DISCOS
Maria João e Mário Laginha
Undercovers
· 02 Jan 2003 · 08:00 ·
Maria João e Mário Laginha
Undercovers
2002
Universal


Sítios oficiais:
- Maria João e Mário Laginha
- Universal
Maria João e Mário Laginha
Undercovers
2002
Universal


Sítios oficiais:
- Maria João e Mário Laginha
- Universal
A génese dos acontecimentos leva-nos até 1995. É desde essa data que Nuno Artur Silva, amigo comum de Maria João e Mário Laginha, tentava convencer a dupla a gravar um disco de versões. 2002 assinala o ano em que essa ideia se materializa, num disco cheio de músicas deliciosamente pop. O jazz, afinal, pode ficar de lado por um bocadinho.

O duo já se encontra junto à algum tempo e desde 1994 editaram em conjunto "Danças", "Cor", "Chorinho Feliz" e "Mumadji", mas a colaboração entre os dois já é antiga. Mário Laginha, o músico prodígio que acabou o conservatório com nota máxima e no sexto concurso de Braga classificou-se em 2º lugar, obteve o prémio Bach e o prémio Teresa Vieira, já fazia parte do quinteto de Maria João em 1983 no disco "Quinteto Maria João". Desde que a dupla se encontra "sozinha" já abraçaram diversificados estilos musicais e "Undercovers" representa um mergulho certeiro em águas pop - há pouca gente a fazer versões como as que aqui vemos.

O discurso do método diz que devemos começar pelo princípio: consideremos como príncipio o pacote que acompanha o disco. Na capa e contracapa vemos Maria João e Mário Laginha com a cara pintada de preto, ela com os lábios vermelhos, ele totalmente escuro. No título, escondido lateralmente do lado direito a amarelo, vemos "Undercovers" (covers + undercovered), e no interior temos versões das mais variadas cançonetas pop, disfarçadas com um lado mais jazzy. O público não deveria ignorar nem passar ao lado das músicas que aqui se encontram. Como sempre, os mais distraídos vão passar sem reparar no disco, e os disfarces neste caso até ajudam.

Ao todo são 16 temas, de Tom Waits aos Beatles, da Dave Matthews Band a Alejandro Sanz, dos Beach Boys a Björk onde Maria João e Mário Laginha aplicam os conhecimentos que adquiriram ao longo de anos. Ela, adapta-se na perfeição a cada tema, desde o rap de "O quereres" (Caetano Veloso), à voz quase infantil de "Esse seu olhar" (Tom Jobim), passando pelo rock de "We'll Be Just Beginning" (Dave Matthews Band). Ele, tirou as músicas todas de ouvido e para elas fez orquestraçãos que em muito as dignificam e as tornam em apetitosos pedaços musicais. Juntemos depois Alexandre Frazão na bateria, Miguel Ferreia na programação, Yuri Daniel no baixo, Helge Norbakken na percussão e Mário Delgado na guitarra e ficamos com um conjunto de músicos que, felizmente, não consegue tocar mal.

Os dois temas de Tom Waits presentes, "Tom Traubert's Blues" e "Take me Home", conseguem retractar a essência e o mundo de Waits sobre novos prismas de forma deliciosa e a música "Blackbird" dos Beatles aparece aqui com elementos africanos. Maria João em "Unravel" consegue confundir a sua voz com a cantora da versão original - Bjõrk, "Both Sides Now" de Joni Mitchell era essencial pois foi aquela cantora que despontou Maria João para a música, "Love Is the Seventh Wave" de Sting surge com um arranjo formidável e contagioso com coros masculinos por detrás. No clássico dos Beach Boys, "God Only Knows", a nova versão acaba por sair menos "brilhante" que a original, e em "Córazon Partío" de Alejandro Sanz, a dupla faz a música mais jazz de todo o disco. Alguma polícia da cultura soube logo classificar como "dispensável" este tema, mais preocupada com o nome do artista do que coma versão final em si.

O formato pode estar gasto, mas o resultado é compensador. Fala-se num novo disco de versões da dupla, para depois do novo álbum de originais. Ficamos à espera.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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