Navegar é acto excêntrico dado ao inusitado. Partir em busca de algo que somente tem morada na mente de uma pessoa ou de um colectivo é precário como a vida. Neste nebuloso mas esperançoso estado, todos os sonhos são permitidos, tarefa alguma se afigura impossível ou inalcançável. Os descobrimentos provaram-no e, agora, em menor escala, se é que é possível comparar o alcance de uma criação, os The Baltic também provaram ser possível vencer tormentas e encontrarem a sua "Índia" com o seu mais recente Archpelago.

Saído de um desses sonhos, o novo EP destes norte-americanos de Denver parece saído de uma dessas viagens a um lugar mental, estranho e aparentemente incongruente, mas profundamente harmónico e belo. Cinco ilhas, tão reais como o mellotron ou a flauta japonesa que as ancoram a terra, em que a diversidade de paisagens que nos é permitido escutar – uma paisagem para ouvir de olhos bem fechados - nos apresentam a pergunta: “estaremos ainda no mesmo mundo?”. Sim, estamos. Pode parecer, e é, estranho ouvir Archipelago. Cinco ilhas, todas diferentes, que formam um conjunto seguro na diversidade (quantas metáforas caberiam aqui?). Se “San Francisco” tem sol na cara e um pop de boa digestão, “Fortitude”, fria e psicadélica, atira-nos para uma solidão gelada mas grotesca e dramaticamente boa, intensamente boa, enquanto a explosão etérea de “72 Hours” nos vai surpreendendo na cadência dos riffs e do arpejo monocromático de fundo, um portento de post-rock que não o chega, nem quer, ser.

Falam-nos da coerência como uma virtude. Sê-lo-á, certamente. Porém, vezes há em que fugir a essa coerência é sinónimo de evolução, de crescimento, de pensar sem grilhetas e criar sem limites. Os The Baltic não foram coerentes e com isso criaram um dos mais coerentes pedaços de música de 2016. Archipelago, quente como o Sahara e frio como o Árctico, são cinco individualidades distintas que se dissolvem numa majestosa e forte geringonça movida a dream rock.