DISCOS
Yong Yong
Love
· 16 Abr 2013 · 23:25 ·
Yong Yong
Love
2013
Night School
Sítios oficiais:
- Night School
Love
2013
Night School
Sítios oficiais:
- Night School
Yong Yong
Love
2013
Night School
Sítios oficiais:
- Night School
Love
2013
Night School
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- Night School
This is not a love song.
Pense-se na música pop como uma metrópole: de um lado, à beira-mar, o glamour e a riqueza das grandes produções e das grandes editoras, avenidas onde o sol bate mais forte e as folhas das palmeiras esvoaçam por sobre as cabeças das loiras que passam, vestido salmão e poodle ao colo; no meio, nos bairros históricos, na movida, a juventude, punk ou grunge ou psych ou metaleira, cada qual com as suas idiossincrasias, mas mais próximos uns dos outros do que aquilo que julgam; e em locais específicos, sabe-se lá, um fanático por kösmiche no observatório astronómico, artistas mal pagos nas ruas destinadas à free improv e ao RIO, fanáticos por industrial no complexo militar, entre milhares, milhões de outros habitantes.
No caso dos Yong Yong, temos os mendigos e os sem-abrigo: circulam de rua em rua sem nunca se estabelecer em ponto algum, pobres mas livres, repescando tudo aquilo que os demais deitam fora para poder sobreviver um pouco mais, encontrando no lixo um ténue momento de uma felicidade triste. Love é exactamente isso, o amor pela vida, não comprada mas construída com as próprias mãos, a partir de cacos deixados pelas vielas, cacos dos Boards of Canada, de Aphex Twin, de Jacques Brel e até das Navegantes da Lua; cinquenta e três minutos de uma casa de cartão que um vento mais forte soprará mas que poderá ser reconstruída uma e outra e quantas vezes as necessárias.
Se se poderia pegar nos Yong Yong e dar-lhes um quarto e um emprego em condições? Poderia. Mas no que ao duo diz respeito a "pobreza" é uma escolha, quiçá inspirados pelo conceito de simplicidade voluntária, oriunda das suas ideologias políticas ou religiões ou outra coisa qualquer. Seria ético retirar os Yong Yong do local onde são felizes? Seria mais ético colocá-los dentro da máquina, quando é mais do que óbvio que não têm vontade nenhuma disso? É melhor deixá-los ser; enquanto continuaram a construir coisas como Love (especialmente a ternura electrónica de baixa fidelidade presente em "Spray", a arabesca "Escárnio Popular" ou a lágrima de infância contida em "Bzzzr"), nunca serão verdadeiramente pobres. Quem sabe, até mais ricos do que nós.
Paulo CecÃlioNo caso dos Yong Yong, temos os mendigos e os sem-abrigo: circulam de rua em rua sem nunca se estabelecer em ponto algum, pobres mas livres, repescando tudo aquilo que os demais deitam fora para poder sobreviver um pouco mais, encontrando no lixo um ténue momento de uma felicidade triste. Love é exactamente isso, o amor pela vida, não comprada mas construída com as próprias mãos, a partir de cacos deixados pelas vielas, cacos dos Boards of Canada, de Aphex Twin, de Jacques Brel e até das Navegantes da Lua; cinquenta e três minutos de uma casa de cartão que um vento mais forte soprará mas que poderá ser reconstruída uma e outra e quantas vezes as necessárias.
Se se poderia pegar nos Yong Yong e dar-lhes um quarto e um emprego em condições? Poderia. Mas no que ao duo diz respeito a "pobreza" é uma escolha, quiçá inspirados pelo conceito de simplicidade voluntária, oriunda das suas ideologias políticas ou religiões ou outra coisa qualquer. Seria ético retirar os Yong Yong do local onde são felizes? Seria mais ético colocá-los dentro da máquina, quando é mais do que óbvio que não têm vontade nenhuma disso? É melhor deixá-los ser; enquanto continuaram a construir coisas como Love (especialmente a ternura electrónica de baixa fidelidade presente em "Spray", a arabesca "Escárnio Popular" ou a lágrima de infância contida em "Bzzzr"), nunca serão verdadeiramente pobres. Quem sabe, até mais ricos do que nós.
pauloandrececilio@gmail.com
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