Este disco apresenta um inusitado duelo: de um lado está o saxofone, a procurar caminhos, às apalpadelas; do outro, está um fio electrónico, às vezes quase estático. O fio de electricidade vem da guitarra, atordoada pelos pedais de efeitos, amansada. O saxofone parece inseguro, procura o seu caminho, às voltas, contido, mas incrivelmente expressivo; às vezes repete-se, em camadas sobrepostas do mesmo trecho. Saxofone e guitarra são aqui um exemplo de boa vizinhança, sem atropelos, sem confronto, entrelaçam-se sem choques, numa disputa amigável, sem faltas duras nem entradas violentas.

No saxofone (e também piano) está Yasuaki Shimizu, que conta no curriculum vitae colaborações com gente como Ryuchi Sakamoto, Towa Tei, Bill Laswell e os The Orb. Do outro lado está David Cunningham (guitarra, pedais, kalimba) - membro dos Flying Lizards, produtor do primeiro disco dos This Heat, colaborador de Michael Nyman e de Ute Lemper, entre outros. Apesar destas colaborações, os dois músicos aqui envolvidos não são propriamente conhecidos, mas o trabalho desenvolvido neste disco merecerá a atenção por parte dos melómanos mais atrevidos.

Gravado no dia a seguir ao Natal de 2004, este disco regista os melhores momentos de uma actuação ao vivo no SuperDeluxe, Tóquio. A música é estranhamente ambiental, com laivos de improvisação contida - como se Brian Eno desse dois tabefes a Peter Brötzmann e o obrigasse a soprar no saxofone tenor sem estrilho. Por vezes a música entra em círculos, como na última faixa, que chega a ser hipnótica. No resto do tempo ouve-se uma estranha combinação sonora, um magnetismo improvável, uma preciosa comunhão religiosa do acústico com o eléctrico.