DISCOS
V/A
Kammerflimmer Kollektief Remixed
· 05 Out 2006 · 08:00 ·
V/A
Kammerflimmer Kollektief Remixed
2006
Staubgold / Flur
Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
Kammerflimmer Kollektief Remixed
2006
Staubgold / Flur
Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
V/A
Kammerflimmer Kollektief Remixed
2006
Staubgold / Flur
Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
Kammerflimmer Kollektief Remixed
2006
Staubgold / Flur
Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
Disco de remisturas dita que a prioridade não será conhecer os Kammerflimmer Kollektief, mas sim os seleccionados para o “baralhar e voltar a dar” do seu disco Absencen.
Independentemente dos factores periféricos à sua concepção, constitui acumulação de prestigio para uma label de média-estatura garantir a la carte os préstimos de criativos externos, a que seja proposto remisturar uma das mais estimadas peças de prata da casa. Quando assim é, a label encarregue de levar a cabo a comissão, muito logicamente opta por um lançamento que represente qualitativa e estilisticamente o seu catálogo e que, sobretudo, disponha de elasticidade e variedade de recursos que sirvam a usos inéditos, a uma segunda vida germinada por procedimentos laboratoriais alheios. O próprio lema da Staubgold é lançar música “desenquadrada do seu lugar” – logo, não se estranha que Absencen, último disco dos aconselháveis – mas nem por isso incríveis – Kammerflimmer Kollektief, tenha merecido o direito a renovada contextualização. Submete-se aqui a uma permuta clínica de imaginários, estéticas e, por conseguinte, de aparência global.
Embora não aparente à partida dispor de matéria pronta a ser desfiada e, desse modo, atrair até ao seu cerne o interesse de figuras actuais de enorme peso como Jan Jelinek e Sutekh, Absencen é um disco que, por meio de estratégias envolventes, nunca perde o fio ao seu miolo – parte de uma multiplicidade de fragmentos ricos em densidade, que podem ser curtíssimas-metragens como cenas cortadas recuperadas aleatoriamente a filmes para consumo noctívago. De certo modo, Absencen ensaia a sua própria visão actualizada de um gótico-urbano munido de um free-jazz pouco endiabrado (e, logo, castrado) e recorrendo à electrónica de rodapé quando surge tal necessidade. E isto sem nunca deixar de soar como uma possível resposta germânica aos discos mais “cinematicamente” expansivos da Ninja Tune. O fusível dessa lâmpada que se acende tem inscrito o nome da Cinematic Orchestra, pois claro – embora os Kammerflimmer Kollektief pareçam mais dispersos e alienados nas suas operações que a banda do louvável (e irrepetível, nos termos de hoje) Every Day. Mas tal como a Ninja Tune ultimamente se tem acanhado de lançar discos que acusem uma exaustiva repetição (com todo respeito que me merece, a tomada londrina de Herbaliser não me surpreendeu muito), também os Kammerflimmer Kollektief parecem demasiado colados a um som datado que merecerá a estima nostálgica por parte da Staubgold e pouco mais que isso. Assim, requisitar os serviços alheios a guerreiros da linha da frente, nem que por necessidade de inspiração, resulta em transfusão sanguínea ocasionalmente milagrosa para o paciente necessitado e vezes várias comprovativa de que é inesgotável a fertilidade e carisma de alguns samaritanos da electrónica que, além de excelentes discos em nome próprio, conseguem insuflar inspiradamente o nome dos outros.
Isto acontece porque, felizmente, escassos intervenientes destacam as supostas qualidades do Kollektief ao ponto de eclipsarem as suas – alguns parecem mesmo alhear-se por completo do que proporciona Absencen. Bastará escutar “às cegas”a previsível remistura que Hans Appelqvist propõe para “Shibboleth” e descobrir que os têxteis que trajavam o Ninja (Tune) estão lá todos – os instrumentos de sopro e ritmos sincopados combinados numa mesma mant(r)a nocturna. Podia estar aqui o disco remisturado, como simplesmente não estar. Será esse mesmo o caso mais grave de banalidade generalista, já que muito de interessante se sucede à sua volta. David Last, em nome próprio e sob o disfarce Pocket Pet, dá por bem firmadas as suas capacidades de “mago da elasticidade” ao tornar indeterminada a longitude da curta repetição hipnótica do original “Matt”. Aoki Takamasa confere anti-gravidade a “After the rain” ao armazená-la numa das suas habituais redomas glitch. A partir de “Lichterloh”, a dupla parisiense Nôze (cuidado com How to dance lançado este ano) ganha balanço com uma série de quase-objectos (segundo definição Matmos) empilhados com um castelo de cartas e, na altura em que tem aquecidas as turbinas e viciado o ouvido, floresce em esplendor house atlético e executa o momento alto do disco. Por sua vez, o amplamente cósmico senhor Jan Jelinek acerta em cheio na escolha e torna ainda mais lentamente planador o voo Badalamenti (via Uma História Simples) que já executava “Unstet” na sua forma original. Embora um pouco aquém da excelência que lhe é habitual nas remisturas que refaz em forma de puzzle, Sutekh ainda terá muito a acrescentar sobre os sentimentos microscópicos dos robots mais apaixonados e a apropriação, em forma de amálgama, do todo que constitui Absencen quase se parece como uma romantização desse ensinamento que o californiano terá em reserva.
Enfim, Kammerflimmer Kollektief Remixed acumula pontos de interesse aconselháveis tão somente porque evita o narcisismo unilateral de um disco como aquele em que “Army of Me”, peça chave do Post que confirmou Björk, era remisturado ad nausea por gente a que provavelmente só a islandesa descobriu qualidades pertinentes de serem expostas num disco. Este será mais um daqueles aglomerados de remisturas que convence muito mais por influência dos pontos de chegada do que propriamente pelo ponto de partida.
Miguel ArsénioEmbora não aparente à partida dispor de matéria pronta a ser desfiada e, desse modo, atrair até ao seu cerne o interesse de figuras actuais de enorme peso como Jan Jelinek e Sutekh, Absencen é um disco que, por meio de estratégias envolventes, nunca perde o fio ao seu miolo – parte de uma multiplicidade de fragmentos ricos em densidade, que podem ser curtíssimas-metragens como cenas cortadas recuperadas aleatoriamente a filmes para consumo noctívago. De certo modo, Absencen ensaia a sua própria visão actualizada de um gótico-urbano munido de um free-jazz pouco endiabrado (e, logo, castrado) e recorrendo à electrónica de rodapé quando surge tal necessidade. E isto sem nunca deixar de soar como uma possível resposta germânica aos discos mais “cinematicamente” expansivos da Ninja Tune. O fusível dessa lâmpada que se acende tem inscrito o nome da Cinematic Orchestra, pois claro – embora os Kammerflimmer Kollektief pareçam mais dispersos e alienados nas suas operações que a banda do louvável (e irrepetível, nos termos de hoje) Every Day. Mas tal como a Ninja Tune ultimamente se tem acanhado de lançar discos que acusem uma exaustiva repetição (com todo respeito que me merece, a tomada londrina de Herbaliser não me surpreendeu muito), também os Kammerflimmer Kollektief parecem demasiado colados a um som datado que merecerá a estima nostálgica por parte da Staubgold e pouco mais que isso. Assim, requisitar os serviços alheios a guerreiros da linha da frente, nem que por necessidade de inspiração, resulta em transfusão sanguínea ocasionalmente milagrosa para o paciente necessitado e vezes várias comprovativa de que é inesgotável a fertilidade e carisma de alguns samaritanos da electrónica que, além de excelentes discos em nome próprio, conseguem insuflar inspiradamente o nome dos outros.
Isto acontece porque, felizmente, escassos intervenientes destacam as supostas qualidades do Kollektief ao ponto de eclipsarem as suas – alguns parecem mesmo alhear-se por completo do que proporciona Absencen. Bastará escutar “às cegas”a previsível remistura que Hans Appelqvist propõe para “Shibboleth” e descobrir que os têxteis que trajavam o Ninja (Tune) estão lá todos – os instrumentos de sopro e ritmos sincopados combinados numa mesma mant(r)a nocturna. Podia estar aqui o disco remisturado, como simplesmente não estar. Será esse mesmo o caso mais grave de banalidade generalista, já que muito de interessante se sucede à sua volta. David Last, em nome próprio e sob o disfarce Pocket Pet, dá por bem firmadas as suas capacidades de “mago da elasticidade” ao tornar indeterminada a longitude da curta repetição hipnótica do original “Matt”. Aoki Takamasa confere anti-gravidade a “After the rain” ao armazená-la numa das suas habituais redomas glitch. A partir de “Lichterloh”, a dupla parisiense Nôze (cuidado com How to dance lançado este ano) ganha balanço com uma série de quase-objectos (segundo definição Matmos) empilhados com um castelo de cartas e, na altura em que tem aquecidas as turbinas e viciado o ouvido, floresce em esplendor house atlético e executa o momento alto do disco. Por sua vez, o amplamente cósmico senhor Jan Jelinek acerta em cheio na escolha e torna ainda mais lentamente planador o voo Badalamenti (via Uma História Simples) que já executava “Unstet” na sua forma original. Embora um pouco aquém da excelência que lhe é habitual nas remisturas que refaz em forma de puzzle, Sutekh ainda terá muito a acrescentar sobre os sentimentos microscópicos dos robots mais apaixonados e a apropriação, em forma de amálgama, do todo que constitui Absencen quase se parece como uma romantização desse ensinamento que o californiano terá em reserva.
Enfim, Kammerflimmer Kollektief Remixed acumula pontos de interesse aconselháveis tão somente porque evita o narcisismo unilateral de um disco como aquele em que “Army of Me”, peça chave do Post que confirmou Björk, era remisturado ad nausea por gente a que provavelmente só a islandesa descobriu qualidades pertinentes de serem expostas num disco. Este será mais um daqueles aglomerados de remisturas que convence muito mais por influência dos pontos de chegada do que propriamente pelo ponto de partida.
migarsenio@yahoo.com
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