DISCOS
Rui P. Andrade
s
· 21 Nov 2016 · 10:19 ·

Rui P. Andrade
s
2016
Colectivo Casa Amarela
Sítios oficiais:
- Rui P. Andrade
- Colectivo Casa Amarela
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2016
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- Rui P. Andrade
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Música?
O que é "música"? Como se pode definir "música"? Como uma série de melodias, ritmos? Algo tocado em instrumentos musicais? Onde se encaixa o noise na definição de "música"? É o seu oposto, o anti-conceito? Será que a definição de "música" como "som organizado" está correcta? E no que concerne ao som que não é organizado premeditadamente, como no caso dos field recordings, do canto dos pássaros, das extrapolações xamânicas ou religiosas de tribos perdidas que nem sequer têm um conceito de "música"?
Isto são tudo questões importantes, amplamente discutidas em dezenas de universidades e curtos de musicologia por esse mundo fora. Mas não só. Em cada casa ou tasca, em cada família ou grupo de amigos, haverá quem discuta se determinada peça é "música" ou não. Uma avó que ouça fado não considerará o heavy metal ou o techno como "música", por exemplo, sendo que deste lado a definição favorita para esses dois géneros é "música de colar merda na parede".
John Cage dizia que não existe ruído, apenas som - desta forma esticando a "música" não só a sequências de melodias mas a tudo o que é passível de ser escutado. Os Neubauten faziam "música" com barras de ferro e martelos pneumáticos. Merzbow explora o som com recurso a electrónica variada. O pimba, para muita gente, não é "música"; para outros tantos, artistas pop fabricados em programas de talentos também não fazem "música", mas dinheiro. E por aí fora, e por aí fora.
Onde se quer chegar com isto? A s, o último lançamento de Rui P. Andrade pelo Colectivo Casa Amarela. Chamar-lhe "álbum" daria, também, para uma prolongada discussão. s mais não é que uma gravação caseira de quase 50 minutos, feita às cinco horas e tal da manhã enquanto, explica, "todo o pretensiosismo do mundo vive dentro dele". É o relato sonoro daquilo que Rui P. Andrade fez durante esses 50 minutos, a essa hora, num qualquer dia passado. Uma gravação onde se tenta adivinhar o que se passa ou passou, espécie de reality show convertido em .mp3.
Como se avalia uma coisa assim, ou como procurar explicá-la? Dizendo que "é agradável aos ouvidos"? Ressalvando o interesse sociológico ou etnográfico? Mandando-o à merda porque "isto não é música", ou tecendo uma piada qualquer em torno da coisa? É que qualquer uma destas hipóteses poderia ser válida, visto que o conceito de "música" não está impresso num par de tabuletas de pedra. Já o de "som", esse está. E isto é som. Sem filtros, sem rumo. Mas é um som diferente; é um som que tem uma "ideia" por detrás. O que provoca nova questão: é a "música" todo o som ou conjunto de sons com uma "ideia" a ele acoplada?
A ideia aqui é a da depressão ou desespero após uma relação romântica falhada. Mais cru que isto não poderia ser; s é Rui P. Andrade despido para quem o quiser imaginar. Ele mesmo encara a gravação não como "um disco, mas como áudio enquanto meio de fuga" (do ser, da existência, do mundo ou do estado de espírito ali presente). s é o retrato de um homem despedaçado, colocado no mundo sem delongas. Só isso contribui para o seu interesse. Os menos aptos a dar-lhe uma chance poderão sempre ir ouvir "música a sério".
Paulo CecílioIsto são tudo questões importantes, amplamente discutidas em dezenas de universidades e curtos de musicologia por esse mundo fora. Mas não só. Em cada casa ou tasca, em cada família ou grupo de amigos, haverá quem discuta se determinada peça é "música" ou não. Uma avó que ouça fado não considerará o heavy metal ou o techno como "música", por exemplo, sendo que deste lado a definição favorita para esses dois géneros é "música de colar merda na parede".
John Cage dizia que não existe ruído, apenas som - desta forma esticando a "música" não só a sequências de melodias mas a tudo o que é passível de ser escutado. Os Neubauten faziam "música" com barras de ferro e martelos pneumáticos. Merzbow explora o som com recurso a electrónica variada. O pimba, para muita gente, não é "música"; para outros tantos, artistas pop fabricados em programas de talentos também não fazem "música", mas dinheiro. E por aí fora, e por aí fora.
Onde se quer chegar com isto? A s, o último lançamento de Rui P. Andrade pelo Colectivo Casa Amarela. Chamar-lhe "álbum" daria, também, para uma prolongada discussão. s mais não é que uma gravação caseira de quase 50 minutos, feita às cinco horas e tal da manhã enquanto, explica, "todo o pretensiosismo do mundo vive dentro dele". É o relato sonoro daquilo que Rui P. Andrade fez durante esses 50 minutos, a essa hora, num qualquer dia passado. Uma gravação onde se tenta adivinhar o que se passa ou passou, espécie de reality show convertido em .mp3.
Como se avalia uma coisa assim, ou como procurar explicá-la? Dizendo que "é agradável aos ouvidos"? Ressalvando o interesse sociológico ou etnográfico? Mandando-o à merda porque "isto não é música", ou tecendo uma piada qualquer em torno da coisa? É que qualquer uma destas hipóteses poderia ser válida, visto que o conceito de "música" não está impresso num par de tabuletas de pedra. Já o de "som", esse está. E isto é som. Sem filtros, sem rumo. Mas é um som diferente; é um som que tem uma "ideia" por detrás. O que provoca nova questão: é a "música" todo o som ou conjunto de sons com uma "ideia" a ele acoplada?
A ideia aqui é a da depressão ou desespero após uma relação romântica falhada. Mais cru que isto não poderia ser; s é Rui P. Andrade despido para quem o quiser imaginar. Ele mesmo encara a gravação não como "um disco, mas como áudio enquanto meio de fuga" (do ser, da existência, do mundo ou do estado de espírito ali presente). s é o retrato de um homem despedaçado, colocado no mundo sem delongas. Só isso contribui para o seu interesse. Os menos aptos a dar-lhe uma chance poderão sempre ir ouvir "música a sério".
pauloandrececilio@gmail.com
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