St. Thomas - ou Thomas Hansen, ex-carteiro que viu as suas gravações caseiras chegarem ao topo da tabela de vendas na Noruega – deu o salto internacional numa altura em que muito se falava de um certo dinamismo nas terras do bacalhau e onde, desde os idos do séc. XIX até há bem pouco tempo, pouco mais se conhecia no campo da música do que o clássico Grieg. Mas em boa hora o fez, não só porque soube aproveitar toda uma máquina promocional a trabalhar para si, mas também porque teve a sorte de aterrar (depois de assinar pela Racing Junior, onde ganhou reconhecimento) na City Slang, editora conotada com o country-folk alternativo mais badalado dos últimos anos. Esse contrato proporcionou uma digressão Europeia conjunta com os Lambchop, que passou em Portugal, no Paradise Garage, com uma não muito saudosa primeira parte para os autores de “Is a Woman�.

“I’m Coming Home� é o segundo disco a solo de St. Thomas, uma viagem num cosmos sonoro que está associada à tradição norte-americana e que dela retira grande parte da sua essência. Um cowboy em Oslo pode parecer estranho, mas é uma realidade tão assente que este disco é apenas uma prova singela. Afinal de contas, vivemos na era da comunicação e a globalização não atinge apenas a política e a economia. Somos influenciados por aquilo que vemos e ouvimos. Claro que a individualidade e personalidade de cada um é ainda quem dita o futuro nos pequenos nichos independentes. Se Thomas Hansen ouviu Neil Young quando era novo, e está mais do que provado em canções como “Goodbye Emily Lang� e “Strangers out of Blue� que o fez, porque não subverter dele os aromas de uma música que testemunha reconhecimento e paixão? Porque não retirar elementos ao passado, mesmo que de culturas diferentes, para uma melhor substância sonora no presente?

Nem nada disto é verdadeiramente novo, nem Thomas Hansen fez tudo sozinho. No suporte encontrava-se o projecto Bjorhaug 49'ers, que conferiu ao álbum uma quota parte da sua apetência acústica. Os temas mostram uma escrita simples, mais preocupada com um simplicidade honesta que com melodias complexas. Sem serem largamente variados, são-no na dose suficiente para deixar fluir sentimentos e índoles confessionais. A guitarra é um instrumento que contribui para realçar todo este imaginário rural americano, bem espelhado em grande parte das músicas. A espaços faz-nos ouvintes melancólicas, mas sempre ardentes por uma revigoração atrevida que sabe a optimismo.

“I’m Coming Home� é pois uma casa reconfortante, bem protegida das chuvas do Inverno e com um calor que sabe a Verão. A decoração é por vezes fria e desprovida de sentido afectuoso, mas consegue fazer-nos habitantes periódicos pelo hábito que nos imprime. Eis St. Thomas, numa casa norueguesa, sem certeza.