DISCOS
Tarentel
Ghost Weight EP
· 17 Jan 2006 · 08:00 ·

Tarentel
Ghost Weight EP
2004
Acuarela / Popstock!
Sítios oficiais:
- Tarentel
- Acuarela
- Popstock!
Ghost Weight EP
2004
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- Tarentel
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Esclareça-se de vez o seguinte: a familiaridade que se possa desenvolver com os discos dos Tarentel em pouco contribui para uma percepção lúcida da real dimensão dos mesmos. Encostar um nariz cusco à superfície nodosa de um específico itinerário Tarentel, na esperança de revelar instantaneamente enigmas, resulta subversivamente em miopia. Pistas há, em Ghost Weight, que levam a paisagens apáticas e ocas de palpabilidade (sem que isso signifique que esta seja uma passagem directa para o vazio). A síndrome da desorientação é, aliás, marca comum a toda a prolífica fase We Move Through Weather, o terceiro longa duração que conta com os EPs Big Black Square, Paper White (montanha-russa sensorial) e Ghost Weight como anexos complementares. Para se ter ideia do número de pretextos a convidar à deriva, bastaria avaliar a variedade de registos que o colectivo californiano conseguiu armazenar na limitada baliza temporal que tomaram as gravações de We Move Through Weather (trabalhado na transição de 2003 para 2004): o rol sonoro vai do adelgaçar de melodia de uns Stars of the Lid à manipulação experimental da Crónica ou Sirr, exemplares labels portuguesas. Talvez por ser o único dos quatro discos a não constar do catálogo da Temporary Residence, ou porque lhe cabe o papel de ovelha negra, Ghost Weight sobressai enquanto outsider do lote familiar. Mais que isso - é paradoxalmente auto-suficiente e co-dependente.
Será sobretudo uma dádiva velada, um disco-casulo que se encontra notoriamente indisposto a uma revelação prontificada ou a silogismos “b, a, ba” – ao ponto de quaisquer 3 minutos de We Move Through Weather declararem maior fatia da corporalidade Tarentel que os quase 30 minutos pertencentes a Ghost Weight. Por aqui encontram-se texturas dissimuladas extraídas a tabletops, que, debruçados em jeito de cismar colectivo, fazem das duas movimentações captadas em take directo maravilhosas demonstrações da arte da contenção. Sendo que essa é indubitavelmente a mais interessante e a que importa dissecar (a correspondente laboratorial é mera trivialidade).
Sem agravo nem aviso, a faixa-título decide-se prontamente a provocar a paciência (atributo de marca frequentemente apontado aos Tarentel) com uma evaporação estilizada do pós-rock tal como o conhecemos. Provocar através da obediência que vai sendo adquirida pelas guitarras diante de um metrónomo invariavelmente apontado à estagnação. Só mesmo os alemães Bohren und Der Club of Gore para destronar este andamento lesma. Todos os elementos expostos em “Ghost Weight” são conjugados com vista a trocar de lugar o latifúndio urbano e o manto estelar. Incumbida de concluir um disco temporalmente curto mas psicologicamente longo (outro paradoxo), “Every Possibility The Next Thing to a Certainty” depende da panóplia de meios sinistros – órgãos vintage e xilofone soterrado – para ensaiar aquele que será o tema de desfecho para um filme imaginário, tal como idealizado pelos Tarentel (e abruptamente perturbado pela bateria de Jim Redd). Beliscam a memória temas consanguíneos como o densamente non-sense “Strangers Die Everyday” dos Butthole Surfers ou os momentos mais circunspectos que Cliff Martinez compôs para o remake de Solari.
A evolução quase tântrica de Ghost Weight exige a perseverança própria dos castelos de cartas. Sendo que os trunfos equilibrados no topo desses sugerem inéditas leituras para We Move Through Weather ou Paper White (quando "white" nem é foneticamente distante de "weight"). Isto porque, comparativamente, as restantes partículas do período Weather adquirem um aspecto mais violento e frontal. Ficamos a saber que se confunde com convulsão impacto que suceda a convívio prolongado com a placidez da tundra. Isolado, Ghost Weight equivale a caminhada pelo deserto sem noção presente da gravidade. Contextualizado, é um oásis de discrição onde se encontram a banho de laptop os ruídos próprios da metrópole. Em qualquer um dos casos, sobra, para assombrar a última pessoa no mundo, a estranha sensação de que não está só.
Miguel ArsénioSerá sobretudo uma dádiva velada, um disco-casulo que se encontra notoriamente indisposto a uma revelação prontificada ou a silogismos “b, a, ba” – ao ponto de quaisquer 3 minutos de We Move Through Weather declararem maior fatia da corporalidade Tarentel que os quase 30 minutos pertencentes a Ghost Weight. Por aqui encontram-se texturas dissimuladas extraídas a tabletops, que, debruçados em jeito de cismar colectivo, fazem das duas movimentações captadas em take directo maravilhosas demonstrações da arte da contenção. Sendo que essa é indubitavelmente a mais interessante e a que importa dissecar (a correspondente laboratorial é mera trivialidade).
Sem agravo nem aviso, a faixa-título decide-se prontamente a provocar a paciência (atributo de marca frequentemente apontado aos Tarentel) com uma evaporação estilizada do pós-rock tal como o conhecemos. Provocar através da obediência que vai sendo adquirida pelas guitarras diante de um metrónomo invariavelmente apontado à estagnação. Só mesmo os alemães Bohren und Der Club of Gore para destronar este andamento lesma. Todos os elementos expostos em “Ghost Weight” são conjugados com vista a trocar de lugar o latifúndio urbano e o manto estelar. Incumbida de concluir um disco temporalmente curto mas psicologicamente longo (outro paradoxo), “Every Possibility The Next Thing to a Certainty” depende da panóplia de meios sinistros – órgãos vintage e xilofone soterrado – para ensaiar aquele que será o tema de desfecho para um filme imaginário, tal como idealizado pelos Tarentel (e abruptamente perturbado pela bateria de Jim Redd). Beliscam a memória temas consanguíneos como o densamente non-sense “Strangers Die Everyday” dos Butthole Surfers ou os momentos mais circunspectos que Cliff Martinez compôs para o remake de Solari.
A evolução quase tântrica de Ghost Weight exige a perseverança própria dos castelos de cartas. Sendo que os trunfos equilibrados no topo desses sugerem inéditas leituras para We Move Through Weather ou Paper White (quando "white" nem é foneticamente distante de "weight"). Isto porque, comparativamente, as restantes partículas do período Weather adquirem um aspecto mais violento e frontal. Ficamos a saber que se confunde com convulsão impacto que suceda a convívio prolongado com a placidez da tundra. Isolado, Ghost Weight equivale a caminhada pelo deserto sem noção presente da gravidade. Contextualizado, é um oásis de discrição onde se encontram a banho de laptop os ruídos próprios da metrópole. Em qualquer um dos casos, sobra, para assombrar a última pessoa no mundo, a estranha sensação de que não está só.
migarsenio@yahoo.com
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