Uwe Schmidt, ou Atom Heart, ou Señor Coconut, ou Atom TM. Venha o diabo e escolha qual destas encarnações a melhor. Neste Liedgut, Uwe regressa em força numa releitura da melhor ambiente robótica de sempre, passando o comboio mental pelas estações de Raymond Scott, Morton Subotnick, Kraftwerk, até chegar a ele próprio, Uwe. E que melhor lugar para dar azo a abrir o livro? No centro da melhor electrónica mundial: o laboratório Raster Noton.

Liedgut a passo e passo, entra-nos pelos tímpanos a conjugar com mestria os silêncios e os estalidos estáticos de baixas e altas frequências, criando um mundo à parte, humano apenas na óptica do utilizador. Há por aqui parafrenália quase alienígena. Robots de cozinhas de outra galáxia ou de sondas espaciais, robots de casa lunar inteira a aspirarem e a limparem o pó, telemóveis terrestres que tocam, alarmes, bypass e muitas, muitas interferências. Música que a cada segundo surge para nos relembrar que a composição do mundo tem um lado quente, orgânico, perecível, e que por oposição tem um lado B, sintético, artificial, digital, frio, eterno. Com belos exemplos por cortesia de Uwe.

Liedgut é pois então, dado a sua artificialidade, um objecto sem prazo de validade, ou se o tem, será de séculos, música abstracta de elevador para centros comerciais onde robots, cyborgs e suas famílias passeiam aos Domingos. Enquanto anda aí a brincar aos passados com Señor Coconut, por agora, está cada vez mais longe no futuro este átomo marca registrada.