Alberto Montero não nasceu ontem. Nem para a vida nem para a música. O espanhol leva mais de uma década a deixar semente de bom gosto e requinte. Mas agora Alberto Montero foi demasiado longe. Com La Catedral Sumergida, atirou uma pedra gigante para cima do charco e deixou-nos a todos – a todos os que assim quiserem – molhados.

La Catedral Sumergida é mais do que um disco; é uma obra. É um daqueles discos onde se consegue ver nitidamente uma unidade que não está ao alcance de todos. Em doze canções, Alberto Montero deu um salto na sua ambição que ninguém – a não ser ele – poderia prever. E este é, naturalmente, um dos grandes discos de 2018.

Entre a pop e a música barroca, entre o experimentalismo e a erudição, Alberto Montero criou um espaço que parece ser só seu. A beleza e a estranheza, a luz e a escuridão caminham aqui lado a lado, sem que o fosso que as separa seja visível. Entre arranjos sumptuosos de cordas e mil pianos, há quase que uma batalha entre o bem e o mal, a esperança e a desilusão, o futuro e o passado.

A carga dramática de La Catedral Sumergida é deliciosamente retro. Quase romântica, quase cinematográfica. Não é claramente a banda-sonora de um filme mas não nos espantaria nada se erguessem um a partir dele. Tal a sua humanidade, tal a urgência de uma obra destas agora. Neste preciso momento, este disco é a cura de todos os males.