DISCOS
Sei Miguel e Pedro Gomes
Turbina Anthem
· 26 Mai 2011 · 10:43 ·
Sei Miguel e Pedro Gomes
Turbina Anthem
2011
No Business
Sítios oficiais:
- No Business
Turbina Anthem
2011
No Business
Sítios oficiais:
- No Business
Sei Miguel e Pedro Gomes
Turbina Anthem
2011
No Business
Sítios oficiais:
- No Business
Turbina Anthem
2011
No Business
Sítios oficiais:
- No Business
Um hivemind tão gratificante quanto incomensurável.
Tendo em conta o papel de relevo que os nomes de Sei Miguel e Pedro Gomes ocupam no panorama musical de todo o lado (menos e mais recente, respectivamente), acaba por se tornar desnecessário referenciar novamente todo um percurso tão rico quando toda essa informação de pendor meramente biográfico é (ou deveria ser) tão abundante. Seria criar (ainda mais) ruído distrativo da singularidade de um disco como Turbina Anthem. Nem tanto pela sua formação invulgar que põe em contacto sensorial a guitarra de Pedro Gomes com o já mítico pocket trumpet de Sei Miguel, mas pelo facto (sim, facto) de tratar de um algo a pisar território ainda por cartografar, mas com muita música dentro dele.
Como seria, até certo ponto, esperado, tendo em conta aquilo que se lhes reconhece, mas confundindo essas mesmas expectativas por força da sua existência truncada nos cerca de três anos que mediaram a sua gravação desta edição na No Business. Acto único e irrepetível que não pede qualquer conceito ao Metal Music 4 (referenciando uma formação comum, nascida posteriormente) e vive de um contínuo idiossincrático entre dois músicos em comunicação e que tiveram aqui o seu primeiro contacto dialogante com a música um do outro.
Sem uma conjectura objectiva que sustente algum tipo de comparação, Turbina Anthem é daqueles tratados de comunhão bicéfala que se encontram em happenings tão especiais como o concerto do Don Cherry com o Ed Blackwell no Moers Jazz Festival, o Mass Projection do Kaoru Abe com o Masayuki Takaynagi ou os encontros do Evan Parker com o Derek Bailey. Meras directrizes espirituais para um disco libertário que não é de jazz, como seria tentador apelidar (erro crasso para tudo aquilo que tem sopros), nem de bluegrass como a editora proclamou em surdina. Mesmo que a folk/country/blues/gospel o assombrem. Toda a música pura, isto é.
Espelhada de modo mais vincado, na espinha dorsal de Turbina Anthem constituída pelas cinco partes de “The Pale Star”, onde o fraseado mais lírico do Sei Miguel, feito de uma languidez imperturbável, encontra a guitarra desviante do Pedro Gomes num dedilhado acústico que nunca cede a uma rotina fingerpicking, mas carrega toda a poeira que isso possa implicar. Beleza em suspensão, num contraponto siamês com a fodidez eléctrica de uma guitarra que mastiga essa fixação telúrica num ranger nervoso de notas que nunca resvalam para o ruído bruto, algures entre o abandono da “Radio Friendly Unit Shifter”, a falsa contenção de algum Keiji Haino e o triturar de A Little Teatrise on Morals do Donald Miller.
Preside a tudo isto uma lógica interna cuja dinâmica é partilhada em todos os gestos/movimentos, evitando o call and response formal, com vista a uma espontaneidade que atira de tal modo com um gajo para dentro de todo este processo (continuamente intrigante) que nem vale a pena estar a racionalizar muito tudo aquilo que acabou de lhe bater. Turbina Anthem é um disco notável que se revela a si próprio, sem forçar qualquer auto-indulgência alienante na sua intransigência apaixonante. Chegue-se-lhe vazio e o deslumbramento (ou a repulsa de um mindframe mais frágil) será o mesmo. Tudo o resto é conversa de quem passa demasiado(?) tempo a pensar nestas merdas. Mesmo que por necessidade.
Bruno SilvaComo seria, até certo ponto, esperado, tendo em conta aquilo que se lhes reconhece, mas confundindo essas mesmas expectativas por força da sua existência truncada nos cerca de três anos que mediaram a sua gravação desta edição na No Business. Acto único e irrepetível que não pede qualquer conceito ao Metal Music 4 (referenciando uma formação comum, nascida posteriormente) e vive de um contínuo idiossincrático entre dois músicos em comunicação e que tiveram aqui o seu primeiro contacto dialogante com a música um do outro.
Sem uma conjectura objectiva que sustente algum tipo de comparação, Turbina Anthem é daqueles tratados de comunhão bicéfala que se encontram em happenings tão especiais como o concerto do Don Cherry com o Ed Blackwell no Moers Jazz Festival, o Mass Projection do Kaoru Abe com o Masayuki Takaynagi ou os encontros do Evan Parker com o Derek Bailey. Meras directrizes espirituais para um disco libertário que não é de jazz, como seria tentador apelidar (erro crasso para tudo aquilo que tem sopros), nem de bluegrass como a editora proclamou em surdina. Mesmo que a folk/country/blues/gospel o assombrem. Toda a música pura, isto é.
Espelhada de modo mais vincado, na espinha dorsal de Turbina Anthem constituída pelas cinco partes de “The Pale Star”, onde o fraseado mais lírico do Sei Miguel, feito de uma languidez imperturbável, encontra a guitarra desviante do Pedro Gomes num dedilhado acústico que nunca cede a uma rotina fingerpicking, mas carrega toda a poeira que isso possa implicar. Beleza em suspensão, num contraponto siamês com a fodidez eléctrica de uma guitarra que mastiga essa fixação telúrica num ranger nervoso de notas que nunca resvalam para o ruído bruto, algures entre o abandono da “Radio Friendly Unit Shifter”, a falsa contenção de algum Keiji Haino e o triturar de A Little Teatrise on Morals do Donald Miller.
Preside a tudo isto uma lógica interna cuja dinâmica é partilhada em todos os gestos/movimentos, evitando o call and response formal, com vista a uma espontaneidade que atira de tal modo com um gajo para dentro de todo este processo (continuamente intrigante) que nem vale a pena estar a racionalizar muito tudo aquilo que acabou de lhe bater. Turbina Anthem é um disco notável que se revela a si próprio, sem forçar qualquer auto-indulgência alienante na sua intransigência apaixonante. Chegue-se-lhe vazio e o deslumbramento (ou a repulsa de um mindframe mais frágil) será o mesmo. Tudo o resto é conversa de quem passa demasiado(?) tempo a pensar nestas merdas. Mesmo que por necessidade.
celasdeathsquad@gmail.com
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