DISCOS
Laurel Halo
Quarantine
· 18 Mai 2012 · 16:00 ·
Laurel Halo
Quarantine
2012
Hyperdub
Sítios oficiais:
- Laurel Halo
- Hyperdub
Quarantine
2012
Hyperdub
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- Laurel Halo
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Laurel Halo
Quarantine
2012
Hyperdub
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Quarantine
2012
Hyperdub
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Álbum nascido numa zona cinzenta, eleva-se ligeiramente sobre os demais. Ligeiramente.
Não é necessário entrar pela militância Tumblr/Blogger para constatar que o buraco indie cheio de bandas de guitarrinha frágil em devoção afectada à xonice, está hoje muito mais dependente dos efeitos da música electrónica, no que a atenção diz respeito. Não deixa de ser uma zona de conforto demasiado conformista – e reaccionária, até – mascarada por um hipotético bom gosto que faz questão de habitar um limbo cabotino que não permita resvalar, ora para o nicho da música far out, ora para a aceitação massiva – com a cultura popular a uma certa distância, para manter um certo cinismo, já que a ironia não faz parte da agenda pós(?)-pós-moderna. E é nessa indecisão que a cena mais leftfield da música de dança tem vindo a escalar o top da Billboard indie – se este existisse, dar-me-ia razão.
Com aquela vaga noção de estranheza – que levou as gentes de Brooklyn ao stardom possível há uns 8 ou 9 atrás - a tornar-se uma prática comum, é normal que nomes nascidos no lamacento mundo das cassetes e dos concertos em pardieiros se tenham visto alvo de uma transversalidade algo estranha com as aproximações sucessivas à canção. Mesmo quando o talento está longe de ser o suficiente para essa prática quase miraculosa – e a referenciar legados mais ou menos esquecidos ou fechados como a cold wave, a house de Chicago, a Warp dos primeiros tempos e a pop sintética – enquanto espaço para a citação esperta – sem com isso sujar as mãos.
Podia-se pensar no percurso da Not Not Fun desde os seus primórdios até à criação da 100% Silk como cápsula destes movimentos laterais, mas para situar a Laurel Halo pode-se traçar um contínuo de senhoras como Stellar Om Source, Zola Jesus e Grimes – mais ou menos nesta ordem – para chegar até à essência contextual de Quarantine, sem grandes transtornos para qualquer uma das partes. Com a vantagem de que, em relação a estas duas últimas – mesmo com a influência tendencialmente benéfica da Kate Bush em comum – a Laurel Halo pareça ser uma exploradora mais incansável do som enquanto processo para as tais canções, ao invés de lhes chegar por uma via tentativa de aproximação. Com o conhecimento de causa da música electrónica nas suas vertentes mais expansivas – a kösmische desse grupo de viajantes que se encontrou em Frkwys vol. 7 - ou cerebrais – a IDM postulada em Hour Logic - Quarantine procura alinhar essas facetas em torno da tendência mais cancioneira de King Felix
Sendo que a passagem NNA / Hippos in Tanks / Hyperdub enquanto plataformas de edição acaba por resumir de modo bastante fidedigno essa realidade na trilogia cassete, 12”, álbum – respectivamente - Quarantine culmina essas experiências sem ser um disco grandioso. Não que haja algo de declaradamente errado nele – e atira com quase todas as edições circundantes para fora de água – mas sofre da habitual maleita em casos deste tipo que é a incapacidade gerar um campo harmónico memorável sobre esse manto de abstracção. O que, mesmo não sendo o objectivo primordial, acaba por cortar as pernas a alguns dos momentos de Quarantine : os arpejos de “MK Ultra” que refugiam uma melodia sonâmbula, até chegar a um refrão tendencialmente doce no contraste com o fundo sintético, sem nunca conseguir qualquer tipo de ressonância emocional – Pensem numa Morr Music em melhor, mas isso é pouco abonatório.
Algo que o ambiente opressivo de “Carcass” conseguiria atingir numa visão pós-noise do AFX circa 94 enredado com a distopia dos primeiros Autechre, mas que faz questão de se deixar intrometer por uma voz que ao tentar evocar a Liz Frasier no seio dessa maquinaria acaba por estar paredes meias com a Diamanda Galas – passe o exagero, o efeito não anda longe. Encaixada no meio de dois interlúdios, “Carcass” seria a inevitável peça-central não fosse este pormenor irritante. Como tal, e deixando de lado potenciais canções, os melhores momentos de Quarantine são deixados logo no início. “Airsick” com a batida soterrada e a profusão de sons a contaminarem uma canção onde um drone simula um reactor de avião, para chegar a um ponto onde os High Places seriam algo interessante se vivessem num ambiente urbano.
“Years” deambula sobre uma ambiente amniótico, com uma certa desorientação a persistir nas vozes que se vão revezando num efeito semelhante a “Convincing People” dos Throbbing Gristle se esta tivesse nascido num sonho. Em “Thaw” tudo tem aquela noção de dejá vu fixe, entre “Moments in Love” dos Art of Noise, a banda sonora do Twin Peaks e um separador de TV nocturno, a tentar ser canção através de uma voz processada. Voz, que é, em última análise, o grande entrave a Quarantine : não que se exigisse uma prestação cheia de melisma, mas quando todo o encanto possível do disco se perde assim que este acaba, é sinal que lhe faltou algum corpo que encarnasse a riqueza instrumental para algo mais tangível. Quem passa bem sem essas “exigências” é capaz de ver tudo isto com bons olhos. Quem quer algo que se aconchegue no cérebro só vai ficar com o vazio.
Bruno SilvaCom aquela vaga noção de estranheza – que levou as gentes de Brooklyn ao stardom possível há uns 8 ou 9 atrás - a tornar-se uma prática comum, é normal que nomes nascidos no lamacento mundo das cassetes e dos concertos em pardieiros se tenham visto alvo de uma transversalidade algo estranha com as aproximações sucessivas à canção. Mesmo quando o talento está longe de ser o suficiente para essa prática quase miraculosa – e a referenciar legados mais ou menos esquecidos ou fechados como a cold wave, a house de Chicago, a Warp dos primeiros tempos e a pop sintética – enquanto espaço para a citação esperta – sem com isso sujar as mãos.
Podia-se pensar no percurso da Not Not Fun desde os seus primórdios até à criação da 100% Silk como cápsula destes movimentos laterais, mas para situar a Laurel Halo pode-se traçar um contínuo de senhoras como Stellar Om Source, Zola Jesus e Grimes – mais ou menos nesta ordem – para chegar até à essência contextual de Quarantine, sem grandes transtornos para qualquer uma das partes. Com a vantagem de que, em relação a estas duas últimas – mesmo com a influência tendencialmente benéfica da Kate Bush em comum – a Laurel Halo pareça ser uma exploradora mais incansável do som enquanto processo para as tais canções, ao invés de lhes chegar por uma via tentativa de aproximação. Com o conhecimento de causa da música electrónica nas suas vertentes mais expansivas – a kösmische desse grupo de viajantes que se encontrou em Frkwys vol. 7 - ou cerebrais – a IDM postulada em Hour Logic - Quarantine procura alinhar essas facetas em torno da tendência mais cancioneira de King Felix
Sendo que a passagem NNA / Hippos in Tanks / Hyperdub enquanto plataformas de edição acaba por resumir de modo bastante fidedigno essa realidade na trilogia cassete, 12”, álbum – respectivamente - Quarantine culmina essas experiências sem ser um disco grandioso. Não que haja algo de declaradamente errado nele – e atira com quase todas as edições circundantes para fora de água – mas sofre da habitual maleita em casos deste tipo que é a incapacidade gerar um campo harmónico memorável sobre esse manto de abstracção. O que, mesmo não sendo o objectivo primordial, acaba por cortar as pernas a alguns dos momentos de Quarantine : os arpejos de “MK Ultra” que refugiam uma melodia sonâmbula, até chegar a um refrão tendencialmente doce no contraste com o fundo sintético, sem nunca conseguir qualquer tipo de ressonância emocional – Pensem numa Morr Music em melhor, mas isso é pouco abonatório.
Algo que o ambiente opressivo de “Carcass” conseguiria atingir numa visão pós-noise do AFX circa 94 enredado com a distopia dos primeiros Autechre, mas que faz questão de se deixar intrometer por uma voz que ao tentar evocar a Liz Frasier no seio dessa maquinaria acaba por estar paredes meias com a Diamanda Galas – passe o exagero, o efeito não anda longe. Encaixada no meio de dois interlúdios, “Carcass” seria a inevitável peça-central não fosse este pormenor irritante. Como tal, e deixando de lado potenciais canções, os melhores momentos de Quarantine são deixados logo no início. “Airsick” com a batida soterrada e a profusão de sons a contaminarem uma canção onde um drone simula um reactor de avião, para chegar a um ponto onde os High Places seriam algo interessante se vivessem num ambiente urbano.
“Years” deambula sobre uma ambiente amniótico, com uma certa desorientação a persistir nas vozes que se vão revezando num efeito semelhante a “Convincing People” dos Throbbing Gristle se esta tivesse nascido num sonho. Em “Thaw” tudo tem aquela noção de dejá vu fixe, entre “Moments in Love” dos Art of Noise, a banda sonora do Twin Peaks e um separador de TV nocturno, a tentar ser canção através de uma voz processada. Voz, que é, em última análise, o grande entrave a Quarantine : não que se exigisse uma prestação cheia de melisma, mas quando todo o encanto possível do disco se perde assim que este acaba, é sinal que lhe faltou algum corpo que encarnasse a riqueza instrumental para algo mais tangível. Quem passa bem sem essas “exigências” é capaz de ver tudo isto com bons olhos. Quem quer algo que se aconchegue no cérebro só vai ficar com o vazio.
celasdeathsquad@gmail.com
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