escutada a Let’s Away.

A puberdade, por exemplo, nunca foi vivida pelo clone - mantém os trejeitos vocais duma criança que, nos seus momentos mais descontraídos, canta como a Susana Félix, sendo que, nas alturas de maior introspecção (ou desespero), emula na exactidão Björk – em “It’s ok”, o decalque é tão assumido e embaraçoso que arrisca provocar a materialização instantânea de um Michel Gondry pronto a filmar um teledisco dos Lampshade, como quem despacha um biscate. E, se soa algo cruel (e injusto) acrescentar um “r” estratégico e ácido a Medulla, reaproveitar esse título engenhoso para (des)qualificar os Lampshade arrisca-se a ser um eufemismo.

Aos horizontes Suecos e Dinamarqueses (proveniências da banda) não se descobre nada de novo – pós-rock de cartilha, pop de peito inchado, mas sem fôlego sofisticado para o suster, e uma estante repleta de discos da 4AD misturados com outros dos Cranberries. Ambição: muita. Ideias frescas: nulo. Mastigaram-nas os abutres nórdicos para ganharem robustez que faça frente às arvores que voam.

O embrulho artístico podia até atordoar a violência boçal de ambos os discos destes Lampshade, mas nem isso – já que persiste a Glitterhouse (casa que abriga o colectivo) em atribuir aos seus discos designs que não se admitem nos dias de hoje.

Apetece colocar o caso nos seguintes termos: se Lampshade é um gosto adquirido, o meu palato encontra-se irremediavelmente indisponível.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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