DISCOS
Roska / Lil Silva
Rinse Presents: Roska / Night Slugs
· 21 Jun 2010 · 19:49 ·
Roska / Lil Silva
Rinse Presents: Roska / Night Slugs
2010
Rinse / Night Skanker
Sítios oficiais:
- Rinse
Rinse Presents: Roska / Night Slugs
2010
Rinse / Night Skanker
Sítios oficiais:
- Rinse
Roska / Lil Silva
Rinse Presents: Roska / Night Slugs
2010
Rinse / Night Skanker
Sítios oficiais:
- Rinse
Rinse Presents: Roska / Night Slugs
2010
Rinse / Night Skanker
Sítios oficiais:
- Rinse
Tomar o pulso à UK Funky através de dois dos maiores nomes da cena.
Se, enquanto género, ainda não foi reconhecida à UK Funky a relevância de algo como o Dubstep (neste momento, com uma vivência dormente), muito se deve ao facto de “insistir” numa recusa constante de plataformas de divulgação mais amplas. Remetido para o universo das rádios de cariz urbano-cool como a Rinse ou a rafeira Deja-Vu (nomes a reter: Marcus Nasty e Funkystepz) e festas com cartazes onde o mau gosto impera. Existe, indubitavelmente, um apelo comercial na “fórmula” diva + house via caribe que preside a uma parte da cena (e o mulherio agradece), mas tem faltado um meio mediático que permita ao restante público (literato e pouco dado a formatos marginais) um acesso facilitado. A crítica insiste em virar a cara. Culpe-se, em parte, o Simon Reynolds pela cegueira, mas enquanto não existir uma acepção crítica de todo este entusiasmo (há braços no ar para “Hey Hey”, mas isso é insuficiente) as gentes de “bom gosto” teimam em remeter a dança enquanto hedonismo a merdas (é propositado) completamente irrelevantes, como o electro e quejandos mais ou menos virados para a estética heroin chic tão em voga nos anos 90.
Todo este fluxo criativo tem, ainda assim, visto um ou outro nome a ser reconhecido fora deste espectro. A explicação mais óbvia prende-se, até certo ponto, ora pela relevância que o produtor tivera no passado (gente vinda do Grime, Bassline, etc), demarcando-se de uma identidade, sem com isso cortar o cordão umbilical que o liga a todo este processo, ora pelo modo singular de atrair um público dado a sons mais agrestes ou cerebrais. Especulando, reside neste factor a explicação para que uma meia dúzia de produtores consiga granjear alguma atenção fora do meio. Imiscuídos por entre nomes vindos do Dubstep como Kode 9 (“Black Sun” foi claramente uma tentativa intelectualizada de aproximação ao fervor dançável) ou Cooly G, tanto o Roska como o Lil Silva parecem atrair para si diferentes tribos da electrónica made in UK, sem com isso afastarem o mulherio. Há que pensar nelas.
A subsistência tem, no entanto, de passar por edições que vão para além dos formatos acima citados, e o álbum será, inevitavelmente, o último recurso para as massas europeias (mesmo compreendendo que não se vendem discos). Até agora, apenas o Geeneus e os Crazy Cousinz tiveram direito a esse “privilégio”. Tendo em conta a aceitação generalizada tanto do Lil Silva como do Roska, é de modo natural que sejam os próximos na linha de montagem. E com a edição de um 12” de Ill Blu na Hyperdub e do muito aguardado álbum da Katy B (com produções do Geeneus e do Zinc) para breve, a profissionalização do género parece começar a tomar forma. Algo que foi, a dado ponto necessário a um género como o Grime.
Com o apoio da Rinse (como não poderia deixar de ser), a estreia em álbum do Roska vem confirmar aquilo que os anteriores EP's fariam prever. Vem também revelar que as debilidades do formato álbum num género muito habituado às pistas de dança. A longa duração nem sempre será uma opção viável e a abertura com “Tomorrow is Today” é disso mesmo exemplo. Partindo de um modo directo do legado deixado em aberto pelo UK Garage, arrasta-se ao longo de uns desnecessários nove minutos, quando era exigida alguma contenção. Boas ideias, como o sample de violino, que se perdem como já acontecia, por exemplo, na “Our Father” (que seria com alguma edição um tema brilhante).
Rinse Presents: Roska é revelador de uma diversidade que muito dificilmente se lhe reconhecia tendo em conta as suas últimas produções em piloto-automático. Contendo alguns temas já conhecidos como “Wonderful Day” com o Jamie George ou “Hey Cutie”, apresenta algumas novidades e mostra o produtor a afastar-se das síncopes ríspidas do passado para abraçar uma maior variedade de propostas. Estas, tanto passam pela aproximação à deep house de “Energy” com a presença da Nikki (que cantou em “Emotions” do Geeneus com o Zinc), como pela dança lounge de resquícios R'n'B de “Love 2 Night”. São estes, a par do limbo entre conforto e tensão de “I Need Love”, os momentos a reter de uma estreia equilibrada, mas demasiado longa para que o torpor não se instale.
Não que os restantes temas estejam despidos de virtudes, mas comparativamente a outros nomes do género parecem faltar ao Roska ideias que desenvolvam os temas para além do seu próprio nicho. Estranhamente, descontextualizados do álbum, os temas parecem até resultar melhor. O cansaço já há muito que se instalara. Ainda assim, torna-se impossível não reconhecer qualidades na sua abordagem singular. Uma transversalidade que permite a coabitação saudável de um parente de “Wad” de Pearson Sound (pseudónimo Funky de Ramadanman) como “Squark” com o 4/4 intrigante de “Messages”.
Não sendo, de todo, um falhanço, Rinse Presents: Roska acaba mesmo por ir de encontro às expectativas criadas, na medida em que muito dificilmente alguém poderia esperar que um álbum funcionasse na perfeição. Agradecesse-lhe a existência, mas esperam-se por obras maiores. Não está aqui um marco do género.
Sem grande aparato, a edição de Night Skanker do Lil Silva tem a vantagem do formato reduzido permitir que não haja espaço para o aborrecimento. Dos seis temas contidos, apenas dois deles tiveram direito a um air play mais generalizado. Tanto “Seasons” como “Pulse Vs. Flex” são antémicos. O primeiro é também a malha onde a marca autoral do Lil Silva se confirma no seguimento de produções tão essenciais como “Burning” ou “Something”. Batida metálica de nervo grimey e uma linha de sintetizador tão insistente quanto viciante. Já “Pulse Vs. Flex” é sequência de “Tribal Dream”, descartando a melodia e assentando no rufar de tarola de cariz marcial.
“Against Yaself” conjuga estas duas vertentes em algo que soa próximo do kwaito, se coberto pelo smog e fosforescência nocturna. “Golds to Get” é R'n'B escorregadio a 130 bpm, com espaço para um sample vocal fractalizado e uma bonita linha de cordas sintetizadas na ponte. Curiosamente, “Night Skanker” aproxima-se até do hi-tech minimalista do Roska com os tiques europeus do Geeneus, mas constitui o momento mais irrelevante do EP. Em sentido contrário, “Perfussion” é uma fantasia carnavalesca que consegue a proeza de transportar o calor caribenho para o som marcadamente sintético do Lil Silva, através da melodia descendente da parte central, sem recorrer a soluções mais óbvias de tropicalismo como o uso de pianolas lounge ou percussão latina.
Existe na música do DJ londrino toda uma tensão latente no modo como as melodias insistem num falso crescendo constante, que dá todo um seguimento lógico ao Grime circa 2002/03 de maravilhas como a “R U Double F” ou “Gotta Man” numa estética Funky. É nesse mesmo campo fértil que o Lil Silva se move com notável elegância e personalidade, onde alguém como o Apple (que tem estado misteriosamente silencioso) se repete constantemente. Enquanto cartão de visita, Night Skanker cumpre o seu papel na perfeição, deixando pistas de um futuro para a UK Funky que, inevitavelmente, terá em Lil Silva um dos nomes mais importantes para crescer. Se possível, fora de redutos.
Bruno SilvaTodo este fluxo criativo tem, ainda assim, visto um ou outro nome a ser reconhecido fora deste espectro. A explicação mais óbvia prende-se, até certo ponto, ora pela relevância que o produtor tivera no passado (gente vinda do Grime, Bassline, etc), demarcando-se de uma identidade, sem com isso cortar o cordão umbilical que o liga a todo este processo, ora pelo modo singular de atrair um público dado a sons mais agrestes ou cerebrais. Especulando, reside neste factor a explicação para que uma meia dúzia de produtores consiga granjear alguma atenção fora do meio. Imiscuídos por entre nomes vindos do Dubstep como Kode 9 (“Black Sun” foi claramente uma tentativa intelectualizada de aproximação ao fervor dançável) ou Cooly G, tanto o Roska como o Lil Silva parecem atrair para si diferentes tribos da electrónica made in UK, sem com isso afastarem o mulherio. Há que pensar nelas.
A subsistência tem, no entanto, de passar por edições que vão para além dos formatos acima citados, e o álbum será, inevitavelmente, o último recurso para as massas europeias (mesmo compreendendo que não se vendem discos). Até agora, apenas o Geeneus e os Crazy Cousinz tiveram direito a esse “privilégio”. Tendo em conta a aceitação generalizada tanto do Lil Silva como do Roska, é de modo natural que sejam os próximos na linha de montagem. E com a edição de um 12” de Ill Blu na Hyperdub e do muito aguardado álbum da Katy B (com produções do Geeneus e do Zinc) para breve, a profissionalização do género parece começar a tomar forma. Algo que foi, a dado ponto necessário a um género como o Grime.
Com o apoio da Rinse (como não poderia deixar de ser), a estreia em álbum do Roska vem confirmar aquilo que os anteriores EP's fariam prever. Vem também revelar que as debilidades do formato álbum num género muito habituado às pistas de dança. A longa duração nem sempre será uma opção viável e a abertura com “Tomorrow is Today” é disso mesmo exemplo. Partindo de um modo directo do legado deixado em aberto pelo UK Garage, arrasta-se ao longo de uns desnecessários nove minutos, quando era exigida alguma contenção. Boas ideias, como o sample de violino, que se perdem como já acontecia, por exemplo, na “Our Father” (que seria com alguma edição um tema brilhante).
Rinse Presents: Roska é revelador de uma diversidade que muito dificilmente se lhe reconhecia tendo em conta as suas últimas produções em piloto-automático. Contendo alguns temas já conhecidos como “Wonderful Day” com o Jamie George ou “Hey Cutie”, apresenta algumas novidades e mostra o produtor a afastar-se das síncopes ríspidas do passado para abraçar uma maior variedade de propostas. Estas, tanto passam pela aproximação à deep house de “Energy” com a presença da Nikki (que cantou em “Emotions” do Geeneus com o Zinc), como pela dança lounge de resquícios R'n'B de “Love 2 Night”. São estes, a par do limbo entre conforto e tensão de “I Need Love”, os momentos a reter de uma estreia equilibrada, mas demasiado longa para que o torpor não se instale.
Não que os restantes temas estejam despidos de virtudes, mas comparativamente a outros nomes do género parecem faltar ao Roska ideias que desenvolvam os temas para além do seu próprio nicho. Estranhamente, descontextualizados do álbum, os temas parecem até resultar melhor. O cansaço já há muito que se instalara. Ainda assim, torna-se impossível não reconhecer qualidades na sua abordagem singular. Uma transversalidade que permite a coabitação saudável de um parente de “Wad” de Pearson Sound (pseudónimo Funky de Ramadanman) como “Squark” com o 4/4 intrigante de “Messages”.
Não sendo, de todo, um falhanço, Rinse Presents: Roska acaba mesmo por ir de encontro às expectativas criadas, na medida em que muito dificilmente alguém poderia esperar que um álbum funcionasse na perfeição. Agradecesse-lhe a existência, mas esperam-se por obras maiores. Não está aqui um marco do género.
Sem grande aparato, a edição de Night Skanker do Lil Silva tem a vantagem do formato reduzido permitir que não haja espaço para o aborrecimento. Dos seis temas contidos, apenas dois deles tiveram direito a um air play mais generalizado. Tanto “Seasons” como “Pulse Vs. Flex” são antémicos. O primeiro é também a malha onde a marca autoral do Lil Silva se confirma no seguimento de produções tão essenciais como “Burning” ou “Something”. Batida metálica de nervo grimey e uma linha de sintetizador tão insistente quanto viciante. Já “Pulse Vs. Flex” é sequência de “Tribal Dream”, descartando a melodia e assentando no rufar de tarola de cariz marcial.
“Against Yaself” conjuga estas duas vertentes em algo que soa próximo do kwaito, se coberto pelo smog e fosforescência nocturna. “Golds to Get” é R'n'B escorregadio a 130 bpm, com espaço para um sample vocal fractalizado e uma bonita linha de cordas sintetizadas na ponte. Curiosamente, “Night Skanker” aproxima-se até do hi-tech minimalista do Roska com os tiques europeus do Geeneus, mas constitui o momento mais irrelevante do EP. Em sentido contrário, “Perfussion” é uma fantasia carnavalesca que consegue a proeza de transportar o calor caribenho para o som marcadamente sintético do Lil Silva, através da melodia descendente da parte central, sem recorrer a soluções mais óbvias de tropicalismo como o uso de pianolas lounge ou percussão latina.
Existe na música do DJ londrino toda uma tensão latente no modo como as melodias insistem num falso crescendo constante, que dá todo um seguimento lógico ao Grime circa 2002/03 de maravilhas como a “R U Double F” ou “Gotta Man” numa estética Funky. É nesse mesmo campo fértil que o Lil Silva se move com notável elegância e personalidade, onde alguém como o Apple (que tem estado misteriosamente silencioso) se repete constantemente. Enquanto cartão de visita, Night Skanker cumpre o seu papel na perfeição, deixando pistas de um futuro para a UK Funky que, inevitavelmente, terá em Lil Silva um dos nomes mais importantes para crescer. Se possível, fora de redutos.
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