DISCOS
The Make Up
Untouchable Sound - Live
· 23 Ago 2006 · 08:00 ·
The Make Up
Untouchable Sound - Live
2006
Drag City / Sea Note / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Drag City / Sea Note
- AnAnAnA
Untouchable Sound - Live
2006
Drag City / Sea Note / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Drag City / Sea Note
- AnAnAnA
The Make Up
Untouchable Sound - Live
2006
Drag City / Sea Note / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Drag City / Sea Note
- AnAnAnA
Untouchable Sound - Live
2006
Drag City / Sea Note / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Drag City / Sea Note
- AnAnAnA
Por vontade própria ou por ventura atraiçoados por factores que os ultrapassaram enquanto activos, os Make Up constarão para a história da Washington pós-hardcore (via Dischord) como aquela glória local que reunia todas as condições para garantir a internacionalização, mas que, por motivos a conhecer de seguida, não integrou esse carril. Não terá sido por falta de talento ou empenho, ou muito menos por escassez de explosivos singles de peso, que o fervoroso Ian Svenonius e a sua turma não arrecadaram por parte da Europa o sólido estatuto de que gozam em território americano. Pode-se até acreditar que tal inabilidade se deve em parte à promoção que lhes foi garantida – na medida do possível - por labels onde surgiam parcialmente inadaptados. Provavelmente muitos se recordarão do olhar misterioso representado com glamour esbatido na capa de In Mass Mind, que lançou a Dischord em 1998, mas não terão sido assim tantos a decifrar-lhe de imediato o conteúdo. Tal estranheza não coincide com o carácter directamente incendiário do rock inebriado dos Make Up. Esse que soava a atípico ao lado de uma Dischord muito mais reservada que propriamente instigadora a excessos (ainda assim, os Make Up desbravaram caminho para os entretanto cessados Q and Not U) ou enquanto parte integrante do catálogo da K, que desde sempre cultiva um feeling muito próprio e bem mais secretista e caseiro do que aquele explorado pela banda liderada por Ian Svenonius. Os Make Up calçavam os sapatos negros aos deslocados que, por força de circunstâncias, estavam obrigados a dar provas da sua categoria fora de estúdio (onde sempre foram convincentes).
Por isso, faz sentido que a maior fatia de reputação armazenada pelos Make Up tenha sido acumulada através do confronto directo com o público, em palcos que necessitariam da dezena de centímetros de altura para, pelo menos, aspirarem a esse nome. E mesmo que o disco trate de ocultar a localização do concerto, ao reverter o andamento das palavras que partilha o Reverendo Ian antes de “Hey! Orpheus”, sabe-se que o concerto captado em Untouchable Sound ocorreu no The Black Cat Club, espaço de lotação limitada e pouca claridade de Washington - ou seja, habitat natural e propício a quem mais intensamente sua um rock sexualmente activo quando comprimido entre a carga hormonal do espaço. Mas o pecado mora ao lado. Justaposto ao lunático teor gospel com que Ian Svenonius baptiza – por abuso de uivos extasiados e plena fé na pontaria dos refrães – a quase programação robótica Devo “I Am Pentagon” ou na cavalgada aparatosa de “Save Yourself”. Sob pena de fracassar na sua evangelização, o gospel subversivo dos Make Up surge acompanhado por usufruições libertinas de soul e doo wop (em “The Bells”) e, nesta ocasião, pela guitarra mais ambiciosa e elaborada de um Alex Minoff que fez parte da banda na sua última formação. A coroar a celebração sucede-se uma curiosa e rara ocasião por altura da apropriação livre da tradicional “Wade in the Water”: Ian MacAye, patrão da Dischord e figura máxima da cena de Washington, cede à confrontação vocal com a sua nemesis mais debochada e junta-se a um refrão que é prova de que, mesmo que à distância de 20 anos dos Salad Days, esta gente continua a consolidar o espírito de união enraizada no hardcore – sob o pretexto de colaborações em discos mais obscuros ou, neste caso, por pura diversão. No fundo e atendendo ao que se escuta por aqui, a diversão será das mais valias que os Make Up continuam a proporcionar mesmo que à distância temporal de mais de cinco anos sobre a sua dissolução imposta na altura ideal para que esta não fosse mais uma daquelas intermináveis mortes dolorosas. Untouchable Sound deixa a visível relevo no epitáfio dos Make Up que cada um dos seus momentos em vida foi dispendido da melhor maneira.
Miguel ArsénioPor isso, faz sentido que a maior fatia de reputação armazenada pelos Make Up tenha sido acumulada através do confronto directo com o público, em palcos que necessitariam da dezena de centímetros de altura para, pelo menos, aspirarem a esse nome. E mesmo que o disco trate de ocultar a localização do concerto, ao reverter o andamento das palavras que partilha o Reverendo Ian antes de “Hey! Orpheus”, sabe-se que o concerto captado em Untouchable Sound ocorreu no The Black Cat Club, espaço de lotação limitada e pouca claridade de Washington - ou seja, habitat natural e propício a quem mais intensamente sua um rock sexualmente activo quando comprimido entre a carga hormonal do espaço. Mas o pecado mora ao lado. Justaposto ao lunático teor gospel com que Ian Svenonius baptiza – por abuso de uivos extasiados e plena fé na pontaria dos refrães – a quase programação robótica Devo “I Am Pentagon” ou na cavalgada aparatosa de “Save Yourself”. Sob pena de fracassar na sua evangelização, o gospel subversivo dos Make Up surge acompanhado por usufruições libertinas de soul e doo wop (em “The Bells”) e, nesta ocasião, pela guitarra mais ambiciosa e elaborada de um Alex Minoff que fez parte da banda na sua última formação. A coroar a celebração sucede-se uma curiosa e rara ocasião por altura da apropriação livre da tradicional “Wade in the Water”: Ian MacAye, patrão da Dischord e figura máxima da cena de Washington, cede à confrontação vocal com a sua nemesis mais debochada e junta-se a um refrão que é prova de que, mesmo que à distância de 20 anos dos Salad Days, esta gente continua a consolidar o espírito de união enraizada no hardcore – sob o pretexto de colaborações em discos mais obscuros ou, neste caso, por pura diversão. No fundo e atendendo ao que se escuta por aqui, a diversão será das mais valias que os Make Up continuam a proporcionar mesmo que à distância temporal de mais de cinco anos sobre a sua dissolução imposta na altura ideal para que esta não fosse mais uma daquelas intermináveis mortes dolorosas. Untouchable Sound deixa a visível relevo no epitáfio dos Make Up que cada um dos seus momentos em vida foi dispendido da melhor maneira.
migarsenio@yahoo.com
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