DISCOS
V/A
Sofrito: Tropical Discotheques
· 20 Jul 2011 · 12:27 ·
V/A
Sofrito: Tropical Discotheques
2011
Strut Records


Sítios oficiais:
- V/A
- Strut Records
V/A
Sofrito: Tropical Discotheques
2011
Strut Records


Sítios oficiais:
- V/A
- Strut Records
O ritmo perfeito do mundo está algures por aqui.
A paixão pela música faz destas coisas. Que o diga Hugo Mendez que de um mero DJ fascinado pela cena garage britânica – como tantos outros –, transformou-se num dos mentores e organizadores dos admiráveis eventos temáticos chamados Sofrito. Muito semelhante ao movimento inicial do acid-jazz em que DJ como Gilles Peterson, Patrick Forge ou Norman Jay estavam na linha da frente na criação de eventos onde o jazz e a música latina comungavam um público ávido de outras experiências sonoras, também estas festas organizadas pelo colectivo Sofrito almejam proporcionar estados que não passem pelas idiossincrasias da típica noite londrina e a sua sobeja club scene. Tudo começou em 2005 com essa tal necessidade de uma alternativa. Foi nesse ano que humildemente arrancaram as primeiras festas. No início foram velhas lojas, lofts e armazéns a acolher o evento. Os contrastes com grandes e organizados clubes eram óbvios, mas nem eram os cenários simples, simples do Sofrito que encantavam o público; o elemento chave predominante era o espírito singular de celebração da vida, do mundo. Os primeiros Sofrito tropical discotheques eram eventos rústicos, amiúde com meios logísticos improvisados na hora. Rústicos mas com objectivos bem definidos no que à música dizia respeito.

Privilegiando a música latina com forte predominância africana, os DJs Hugo Mendez, Frankie Francis e The Mighty Crime Minister, juntamente com o ilustrador Lewis Heriz, foram ao longo destes últimos seis anos não só aumentando a envergadura organizacional e respectivo sucesso das suas festas, bem como o seu tal espírito celebrante, exportando para outras latitudes um renovado conceito, contagiando cada vez mais foliões em busca de um escape aos ritmos habituais da noite. E colectivo Sofrito tem sabido não só cruzar o perfume vintage dos clássicos – que ainda hoje possuem um desejo de imortalidade – com produções actuais que esforçam-se por recriar o melhor possível o espírito e a tradição dos velhos e feitos mestres da América Latina.

Uma das provas flagrantes do crescimento do fenómeno de Sofrito tropical discotheque passa pelo número digno de gente que tem vindo a colaborar nos diversos eventos; gente como Will Holland (Quantic), Souljazz Orchestra, Nickodemus, The Poets of Rhythm, Tropical Treats Soundsystem, Natural Self ou Nostalgia 77, juntamente com um conjunto significativo de músicos oriundos do Gana, Nigéria, Cuba, Venezuela ou Colômbia, já subiram aos palcos Sofrito para mostrar a sua arte e a sua maneira de estar na vida.

Outra prova passa pela igualmente crescente actividade da Sofrito como plataforma editorial onde velhos clássicos, hoje praticamente perdidos no tempo e no espaço, são recuperados e editados. Tem sido o caso dos diversos EPs (com espaço suficiente nos Super Singles para edits) e da antologia com o apoio da Strut intitulada Sofrito: Tropical Discotheque, um espantoso exemplo de ecletismo onde novos e velhos convivem sem preconceitos com a novidade. Aqui se cruzam a Banda Los Hijos De La Niña Luz (1980) e Quantic (2010) ou Adolfo Echevarria (1978) e El Timba (2007). Assim se cruzam coordenadas de procedências distintas da América Latina (altamente contagiada pela África subsaariana) que mantêm uma familiaridade comum que se julga (frequentemente) indistinta quando a atenção anda mergulhada na perdição da redundância. Numa roda-viva andam a cumbia e o primo vallenato, o samba, a soca, o calipso, a salsa, dub… e Deus lá sabe da restante graça que distribuiu no Caribe.

Hugo Mendez, Frankie Francis e The Mighty Crime Minister prometeram a transposição do espírito das festas para este CD. Nunca será como estar fisicamente presente, é óbvio, mas o fascínio é garantido pela contagiante alegria e festividade de vida de todas estas superiores lições de criatividade composicional, dinamismo, calor e energia colectiva. É uma das colectâneas a descobrir numa altura que sabe bem mudar de ares, mudar até a própria música que se escuta insistentemente durante o ano. Altamente aconselhável para quem almeja desentupir os canais habituais atulhados de colesterol sonoro que apenas entorpecem a vivacidade do coração.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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