A vida é feita destas pequenas maravilhas. Conheceram-se num festival numa pequena vila em França em Julho de 2015. Ali tocaram juntos pela primeira vez – com a peculiaridade de nunca antes se terem conhecido. Óbvio que as coincidências têm limites. Em 2014, Mark van den Bergh – um amigo próximo de Sly & Robbie – cruzou-se com Nils Petter Molvaer no Java Jazz Festival em Jacarta, Indonésia, e ali trocaram ideias e simpatias: enfim, os míticos da Jamaica admiravam o jazz de fusão de Nils desde o final dos anos 90 e Nils era acérrimo fã da dupla desde que estes davam corpo e alma aos Black Uhuru.

Após o sucesso da improvisada sessão ao vivo, ficaram impressões e desejos, e seguiram-se outras vivências, partilhas de amizade e sabedoria, e mais experiências em palco; uma filosofia musical germinou, uma que agora se concretiza num admirável disco em que o dub mais depurado e erudito conluie com o jazz abstracto e atmosférico; e ocasionalmente mundivisão – sentem-se os odores do Quarto Mundo de Jon Hassell em alguns recantos deste disco; sente-se a ancestralidade, a espiritualidade, a música do Homem ontem, hoje e amanhã.

Nesta música de fusão idealista, fusão de géneros, fusão de temperaturas, fusão de temperamentos, músicos de gerações diferentes, de latitudes tão distantes, há fiúza de eternidade. O mundo é pequeno. Sly & Robbie dão a base, o balanço rítmico hipnótico, a combinação magistral entre bateria e baixo; o norueguês Nils Petter Molvaer grita o seu ser e estar pelo trompete, assopra para controlar e atenuar os ventos frios do seu país – e mostrar uma vez mais que os nórdicos sabem bem acalentar. Nordub é um dos mais saudáveis choques térmicos musicais do ano.