DISCOS
Lindstrom & Prins Thomas
II
· 13 Jul 2009 · 18:09 ·
Lindstrom & Prins Thomas
II
2009
Eskimo Recordings


Sítios oficiais:
- Lindstrom & Prins Thomas
- Eskimo Recordings
Lindstrom & Prins Thomas
II
2009
Eskimo Recordings


Sítios oficiais:
- Lindstrom & Prins Thomas
- Eskimo Recordings
Segundo take de uma singular jornada idealizada algures entre a areia escaldante das praias de Ibiza e os confins do cosmos.
Já com o registo debutante da dupla norueguesa se tinha ficado com uma clara idéia das capacidades enquanto produtores, sobretudo no poder de síntese do passado, na conjugação das coordenadas do disco, do house, da pop e do rock em intermitente estado psicadélico e a ambição de uma linguagem de autor que – tanto a solo como dupla – desde a primeira hora fizeram questão de demonstrar.

Volvidos três anos, Lindstrom e Prins Thomas retomam as coordenadas finais do álbum homônimo, aprofundando o espírito libertino que o povoou, para agora neste segundo tomo demonstrarem – ou talvez provarem em definitivo – que a música pode e deve ser erguida com um conceito onde a liberdade criativa seja a verdadeira força motriz capaz de mover cenicamente toda a acção. E será nessa fricção entre o conceptual e a liberdade de acção que se encontra a mais-valia desta segunda operação.

Presunção não falta em II, na forma como Lindstrom e Thomas exibem mais um punhado de referências. Tal como no primeiro de originais é na confluência de todas elas que a vitalidade brota com harmonia. É na forma como todas as idéias convivem na respiração compassada entre ritmos – cada vez mais distantes da cadência tradicional do disco –, as melodias baleáricas – a sonhar com o Verão – e o psicadelismo elequentemente contido entre as estrelas mais distantes do cosmos que tudo fermenta. Afinal a postura perfeccionista dos seus autores assim o obriga.

II não é um disco habitual. Mas é daqueles que possui tudo o que antes já havíamos escutado. É orgânico, relaxante, harmonioso, amiúde meloso (sem resvalar para o foleiro) e que não desmente retóricas, sabendo que é na inteligente consistência da sua massa sonora que reside o engenho que proporcionará o prazer do ouvinte.

Tudo começa com o onírico «Cisco», um inevitável ponto de ligação com as deambulações space-disco de 2006 (e a generalidade da obra individual de cada um dos membros deste projecto), prosseguindo em diante com a exploração da pop, do krautrock ou o rock progressivo (Pink Floyd é um dos nomes que vêem á cabeça em «For Ett Slikk Og Ingenting») enquanto os elementos electrónicos (à la Moroder) unem tudo num coerente e constante corpo sonoro repleto de substância. Por perto mantêm-se o espírito festivo do funk e as reminiscências disco-sound. Tudo como se sentisse um fervoroso desejo de proximidade entre a praia relaxante durante o pôr-do-sol e o mais movimentado clube da galáxia.

Nada haverá por aqui que nos possa remeter para o kitsch que tanto amargurou o disco dos anos 1970. E apesar de alguma desta música se tornear entre as lantejolas e o doce perfume retro que se reflecte na bola de espelhos, o que há entre a simplicidade de algumas composições é a vontade de desenvolver a gramática da melódica cósmica como absoluta necessidade de evolução criativa, mesmo quando não se quer inventar nada. E havendo pontualmente arranjos menos imediatos, não demorará a criar-se uma afinidade pelo ambiente etéreo provocado por alguma poeira estelar brilhante que poderá tardar a completa assimilação em ouvidos menos treinados. Mas com algum empenho e anelo, depressa se concluirá até que ponto este disco é essencial na música deste ano de 2009. Mais um mimo.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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